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O QUE É A 4ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - E COMO ELA DEVE AFETAR NOSSAS VIDAS

 * Valeria Perasso
 * Da BBC

22 outubro 2016

Crédito, Thinkstock

Legenda da foto, Os sistemas ciberfísicos capazes de se comunicar entre si e com
os humanos estão no centro da revolução em ascensão.

No final do século 17 foi a máquina a vapor. Desta vez, serão os robôs
integrados em sistemas ciberfísicos os responsáveis por uma transformação
radical. E os economistas têm um nome para isso: a quarta revolução industrial,
marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas.

Eles antecipam que a revolução mudará o mundo como o conhecemos. Soa muito
radical? É que, se cumpridas as previsões, assim será. E já está acontecendo,
dizem, em larga escala e a toda velocidade.

"Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente
a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e
complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano
tenha experimentado antes", diz Klaus Schwab, autor do livro A Quarta Revolução
Industrial, publicado este ano.

 * As vantagens e desvantagens dos métodos de preparo de café

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A industrialização mudará de uma maneira radical e, com ela, o
universo do emprego

Os "novos poderes" da transformação virão da engenharia genética e das
neurotecnologias, duas áreas que parecem misteriosas e distantes para o cidadão
comum.

No entanto, as repercussões impactarão em como somos e como nos relacionamos até
nos lugares mais distantes do planeta: a revolução afetará o mercado de
trabalho, o futuro do trabalho e a desigualdade de renda. Suas consequências
impactarão a segurança geopolítica e o que é considerado ético.

 * Quem são os 41 milhões de pobres do país mais rico do mundo
 * Por que é tão difícil investigar e comprovar corrupção no Brasil e no mundo

Então de que se trata essa mudança e por que há quem acredite que se trata de
uma revolução?

O importante, destacam os teóricos da ideia, é que não se trata de um
desdobramento, mas do encontro desses desdobramentos. Nesse sentido, representa
uma mudança de paradigma e não mais uma etapa do desenvolvimento tecnológico.

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"A quarta revolução industrial não é definida por um conjunto de tecnologias
emergentes em si mesmas, mas a transição em direção a novos sistemas que foram
construídos sobre a infraestrutura da revolução digital (anterior)", diz Schwab,
diretor executivo do Fórum Econômico Mundial e um dos principais entusiastas da
"revolução".

"Há três razões pelas quais as transformações atuais não representam uma
extensão da terceira revolução industrial, mas a chegada de uma diferente: a
velocidade, o alcance e o impacto nos sistemas. A velocidade dos avanços atuais
não tem precedentes na história e está interferindo quase todas as indústrias de
todos os países", diz o Fórum.

Também chamada de 4.0, a revolução acontece após três processos históricos
transformadores. A primeira marcou o ritmo da produção manual à mecanizada,
entre 1760 e 1830. A segunda, por volta de 1850, trouxe a eletricidade e
permitiu a manufatura em massa. E a terceira aconteceu em meados do século 20,
com a chegada da eletrônica, da tecnologia da informação e das telecomunicações.

Crédito, Hulton Archive

Legenda da foto, A primeira revolução industrial deu origem à produção
mecanizada graças a novidades como o motor a vapor

Agora, a quarta mudança traz consigo uma tendência à automatização total das
fábricas - seu nome vem, na verdade, de um projeto de estratégia de alta
tecnologia do governo da Alemanha, trabalhado desde 2013 para levar sua produção
a uma total independência da obra humana.

A automatização acontece através de sistemas ciberfísicos, que foram possíveis
graças à internet das coisas e à computação na nuvem.

Os sistemas ciberfísicos, que combinam máquinas com processos digitais, são
capazes de tomar decisões descentralizadas e de cooperar - entre eles e com
humanos - mediante a internet das coisas.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O que acontecerá com o emprego?

O que vem por aí, dizem os teóricos, é uma "fábrica inteligente".
Verdadeiramente inteligente. O princípio básico é que as empresas poderão criar
redes inteligentes que poderão controlar a si mesmas.

Os números econômicos são impactantes: segundo calculou a consultora Accenture
em 2015, uma versão em escala industrial dessa revolução poderia agregar 14,2
bilhões de dólares à economia mundial nos próximos 15 anos.

No Fórum Mundial de Davos, em janeiro deste ano, houve uma antecipação do que os
acadêmicos mais entusiastas têm na cabeça quando falam de Revolução 4.0:
nanotecnologias, neurotecnologias, robôs, inteligência artificial,
biotecnologia, sistemas de armazenamento de energia, drones e impressoras 3D.

Mas esses também serão os causadores da parte mais controversa da quarta
revolução: ela pode acabar com cinco milhões de vagas de trabalho nos 15 países
mais industrializados do mundo.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, No Fórum Mundial de Davos, em janeiro passado, a quarta
revolução industrial foi a estrela do debate


REVOLUÇÃO PARA QUEM?

