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Jornalismo


O QUE É A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS E COMO ELA PODE SER USADA NA
RECOMPOSIÇÃO DE APRENDIZAGENS


AO BUSCAR SOLUÇÕES PARA PROBLEMAS REAIS, RELACIONAR CONHECIMENTOS DE DIFERENTES
ÁREAS E TRABALHAR COM COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS, ESSA METODOLOGIA PODE SER
UMA ALIADA DOS EDUCADORES

PorNairim Bernardo

05/05/2022

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Foto: Getty Images

A necessidade de fortalecer a autonomia e o protagonismo dos estudantes e de
formar cidadãos críticos e participativos tem sido uma demanda da educação
atualmente. Na prática, tais aspectos, endossados também pela Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), podem ser trabalhados em sala de aula por meio da
Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP). Trata-se de uma metodologia ativa que
coloca os alunos no centro do processo de ensino e aprendizagem e da busca de
soluções para problemas reais, preferencialmente, relacionados à sua vivência.

A ideia central da ABP é envolver os estudantes em um projeto, que pode durar
semanas ou meses, partindo de um problema ou uma necessidade concreta para que
eles construam soluções de maneira criativa e colaborativa, resultando em um
produto final. Como um dos objetivos é que eles possam agir de fato, e não ficar
apenas nas discussões teóricas, o ideal é que seja algo o mais próximo possível
da realidade dos alunos – isto é, alguma questão da comunidade escolar, do
bairro ou da cidade.

“A Aprendizagem Baseada em Projetos pode ser pensada como uma estratégia
pedagógica abrangente, um guarda-chuva que engloba várias outras metodologias
ativas que o professor vai usar de acordo com o objetivo de cada etapa do
projeto. Ao longo da proposta, ele pode utilizar a rotação por estações, a sala
de aula invertida, a gamificação e incentivar as discussões entre os colegas”,
diz Aline Geraldi, formadora de professores e consultora da NOVA ESCOLA.

Metodologias Ativas: Ensino Híbrido e Aprendizagem Baseada em Projetos

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PARA COMEÇAR A TRABALHAR COM A METODOLOGIA

Ainda que muitos professores já trabalhem com projetos, para que essa
metodologia seja de fato ativa é preciso considerar de onde parte a
investigação, ou seja, qual é a situação-problema, quem deseja encontrar
soluções para ela e de que modo. Para José Moran, doutor em Comunicação e autor
de livros sobre metodologias ativas, modelos híbridos e tecnologias digitais, o
professor tem de sair do modelo de projeto com o qual está acostumado e
experimentar novas possibilidades. “É claro que o docente deve planejar, mas
precisa ser flexível, conversar e negociar com os alunos. O projeto não é uma
tarefa dada pelo professor para [se obter] uma nota final, mas algo do
estudante. Sempre que eu perguntava as ideias dos alunos, acabava mudando as
minhas.” 

Se o projeto é sobre algo que está acontecendo no próprio entorno do aluno, a
expectativa é de que seja significativo e gere vontade de participação.
Entretanto, é preciso cuidado para escolher o tema, de modo que ele realmente
resulte em discussões instigantes e na busca por soluções. “Para iniciar um
projeto, primeiro os estudantes precisam trocar ideias. O processo de discussão
e comparação de propostas leva tempo, e é muito importante que seja longo para
amadurecer. Planejar bem faz com que o projeto se valorize. Não precisa partir
da primeira ideia e já entregar um resultado logo”, comenta. 

Uma das potencialidades da utilização da ABP, principalmente quando relaciona
diferentes componentes curriculares e áreas do conhecimento, é levar os alunos a
compreender que o conhecimento não é fragmentado e o que aprendem na escola pode
ter uma aplicação concreta na sociedade. “Projetos interdisciplinares podem
abrir a mentalidade dos estudantes para valorizar as diferentes áreas do
conhecimento e, consequentemente, os professores valorizam as diferentes
aptidões e habilidades dos alunos”, ressalta Aline. 

Para que isso aconteça, é necessário que a gestão escolar apoie as iniciativas e
ofereça formações e tempo para que os professores construam os projetos em
parceria. Segundo José Moran, há três formas de organizar projetos dentro da
escola. A primeira é por iniciativa de cada professor, para deixar suas aulas
mais ativas dentro de seu componente curricular. A segunda é integrar várias
áreas do conhecimento e trabalhar colaborativamente com outros professores.
Quando a escola já tem experiência nas duas etapas anteriores, é possível
organizar projetos que incluem toda a escola, com os alunos divididos em grupos
para trabalhar em um grande coletivo.

