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QUALQUER COISA

E você já tá pra lá de Marraqueche

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sexta-feira, 28 de setembro de 2012


RAUL SEIXAS – O INÍCIO, O FIM E O MEIO

Raul Seixas. Foto: © Thereza Eugênia

Dirigida por Walter Carvalho, a mais nova biografia audiovisual do cinema
retrata o início, o fim e o meio da jornada de Raul Seixas pelo mundo material.
Coerente com o discurso do Maluco Beleza, o filme dá voz a uma ampla gama de
visões sobre a vida, neste caso a do próprio cantor. Com ênfase na perspectiva
do parceiro Paulo Coelho e de suas esposas, deixa a responsabilidade sobre as
conclusões para a audiência.

Ainda menino, na Bahia, Raul cantava o rock de Elvis Presley – e fazia o estilo
todo. Fez sucesso desde a primeira banda, Raulzito e os Panteras, cantando Let
me sing, let me sing em ritmo de baião misturado ao rock’n’roll dos anos 1950.
Com a projeção que teve, começou a trabalhar como produtor e foi conhecendo
muitas figuras importantes na cena artística, como o escritor Paulo Coelho,
Caetano Veloso e Chico Buarque.

Muitas vezes, como seus colegas, driblou a censura da Ditadura Militar criando
letras que falavam sobre valores como Paz, Amor e Liberdade mesmo em anos de
chumbo e em meio a outras formas de repressão. É claro, foi mandado para fora do
país, aterrisando em New York City, onde conheceu John Lennon e Jimi Hendrix.
Também deixou por lá uma filha.

A vida amorosa toma grande parte do filme, que abre espaço para o depoimento de
suas companheiras, filhas, netos e netas. Apesar, ou quem sabe em função, de seu
sucesso, Raul seguia sempre seu próprio caminho, o que o levava muitas vezes em
direções diferentes das companheiras. Uma de suas filhas, até hoje,
tem dificuldade em abordar a relação com o pai, o que fica evidente no
documentário.

Mas aquela Metamorfose Ambulante, que nasceu há dez mil anos atrás e não tem
nada nesse mundo que não saiba de mais, aquela exegese metafísica que
representou a soma das ciências iluminadas e ocultas – que certamente ele não
inventou, mas que definitivamente catalisou – foi seu grande legado. E não que
tenha sido o único nem o primeiro, mas com certeza foi muito longe. Vale a pena
conferir!



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quinta-feira, 13 de setembro de 2012


MENTIRA

Hoje é o dia da verdade. Não dê bom dia e avise que está de TPM. Admita que
arrumar todo esse cabelão dá trabalho e que, por ao menos um dia, você gostaria
de ir despenteada ao trabalho. Olhe nos olhos do seu pai e diga que você não é
feliz na universidade. Conte pra ele que você queria mesmo era plantar sua
própria comida e, lá no fundo, sabe que pra isso não precisa da universidade.
Diga a sua mãe que você não quer ser igual a ela. Que, na verdade, você quer um
homem que a ame de verdade, independente de quanto dinheiro ele tem. Mostre que
você descobriu que seu pai é um imbecil e que você não o ama de verdade.
Aproveite e admita a si mesma que você e ele só estão juntos por puro interesse.
Diga a sua namorada que sabia que uma mulher inteligente jamais o chamaria de
meu amor, e, portanto aceitou ter uma namorada vazia e de peitos grandes.
Aproveite e diga a ele que que você não o ama. Fale em voz alta que você sente
atração por pessoas do mesmo sexo. Conte ao seu marido que você engravidou de
propósito pelo dinheiro e por seu sonho de menina de ser mãe. Admita que só não
está solteiro porque não consegue ficar sozinho consigo mesmo. Ou aceite que não
está solteira por escolha. Diga a verdade, que você só é contra as cotas porque
lá no fundo seu avô te ensinou a ter preconceito. E que é por isso que você
agarra a bolsa quando um negro passa do seu lado. Aproveita e diz ao seu amigo
babaca que essa piada machista só o faz parecer um boçal. Saiba que tá na hora
de crescer e aceitar que você já poderia sair detrás das asas do papai, mas só
não quer. Olhe no espelho e descubra que você nem gosta de política, mas escreve
a respeito porque o bofe é intelectual e você nunca foi. Conte para sua melhor
amiga que você morre de inveja dela e que é melhor manter uma inimiga mais perto
ainda. Ou conte a ela que hoje vocês não têm nada a ver e que, por pena, não à
abandona. Ao menos uma vez na vida, exponha o seu verdadeiro eu. Decida que vai
sair sem maquiagem e chapinha e mostrar ao mundo que você é mais que um simples
corpinho bonito (ou não). Rejeite o emprego dos sonhos do seu pai. Compre
somente o que você acha bonito, mesmo que não seja aos olhos dos outros. Cante
alto sem a vergonha de ser feliz, mesmo que seu amigo odeie essa música. Admita
a espinha, os cachos; que não gosta de academia, que seus amigos são idiotas,
que você nem sempre está feliz e que a vida toda tentou ser outro alguém.