Os países mais desenvolvidos adotarão as mudanças com mais rapidez, mas os
especialistas destacam que as economias emergentes são as que mais podem se
beneficiar.

A quarta revolução tem o potencial de elevar os níveis globais de rendimento e
melhorar a qualidade de vida de populações inteiras, diz Schwab. São as mesmas
populações que se beneficiaram com a chegada do mundo digital - e a
possibilidade de fazer pagamentos, escutar e pedir um táxi a partir de um
celular antigo e barato.

Obviamente, o processo de transformação só beneficiará quem for capaz de inovar
e se adaptar.

 * Como a rainha da Inglaterra ganha dinheiro?
 * Por que às vezes temos a sensação de cair quando estamos adormecendo?

Crédito, Thinkstock

Legenda da foto, Um esquema da internet das coisas (IoT, em inglês) sobre a qual
essa transformação se apoia

"O futuro do emprego será feito por vagas que não existem, em indústrias que
usam tecnologias novas, em condições planetárias que nenhum ser humano já
experimentou", diz David Ritter, CEO do Greenpeace Austrália/Pacífico em uma
coluna sobre a quarta revolução industrial para o jornal britânico The Guardian.

E os empresários parecem entusiasmados - mais que intimidados - pela magnitude
do desafio, uma pesquisa aponta que 70% têm expectativas positivas sobre a
quarta revolução industrial.

Ao menos esse é o resultado do último Barômetro Global de Inovação, uma pesquisa
que compila opiniões de mais de 4.000 líderes e pessoas interessadas nas
transformações em 23 países.

Ainda assim, a distribuição regional é desigual e os mercados emergentes da Ásia
são os que estão adotando as transformações de uma forma mais intensa que os de
economias mais desenvolvidas.

"Ser disruptivo é o padrão modelo para executivos e cidadãos, mas continua sendo
um objetivo complicado de se colocar em prática", reconhece o estudo.


OS PERIGOS DO CIBERMODELO

Nem todos veem o futuro com otimismo: as pesquisas refletem as preocupações de
empresários com o "darwinismo tecnológico", onde aqueles que não se adaptam não
conseguirão sobreviver.

E se isso acontece a toda velocidade, como dizem os entusiastas da quarta
revolução, o efeito pode ser mais devastador que aquele gerado pela terceira
revolução.

Crédito, Thinkstock

Legenda da foto, A revolução terá que criar uma nova relação entre pessoas e
robôs. No entanto, por trás disso há dilemas éticos e sociais a resolver, dizem
os críticos.

"No jogo do desenvolvimento tecnológico, sempre há perdedores. E uma das formas
de desigualdade que mais me preocupa é a dos valores. Há um risco real de que a
elite tecnocrática veja todos as mudanças que vêm como uma justificativa de seus
valores", disse à BBC Elizabeth Garbee, pesquisadora da Escola para o Futuro da
Inovação na Sociedade da Universidade Estatal do Arizona (ASU).

"Esse tipo de ideologia limita muito as perspectivas que são trazidas à mesa na
hora de tomar decisões (políticas), o que por sua vez aumenta a desigualdade que
vemos no mundo hoje", diz.

"Considerando que manter o status quo não é uma opção, precisamos de um debate
fundamental sobre a forma e os objetivos desta nova economia", diz Ritter, que
considera que deve haver um "debate democrático" em relação às mudanças
tecnológicas.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Os mercados emergentes da Ásia estão na vanguarda da quarta
revolução, dizem os especialistas

Por um lado, há quem desconfie de que se trata de uma quarta revolução: é certo
que as mudanças são muitas e profundas, mas o conceito foi usado pela primeira
vez em 1940 em um documento de uma revista de Harvard intitulado A Última
Oportunidade dos Estados Unidos, que trazia um futuro sombrio para avanço da
tecnologia e seu uso representa uma "preguiça intelectual", diz Garbee.

Outros, mais pragmáticos, alertam que a quarta revolução só aumentará a
desigualdade na distribuição de renda e trará consigo todo tipo de dilemas de
segurança geopolítica.

O mesmo Fórum Econômico Mundial reconhece que "os benefícios da abertura estão
em risco" por causa de medidas protecionistas, especialmente barreiras não
tarifárias do comércio mundial que foram exacerbadas desde a crise financeira de
2007: um desafio que a quarta revolução deverá enfrentar se quiser entregar o
que promete.

"O entusiasmo não é infundado, essas tecnologias representam avanços
assombrosos. Mas o entusiasmo não é desculpa para a ingenuidade e a história
está infestada de exemplos de como a tecnologia passa por cima dos marcos
sociais, éticos e políticos que precisamos para fazer bom uso dela", diz Garbee.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Angela Merkel em uma fábrica de robôs: para a Alemanha, a
revolução 4.0 é uma prioridade

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