Especial Metodologias Ativas

A Nova Escola conversou com especialistas e professores para tirar todas as
dúvidas sobre o tema e apresentar exemplos práticos que irão ajudá-lo a
incorporar essas estratégias no seu planejamento

confira as reportagens


ABP NO CONTEXTO DA RECOMPOSIÇÃO DE APRENDIZAGENS

Em 2022, um dos principais desafios dos professores tem sido planejar e
desenvolver ações para a recomposição de aprendizagens e a organização do
continuum curricular – a possibilidade de as escolas oferecerem em um único ano
as habilidades previstas para serem desenvolvidas em dois. Muitos educadores
estão buscando estratégias para superar dificuldades novas ou que se
intensificaram durante a pandemia. Nesse sentido, a Aprendizagem Baseada em
Projetos pode contribuir e muito. 

Na volta ao modelo presencial, os professores perceberam a necessidade de
reforçar o trabalho com as competências socioemocionais, uma vez que o período
pandêmico fragilizou a saúde mental e emocional de muitas crianças, adolescentes
e adultos. Esse trabalho também pode ser relacionado à recomposição de
aprendizagens. 

“Quando você envolve os alunos em um projeto, também trabalha as habilidades
socioemocionais. Eles ficaram muito tempo sem interagir com os colegas, e na ABP
é essencial a cooperação entre pares”, explica Aline. Ela recomenda que os
professores organizem grupos heterogêneos para que os estudantes colaborem uns
com os outros e aprendam juntos. As habilidades de aprendizagem prioritárias
podem ser incluídas ao longo das etapas do projeto. 

Os professores também precisam estar atentos para não desprezar a prática com a
tecnologia adquirida durante o ensino remoto. Como a ABP compreende várias
metodologias ativas, as tecnologias digitais podem ser associadas ao trabalho
analógico. Em casa ou na escola, os estudantes podem realizar pesquisas,
compartilhar materiais digitais, conversar com pessoas de outros lugares (como
especialistas no tema do projeto), registrar as discussões do grupo em um mural
digital e propor produtos também digitais.

Como o intuito é que os alunos sejam incluídos em todas as etapas do projeto,
eles devem ser convidados a participar da avaliação, que também deve ser
construída de modo coletivo. “Geralmente, o professor gosta que o estudante
escreva, e isso é importante, mas podem ser usadas outras formas de expressão,
como apresentação oral e registros em vídeo. No caso de projetos que envolvem
várias turmas, uma pode avaliar a outra”, aponta José.

Considerando o atual momento, os professores podem incentivar a elaboração de
projetos e a busca por soluções de problemas relacionados à pandemia. “Alguns
países têm uma visão mais institucional da aprendizagem em serviço, que é
aprender para contribuir com a comunidade. Isso, no Brasil, acontece muito na
área da saúde, mas não em outras áreas. A escola pode começar a mudar essa
realidade”, destaca o especialista.

Ensino Híbrido e Recomposição da Aprendizagem

Entenda como funciona essa metodologia ativa, como ela ajuda a engajar os
estudantes e pode colaborar na recomposição de aprendizagens.

leia mais aqui


NA PRÁTICA: UM PROJETO SOBRE O BAIRRO DA ESCOLA

Kalina Elis Leitão, professora de Ciências Humanas e Matemática do 5º ano na EE
Brasílio Machado, na capital paulista, conta que no início do ano a equipe fez
um planejamento anual, recebeu formações acerca das habilidades a serem
trabalhadas com os alunos no 1º bimestre e pensou em estratégias e metodologias
ativas, como a ABP, para utilizar nas aulas. Segundo ela, os projetos são
planejados com propósitos relevantes para a vida em comunidade e junto com as
necessidades de aprendizagem, sendo parte integrante do currículo.

A escolha dos projetos segue critérios como relevância social e ambiental,
possibilidade de implementação e comum acordo entre alunos e professores.
Considerando isso, a turma decidiu investigar aspectos do bairro onde se
localiza a escola. “Estamos envolvidos com as questões sociais e ambientais da
Vila Madalena. Percebemos que sofremos constantemente com alagamentos, e isso
nos instiga a procurar soluções”, relata a professora.

Denominado “Vila Madalena: eu atuando nesse espaço”, o projeto atravessou o 1º e
o 2º bimestre de 2022 e incluiu diversas etapas. Primeiro, a professora Kalina e
outros professores de Arte e Ciências da Natureza se reuniram para estudar quais
habilidades iriam trabalhar, promovendo a união de Arte, História, Geografia e
Ciências. Depois, os alunos foram orientados a pesquisar e escolher temas
sociais sobre o bairro. As temáticas selecionadas coletivamente foram arte,
história, ecoponto, urbanização e rios encanados.