(Precisamos de um dia para a verdade. Nossa cultura já está tão cheia de
mentiras que nem tem mais graça o primeiro de abril.)

http://www.youtube.com/watch?v=gGOu5m0xWRs

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quarta-feira, 12 de setembro de 2012


QUEM TEM MEDO DE BRINCAR DE AMOR?

crônicas, homoafetivo, homossexual, mutantes, Quem tem medo de brincar de amor

Meu melhor amigo é homossexual.  É bonito, alto, já foi voluntário, é um dos
melhores alunos da faculdade de economia e fala até sueco e chinês.  Outro dia,
estávamos eu e outra amiga elogiando-o durante um passeio no shopping.
Comentávamos de todas suas virtudes e como ele era uma pessoa especial. Sempre
fomos muito orgulhosas e  gratas ao destino por tê-lo como amigo. Por outro lado
, nos questionávamos como poderia alguém descartar todo o prazer de ter uma
amizade como essa por um preconceito tão simplório como é a homofobia.
Menosprezar a companhia daquele meu amigo seria o maior pecado que alguém
poderia cometer.

Às vezes parece que o assunto certo está no lugar certo.  Entramos em um
restaurante para comer e lá estava: um casal homoafetivo. Dois meninos
igualmente lindos de mãos dadas que trocavam carinhos no cabelo e olhares que
levantariam suspiros de qualquer um que entende o significado do amor.

Enquanto nos divertíamos lembrando das noites com Barbara Streiand e bons
drinkes, percebemos que a mesa do lado não compartilhava da mesma emoção. Meia
dúzia de trabalhadores engravatados comiam e bebiam enquanto cochichavam.
Estavam na mesa um casal de homem e mulher e mais quatro homens que aparentavam
fazer parte do mesmo escritório. Não era muito fácil entender o que estavam
dizendo, mas pelos olhares de julgamento direcionados aos dois rapazes, não foi
difícil descobrir o que estava por vir.

Pois bem, ao terminar seu almoço com a calma de quem está apaixonado e não se
importa com o mundo exterior, o casal se levantou e pagou a conta. Não demorou
muito para que o tom de voz da mesa ao lado começasse a aumentar.

– Mas isso é um absurdo!  Onde já se viu homem gostar de dar o rabo! Essa
geração está perdida. – gritou o primeiro.

– Imagine só você que desrespeito aos bons costumes! Sempre ensinei meu filho
que ele deve amar uma mulher, como explico isso que ele vê na televisão?

Foi nesse momento que, o homem que estava acompanhado da mulher comentou:

– Mas calma lá vocês!  Vocês estão desrespeitando o direito deles de se amar. Eu
sou totalmente a favor do casamento e da relação entre homossexuais, sei o que é
gostar de alguém e querer ficar com essa pessoa.

