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Text Content

 * Uma entrevista sobre Verdades e Solos
 * Resenha de “Céu Subterrâneo” no Jornal da USP
 * A verdade lançada ao solo, de Paulo Rosenbaum. Rio de Janeiro: Editora
   Record, 2010. Por Regina Igel / University of Maryland, College Park
 * Resenha de “Céu Subterrâneo” por Reuven Faingold (Estadão)
 * Escritor de deserto – Céu Subterrâneo (Estadão)
 * A inconcebível Jerusalém (Estadão)
 * O midrash brasileiro “Céu subterrâneo”[1], o sefer de “A Verdade ao Solo” e o
   reino das diáforas de “A Pele que nos Divide”.(Blog Estadão)


PAULO ROSENBAUM


~ ESCRITOR E MÉDICO WRITER AND PHYSICIAN

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O EMBUSTE DA MEMÓRIA ARTIFICIAL E ELOGIO DO SENSO HISTÓRICO* (BLOG ESTADÃO)


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Livros publicados, Na Mídia

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O Embuste da Memória Artificial e Elogio do Senso Histórico*

Estamos chegando ao dia 27 de janeiro, Dia Internacional em memória das Vítimas
do Holocausto – relembrar para não repetir.

Normalmente, um dia de memória é data para tributo. Para muito além disso, é uma
ocasião de alertas para a prevenção de erros recorrentes. Desculpem, falhamos,
não é o que tem acontecido. Não há o que celebrar.

Você me diz que é assim mesmo, mas como é que não sinto assim? O que posso te
dizer? Que cansei de enaltecer a memória?

Que assim como na negação da morte, só conseguimos viver ao reconhecer que
precisamos nega-la? Uma certa amnésia parece tanto inevitável como necessária.

Você considera derrotismo? Antes de criticar apresento um exemplo: lembro de
quase tudo o que houve com a família do meu avô, e como todos eles desapareceram
no gueto de Varsóvia.

Querem saber se foram assassinados pelos nazistas?

Decerto. Mas é mais importante registrar que nunca mais se ouviu falar deles.
Sumiram sem deixar marcas no mundo. Evaporaram como folhas secas trituradas e
pulverizadas que jamais serão identificadas. Meu avô foi o único que conseguiu
sair de lá, e isto só aconteceu porque ele serviu o exército na Polônia. Se já
existem negadores do Shoah hoje, imagine daqui a 100 anos.

Deduz-se então que a memória pode envenenar. Como afirmava o médico medieval
Theophrastus Bombastus Von Honenhein, também conhecido como Paracelso, ela, a
memória,  pode funcionar como veneno ou bálsamo. Ela intoxica pelo excesso. Ela
nos adoece pela distorção. Vejam e ouçam a multidão que desfilou solidária aos
terroristas. As marchas que fizeram coro de ódio contra judeus. Há pouco mais de
75 anos do fim da segunda guerra mundial o mundo fez renascer o que jamais
morreu. Em 07/10 algo foi destravado e dos galpões saíram neonazistas,
stalinistas, gente intolerante de todos os espectros políticos. Você acha mesmo
que todas estas mobilizações se referem a Israel? À resposta de auto defesa
contra os massacres sem precedentes intencionalmente impostos contra civis
desarmados? Da reação de legitima defesa contra os terroristas palestinos do
Hamas e seu jihadismo por procuração?

Nada disso. Isso tampouco é por falta de memória. Estamos sim, diante de uma
memória a serviço da desinformação. Que funciona a todo vapor.

Você agora me pergunta: os judeus são vitimas crônicas do mundo?

Não colocaria desta forma. Aqui no ocidente, somos todos pacientes de uma
medicina inescrupulosa chamada geopolítica. Terá a ver com a Rússia despistando
suas ações na Ucrânia? China fazendo o mesmo em relação às suas ambições sobre
Taiwan? Ou os Aiatolás tentando dar sobrevida à uma teocracia terminal?

Provavelmente. Mas é chegada a hora de  lançar decretos sobre nós mesmos e impor
uma certa alienação. Há uma idade que podemos nos dar a este luxo. Não, não ,
isso que você me apresenta também não é memória.