“Arte porque o Beco do Batman [viela conhecida por seus grafites coloridos] tem
um mural que evoca muitas interpretações do bairro e da vida social. História
porque precisamos descobrir a origem desse bairro para compreender como ele se
constitui hoje. Ecoponto pois sabemos que há um ponto de descarte de materiais
recicláveis próximo à escola e queremos reciclar nosso lixo e destiná-lo a esse
local. Urbanização pois o bairro tem casas antigas, prédios modernistas, vielas,
ruas de paralelepípedos e muitos bares que investem na variedade
étnico-cultural. E rios devido à existência de três rios encanados que passam
por baixo da Vila Madalena. Por estarem abaixo do asfalto, eles emergem com
chuvas torrenciais”, explica Kalina, que dirigiu o projeto.

Ao longo das semanas de realização das propostas, algumas metodologias ativas
foram utilizadas. Na sala de aula invertida, os alunos realizaram pesquisas
online. Já na rotação por estações, dividiram-se para compartilhar suas
pesquisas, estudar aspectos do bairro, levantar hipóteses para a investigação e
procurar mais materiais, como documentários, vídeos e músicas. Com base nessa
pesquisa, foi elaborado um roteiro com perguntas para as quais deviam buscar
respostas em saídas pelas ruas do bairro.

Recomposição de Aprendizagem

A NOVA ESCOLA preparou uma série de reportagens e cursos gratuitos que visam
auxiliar os educadores na identificação de defasagens e na construção de
estratégias para recompor, priorizar e impulsionar habilidades essenciais.

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OBJETIVOS, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO

As outras etapas do projeto ainda não foram colocadas em prática, mas o
planejamento inclui uma ida a pé ao Beco do Batman para a realização de
entrevistas e registros. Depois, a ideia é convidar artistas grafiteiros para
irem até a escola e levarem os estudantes para contribuir com pinturas nos muros
do Beco. Outro objetivo do projeto é construir uma relação com as cooperativas
de reciclagem do bairro e destinar parte do lixo da escola para o ecoponto.
Também pretende-se reivindicar que as autoridades públicas realizem a limpeza
dos bueiros e das áreas próximas ao rio para evitar alagamentos.

Em relação à avaliação, a professora Kalina verifica se o projeto está seguindo
o planejamento e se os alunos não estão se perdendo. “São muitas etapas, e eles
precisam de um acompanhamento constante”, afirma. Ela considera a avaliação o
maior desafio da ABP, já que deve ser compartilhada por todos os professores e
incluir todas as etapas. No projeto sobre a Vila Madalena, a avaliação aconteceu
por meio de rubricas. “Elaborei uma ficha com as etapas do projeto e as ações
que os grupos devem desenvolver. Eles vão assinalando na rubrica o que já
realizaram, o que está em andamento e o que falta.”

Kalina trabalha com projetos há dez anos e, no contexto de recomposição de
aprendizagens, ela acredita que eles são essenciais. “Não tenho dúvida de que
uma aprendizagem baseada em projetos torna as aprendizagens mais produtivas,
pois se baseiam em propósitos reais. O estudante engajado constrói seu próprio
conhecimento porque o projeto faz sentido para ele”, conclui. 

Para saber mais sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos

A consultora Aline Geraldi sugere alguns materiais para aprofundar os
conhecimentos sobre essa metodologia 

Aprendizagem Baseada em Projetos: educação diferenciada para o século XXI, de
Willian N. Bender (Editora Penso)

O livro aborda a ABP como metodologia de ensino diferenciada, com base em
aplicações atuais da tecnologia em sala de aula. Ao longo dos capítulos, o autor
apresenta diretrizes práticas para sua implementação nos ensinos Fundamental,
Médio e Superior. 

STEAM em sala de aula: a Aprendizagem Baseada em Projetos integrando
conhecimentos na Educação Básica, de Lilian Bacich e Leandro Holanda (Editora
Penso)

Nesta obra, os autores relacionam a ABP à abordagem STEAM – Science, Technology,
Engineering, Arts and Mathematics – para o enfrentamento dos desafios
contemporâneos na educação, integrando disciplinas, considerando a
transdisciplinaridade e desenvolvendo competências como a criatividade, o
pensamento crítico, a comunicação e a colaboração. 

PBLWorks

O site (em inglês) disponibiliza formações e uma série de exemplos detalhados de
projetos feitos a partir da Aprendizagem Baseada em Projetos. O intuito é
oferecer material de apoio e inspiração para os professores desenvolverem a
metodologia em suas escolas.



Consultoria pedagógica: Aline Geraldi, professora e formadora de educadores.

 


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