Nesse momento, o meu olhar se cruzava com olhar da minha amiga e ambas pareciam
dizer uma á outra: ainda há esperança.  Estávamos felizes que alguém ali havia
entendido que amor é amor seja com quem for e que mais vale o respeito à escolha
alheia do que um par de mentiras místicas. Foi quando nos atentamos mais uma vez
à mesa vizinha e o tão admirável rapaz beija sua companheira e fecha seu
discurso:

– Só concordo que publicamente fica um tanto quanto libertino.



 

 

 

 

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quarta-feira, 12 de setembro de 2012


NO MEIO DO TRABALHO

No meio do trabalho tinha uma vida
Tinha uma vida no meio do trabalho
Tinha uma vida
No meio do trabalho tinha uma vida.

Nunca me esquecerei que naquele dia,
Como uma súbita epifania,
No centro da cabeça tão imatura ainda.
Tinha uma doença no meio da reunião.
Tinha uma espinha no meio da maquiagem.
Tinha uma viagem no meio do semestre.
Tinha amizade no meio da correria.

Nunca me esquecerei que no meio do trabalho
Tinha uma vida
Tinha uma vida no meio do trabalho
No meio do trabalho tinha uma vida.



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quinta-feira, 16 de agosto de 2012


SE HOUVER CÉU

Todo dia desejo criatividade para escrever bem. Por isso, antes de dormir,
canto:

 

Gênio nosso, se houver céu ,

 imortalizado seja o vosso nome,

venha a nós o vosso verso

seja feita a vossa poesia

assim no tapume como no papel.

 A epifania nossa de cada dia nos dai hoje,

perdoai-nos as nossas críticas,

assim como nós perdoamos

a quem não nos tem entendido,

e não nos deixeis cair em amolação,

mas livrai-nos do normal.

Amém.

 



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quarta-feira, 8 de agosto de 2012


NÃO ENCHE

Ontem fez 70 anos que o baiano apelidado de Caê nasceu. Multifacetado,
representou toda uma geração de jovens brasileiros com ideias revolucionárias.
Já foi escritor, jornalista, produtor, filósofo, músico, arranjador e até
inimigo do Estado. Contudo, sua marca mais notória pra história brasileira foi a
capacidade de transmitir toda a mistura viva do mundo em melodia e palavra
cantada.

Caetano Veloso se transporta através do tempo e dos gêneros. Iniciou sua
carreira fazendo interpretações de músicas já conhecidas e misturando estilos
tradicionais com a cultura popular, ajudando a fundar a Música Popular
Brasileira, o Tropicalismo  e até mesmo o  rock psicodélico brasileiro. Foi nos
espetáculos informais e festas de universidade que descobriu sua vocação para a
mistura, o que se evidenciava pela participação em elencos como o de Nova bossa
velha, velha bossa nova.

Apesar das críticas constantes com relação às letras nem sempre tão lineares,
Caetano continua vivo na alma daqueles que gostam de boa música. Juiz de tudo,
como dizem alguns colegas de carreira, fala o que pensa e continua desafiando a
visão de leitores e ouvintes do mundo, conservadores e progressistas. Criticou
Lula e foi criticado por ser incoerente, mas a verdade é que, com maturidade de
quem já viajou por outros mundos, Veloso só tem compromisso com aquilo que sente
na alma. Sua coerência não está ligada à figuras políticas ou movimentos
sociais, mas sim com a quebra do status quo e, por isso, se dá o direito de
repensar o mundo e sua ordem. Quantas vezes quiser.

Passarão anos, gerações e Caetano Veloso ainda será muso de inspiração. Suas
músicas e poesias ainda circularão por aí, sejam em declarações de amor,
críticas ou até mesmo em nomes de blogs (como este).  Assim, com setenta anos
completados ontem, e trabalhos muito característicos, Caê pode dizer que seu
pedido ao tempo (como em Oração ao Tempo) foi atendido: seu espírito ganhou um
brilho muito bem definido e suas palavras só espalharam benefícios.

 



 

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