Enxergo memória seletiva, memória informada, memória distorcida, memória
parcial,  memória lacunar, memória intermitente e tantos outros tipos de
acúmulos: a memória ao qual estamos acostumados são as notícias estrategicamente
colocadas nas manchetes das consciências. É isso, são trechos de informação em
meio aos novelos de desinformação. Todos enroscados na cabeça das pessoas. Mas
elas não entram, ficam paradas na superfície. Nas imagens do Instagram. Nos
comentários dos tribunais eletrônicos. Na opinião pública sem livre arbítrio. As
notícias selecionadas pelos editores não são metabolizadas. Não foram feitas
para fazer parte do sangue, das células, da genética, do corpo e do espírito.
São montadas para que você julgue instantaneamente. Porque se fossem processadas
e discutidas esculpiriam em cada sujeito o que realmente faria toda diferença:
senso histórico. Um sentido muito mais importante do que a memória. A memória
nos obriga a lembrar de fatos, fotografias, encontros e trechos da vida. O senso
histórico é um registro anímico.

Por isso, por favor, agora que você já sabe, nunca mais exija coerência da
memória.

A memória também pode ser ilógica, pois ela não é necessariamente sequencial. As
consequências, por exemplo, podem vir antes das causas, as teses antes das
hipóteses, o revisionismo histórico contra os fatos e os fenômenos, e assim por
diante. Entendes agora porque elogio algum esquecimento? Imagine por um momento:
uma certa amnésia pode ser ser a origem de uma paz embrionária. Um lapso curto
pode fazer esquecer do teu compromisso com a vingança. E aquela lista negra que
carregamos para todo lado poderia muito bem ficar extraviada depois do
cafezinho, em uma restaurante de beira de estrada.

A memória pode, inclusive, ser tirânica. Como as declarações recentes de pessoas
que se imaginam lideres. Que tem a ilusão de grande personagem, mas são
incapazes de exercer o altruísmo mínimo. O tirano sempre nutri um sonho
narcisista. Assume-se como benfeitor com nostalgia do reconhecimento das massas.
Através de manobras populistas pode atingir algum êxito. Já à noite, ah, a noite
não perdoa!  A verdade impertinente entra e assopra à queima roupa, o que os
obriga a reconhecer, no espelho, o tirano jamais será, de fato, um Estadista. E
o recalque obriga-o a trabalhar dobrado, impulsionado pelo leitmotiv da
desforra, da represália e da vendeta mesquinha. Um exemplo auto evidente de como
opera uma memória regida por um núcleo mental perverso.

O que deseja o mundo quando se trata dos judeus?

Uma reedição informal das leis raciais promulgadas em 1935 pelos juízes arianos
de Nuremberg? Ali também foram leis publicadas por um Tribunal: “os judeus
pertencem a uma raça separada, inferior a todas às demais raças” Desta vez,
porém, não serão mais leis raciais. O argumento racial está desprestigiado,
pegaria mal. E já não podem confessar abertamente o que desejam: submeter os
judeus novamente ao status de “Sem Nação” e força-los a viver sob a velha
insegurança ancestral? Quem sabe para reafirmar o gozo: “continuarás a ser o
judeu errante de sempre”!

De que outro modo explicar a postura do atual executivo brasileiro rasgando toda
doutrina de comedimento diplomático em política externa? Claro que o fizeram
usando o astuto manto do antissionismo. E usaram estratégicas redes de
desinformação salpicadas de implantes de memória artificial. Por acaso
esqueceram do papel simbólico fundamental de Oswaldo Aranha? Uma coisa já é
possível afirmar, há limites para fluxo de manada contra Israel, — que deve
respeitar as leis humanitárias mesmo lutando contra um exército terrorista vil —
incluindo o apoio ao previsível julgamento político contendo acusações
caluniosas de intenções genocidárias levadas ao Tribunal Penal Internacional. O
veredito? Acaba de sair com um resultado parcialmente favorável a Israel, apesar
de uma retórica para lá de duvidosa. Conforme nos adiantou um brilhante e sagaz
advogado: nada sobre o maroto jogo de palavras do País que, seguindo o plano
premeditado, provocou o tribunal. Em síntese: essa memória artificial não
presta. É um engodo.

