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Posted By Jorge Castro on Out 4, 2021


TEXTOS POR OEIRAS
– PASSEANDO PELA ESTAÇÃO AGRONÓMICA NACIONAL

EMACO



TEXTOS POR OEIRAS
– PASSEANDO PELA ESTAÇÃO AGRONÓMICA NACIONAL

Autor: Jorge Castro

Respigo, de um passeio higiénico mas virtual pela internet, as seguintes
informações, respeitantes à Estação Agronómica Nacional:

«As origens da Estação Agronómica Nacional remontam, à semelhança de outros
organismos de investigação agronómica portugueses, ao século XIX, sendo fruto
das reformas prosseguidas na época no quadro da organização dos serviços
agrícolas (Reforma de Emídio Navarro).

É herdeira de uma tradição iniciada com as primeiras investigações agronómicas
efectuadas na Estação Agronómica Experimental, criada em 1869 e cuja vocação se
dirigia à investigação sobre o emprego de substâncias fertilizantes na
agricultura, à semelhança do que, na época, acontecia um pouco por toda a
Europa.

Aquela Estação, cujo nome, atribuições, estrutura orgânica e meios de trabalho
foram variando ao longo dos anos, sofreu profunda reforma em 1936 através do
Decreto-Lei nº 27 207 de 16.11.1936 (Reforma Rafael Duque) que criou, à
semelhança do Laboratório Químico Central, a Estação Agronómica Nacional.» (in
https://www.iniav.pt)

Após uma vida algo atribulada, deslocando-se de paradeiro em paradeiro, apenas
em 1961 a Quinta do Marquês, em Oeiras, propriedade do Estado com mais de 130
hectares, foi entregue à Estação Agronómica Nacional, para que esta aí se
instalasse e desenvolvesse investigação exclusivamente agrária, conforme nos
informa a mesma fonte.

Do seu labor meritório não haverá nada a contestar. Da utilidade da sua
existência menos, ainda.

Há, entretanto, algo que a mim assaz me perturba, cidadão dado a devaneios
peripatéticos e arroubos fotográficos, sempre que os meus passos para ali me
conduzem, o que vem acontecendo, em abono da verdade, de há uma boa mão-cheia de
anos a esta parte. 

E para ali vou, em passeio de exercício físico, mas pela tranquila quietude que
por tais paragens se desfruta, bem como pela observação amadora da fauna
diversa… e, verdade seja, porque ninguém me sabe dizer se essa devassa de
território privado seja ou não permitida ou proibida por qualquer entidade. Não.
Atravesso tão-só um portão escancarado… e lá estou, tal como muitos outros que
fazem o mesmo.

Os olhos enchem-se das extensões de vinhedos, em boa hora na recuperação do
néctar de Carcavelos, das flores campestres e da diversidade pródiga de
passarada, bem como dos insectos. Apareceram, mais recentemente, uns cavalos,
algumas cabras e ovelhas, que só enriquecem a paisagem e permitem alguns
interessantes instantâneos fotográficos.

Recentemente, assisto com agrado à intensa recuperação – desmatamento e limpeza
– da zona ao longo da ribeira, segundo julgo saber a cargo do município de
Oeiras e que aponta, também, para o restauro de infraestruturas da Quinta do
Marquês.

E o que me perturba, então, em ambiente tão aparentemente idílico?

Pois bem, a quantidade enormíssima de infraestruturas espalhadas um pouco por
toda a parte naquele território e o seu lamentável estado de degradação. Desde
antigas estufas, a equipamentos que aparentam oficinas ou, até, construções para
fins administrativos, em imensa profusão.

Tão imensa quanto esse seu abandono e estado de deterioração, com as janelas
meticulosamente partidas, como as portas cuidadosamente destroçadas. Recantos
fétidos e inestéticos de fins inconfessáveis, a quem a natureza, em obra de
graça ou pudor, vai encobrindo, neste caso, com o manto verde da fantasia.

Não sei, nem virá ao caso, quem é o responsável por esse abandono ou que
circunstâncias mais ou menos históricas o «justificam».

Sei, apenas – e nunca cessa, nestas coisas, a minha perplexidade – , que num
país onde há uma tão gritante carência de tanta coisa, nos permitamos o luxo de
desperdiçar recursos que poderiam constituir acolhimento, guarida, ocupação,
para tanta gente, desde aquele grupo de jovens que quer formar uma banda, àquele
idoso que ainda sonha ter a sua hortinha, aos artistas com ânsias de um ateliê
de jeito… eu sei lá quem e quantos mais.

Ah, são estas coisas devidas ao abandono do Estado…? Pois, daí advém a minha
maior perplexidade. 

17 de Setembro de 2021     


4 COMMENTS

 1. Maria da Graça Nóbrega Baptista Serrão
    
    5 Outubro, 2021
    
    Que retrato tão fiel à realidade daquele espaço! Nele trabalhei muitos anos
    da minha vida. Obrigada, Jorge de Castro, por salientar a beleza que a
    Quinta do Marquês oferece, mas também por denunciar a falta de controlo no
    acesso a esta propriedade e o estado degradante e de abandono em que alguns
    edificios e estufas se encontram.
    
    Post a Reply
    
 2. Eduardo Barata
    
    6 Outubro, 2021
    
    Para além daquele início de observações carregados de prosa poética,
    verifico um perspicaz relato de toda uma situação de desleixo, falta de
    organização e desconsideração para os próprios habitantes da urbe.
    O matagal que se desenha mesmo visto da estrada é de bradar aos céus. Como é
    que instituições de tão alto gabarito podem estar rodeadas de tanto
    abandono? Não há uma roçadeira para ao menos limpar o capim que ali se
    instalou? Quanto às instalações abandonadas , não tenho vocabulário
    repreensivo suficiente.
    São as incongruências da nossa sociedade, sob a capa de não se poder chegar
    a todos os lados, vão-se empurrando para debaixo do tapete, aquelas mazelas
    que estão mais à vista.
    
    Post a Reply
    
 3. Beatriz de Almeida Pessoa
    
    6 Outubro, 2021
    
    O texto do Jorge Castro descreve com muita clareza toda aquela lamentável
    realidade que me foi dado observar em Julho passado, quando, a convite de
    uma amiga exploradora de tudo quanto é Natureza, cuidada ou por cuidar,
    decidimos visitar esse imenso espaço. Éramos seis nesse passeio, curiosas de
    ver o que estava feito de novo (desmatação, tanque limpo e sinais de começo
    de obras de recuperação da Casa da Pesca). Mas tendo-se alongado o percurso
    por caminhos e atalhos, lá deparámos com tanto abandono de estruturas
    antigas, de arquitectura ou hortícolas, onde ainda teimavam em dar fruto
    figueiras, oliveiras e outros arbustos frutíferos. Contudo, apesar da
    criminosa degradação de tão importante património, saímos com a esperança de
    que as obras de recuperação ali iniciadas iriam continuar no sentido de uma
    restauração progressiva, ainda que paulatina.
    
    Post a Reply
    
 4. cpfeio
    
    8 Outubro, 2021
    
    Há anos que penso que se fosse legislador proibia novas construções quando
    nas redondezas existissem equipamentos passíveis de algum aproveitamento. O
    desleixo nacional e a febre do ‘novo’ (nada contra!) mostra como um País
    pobre adora parecer rico. Por isso em qualquer acto que tenha a ver com
    ‘desgovernos’, estou out!
    
    Post a Reply
    


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Freitas, na Feira do Livro de Coruche 2024. A apresentação vai estar a cargo
de Domingos Lobo. 

Diz-nos a autora: «Este livro foi concebido, como os meus outros, no nosso país,
parido no Brasil, em S. Paulo e lançado naquele país na Bienal do Livro de S. 
Paulo 2024, em Setembro passado.
Depois do lançamento em Portugal, em Oeiras, na Espaço e Memória, será uma
felicidade poder contar consigo em Coruche. Coruche é também o canto onde a "a
coragem da cor" se aconchega».





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