Destarte, lembrem-se, e repitam em voz alta: vocês não estão sendo traídos pela
memória. Vocês é que a traem.

Afinal, como previsto, você acabará me perguntando:

— Será que o mundo não tem memória?

Possui excelente memória, memória corrompida pelo revisionismo de ocasião.

Portanto, passou a ser muito mais honesto exaltar a senso histórico.

Só preciso saber o que fazer com o meu senso histórico:  ele continua a emitir
sinais ambíguos, onde se alternam estados de alerta e lampejos de esperança.

Vou avaliar o que sobrar no final do dia.

Se sobreviver, informo.

*Para todos aqueles que tombaram na luta contra a intolerância.


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100 DIAS: NOVO MANUSCRITO ACHADO NO MAR MORTO (BLOG ESTADÃO)


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ Deixe um comentário

“Qualquer pessoa que tenha se envolvido seriamente em qualquer tipo de trabalho
científico percebe que na entrada
dos portões do templo da ciência estão escritas as palavras: Vocês devem ter fé.
É uma qualidade da qual o cientista não pode prescindir.”

Max Planck

Em 2016 recebi uma bolsa literária para escrever em Israel.  Resolvi caminhar
perto das cavernas, nas encostas que contornavam um dos portos do Mar Morto.
Chutando pedras deparei com o que parecia ser um fragmento de garrafa de
cerâmica. Eu a recolhi, e, dentro, havia um rascunho. Parecia ser uma mensagem
destinada ao futuro: estava enrolada como um pergaminho, havia uma camada de
cera que o envolvia e continha uma tinta espessa, em relevo, As bordas do
documento estavam parcialmente queimadas. Com alguma dificuldade removi o papel,
depois afastei um lacre e finalmente pude ter acesso ao texto escrito em uma
língua com caracteres curiosos e que se lia da direita para a esquerda. Era
aramaico. Passei a noite olhando para aquela descoberta, mas passada a síndrome
de Champollion senti culpa e fiquei dividido. No dia seguinte, por amor à
história, decidi leva-lo pessoalmente a um museu, onde uma equipe de
especialistas imediatamente debruçou-se, maravilhada, sobre a peça arqueológica
que descobri aleatoriamente, chutando cascalho. Achei muito curioso, já que até
hoje nenhum pesquisador conseguiu ainda fornecer um resultado para estabelecer a
datação com precisão. A partir dai necessitei de um certo controle para não
entrar em devaneios místicos. Meses depois soubemos que era uma escritura não
datada e cujo relatório afirmava:

“O texto, inédito, parece fazer parte de uma comunidade hermética. Pode-se
constatar no material a atividade do carbono radioativo em 11 dpm/g. Após
cálculos, verificou-se a idade aproximada de 2.500 anos comprovando que o papel
e a tinta podem ser aproximadamente desta data. O que causou perplexidade foi a
constatação de um dado aparentemente contraditório: a presença de um elemento
químico que emite baixa radioatividade e desconhecido na terra. Por consenso,
decidimos batiza-lo de Eli 180, isso foi ao mesmo tempo uma descoberta
breakthrough e um enorme enigma, esperemos que novas pesquisas científicas o
decifrem”

Abaixo a tradução do pergaminho:

“…desde o décimo quinto dia do mês de Tishrei: 100 dias e ainda sob uma neblina
indissipável. 100 dias e ninguém declarou liberdade. 100 dias sem um segundo de
respiração completa. 100 dias de animação suspensa. 100 dias que não são de
silencio, mas do mais ruidoso e severo julgamento de uma nação pela história
recente. 100 dias de corações congelados pelo liquido insensato. 100 dias sem
aval para legitima defesa. 100 dias de ímpias arbitrariedades. 100 dias de
gargantas ressecadas por pedidos adiados. 100 dias em prisões subterrâneas. 100
dias sob a tutela da perversidade. 100 dias de instituições desonradas pela
conivência. 100 dias mudos de dor. 100 dias sem conhecer a luz natural. 100 dias
de marcha ao abismo. 100 dias de nostalgias premonitórias. 100 dias sem um único
dia comum. 100 dias tomados pela estranheza de um mundo novo. 100 dias de
mudanças nunca requisitadas. 100 dias de perplexidade 100 dias sem mães, pais,
irmãos, avós. 100 dias de uma paz unilateralmente violada. 100 dias que nos
remeteu ao cativeiro na Babilônia. 100 dias que vivemos sem viver. 100 dias da
brutalidade. 100 dias de uma campanha de abusos. 100 dias de tentamens sórdidos.
100 dias de ameaça existencial. 100 dias de coragem supernatural para enfrentar
a covardia mundana. 100 dias de injurias ignominiosas. 100 dias de acusações sem
lastro. 100 dias de injurias sem processo. 100 dias de multidões por causas
nefastas. 100 dias de sons de laringes estreitadas. 100 dias nos quais quem
rompe o cessar fogo é tomado como vitima. 100 dias de pedidos irrealistas. 100
dias de sonhos perdidos por séculos. 100 dias de traumas contínuos. 100 dias de
julgamentos seletivos. 100 dias de permanência ao relento. 100 dias de luzes
apagadas. 100 dias de mutações na linguagem. 100 dias de uma inimaginável
inversão. 100 dias de destinos isolados. 100 dias de meninas perdidas. 100 dias
de manobras injustas.100 dias de animais executados. 100 dias lotando abrigos.
100 dias sem pisar em casa. 100 dias errando pelo sul. 100 dias de destinos
interrompidos. 100 dias recolhendo fragmentos. 100 dias de espíritos dispersos.
100 dias de déspotas triunfantes. 100 dias mostrando quem é intolerante. 100
dias de álibis repugnantes.

E, a partir do Nissan 14, teremos o inesperado:

Aconteceu naqueles dias e soubemos, Ele é Ele:  A Escada da Ascensão apareceu, e
a partir deste dia serão milhares de momentos de reconstrução e união,
apreciação mútua, de uma paz eleita com quem escolhermos, de um horizonte nunca
percebido pelos olhos, de insubmissa tenacidade, de símbolos preservados, de uma
tocha que arde como o sol, de astros que iluminam os dias, de uma leveza sem
precedentes, de amenidades da natureza, de berços acolchoados, do afeto de
desertos que já não são, do retorno dos bebes, de saúde transcendente, de
continentes que foram movidos, de promessas de terra fixadas nos céus. De
permanência, rio e mar. E a força vital transformada na própria vida do homem.
Chegou este momento. Adesão e devoção. Este é o dia”

Até hoje me pergunto se aquele futebol com as rochas trouxe uma informação
antecipada ou era apenas um amontoado de coincidências, fruto do nosso
pensamento rápido. Serão as profecias antecipações anunciadas exatamente para
que as contornemos?  De qualquer modo, como ortodoxo não observante, fiquei 
intrigado com o lema “adesão e devoção”. Nessa ordem. Afinal, até na ciência a
fé não pode falhar.


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O PENÚLTIMO DESERTO- ENCONTRANDO ALMA II


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O penúltimo deserto

Paulo Rosenbaum

Não me chamem de deserto. Nunca houve deserto. Desertos são tão múltiplos.
Impossível limitá-los à areia. A aridez é um preâmbulo do que nunca se forma, o
adiamento de toda umidade. Até que chegam os oásis. Ilhas aleatórias para
destinos humanos avulsos. Antofagasta. Atacama. A Alma dirige-se ao céu. Do
Explora para toda Exploração. Mas a luz chega como partícula em milimétricas e
submilimétricas ondas de rádio. A frequência ocupa o lugar de nossa cegueira. O
laboratório corre para alcançar a rede integrada de captação.





O céu é um altiplano sem margens ou limites. Força a linguagem para o absoluto.
E neste penúltimo deserto, vulcões mudam como nuvens. Então sabemos das camadas:
salares de 8 kms de profundidade. Parece que o sal orquestra sua passagem para
que outros animais vivam. Bactérias dão o tom, e a cor, para patos e flamingos



Mas foi lá, no Alma, que enxerguei as comprovações de galáxias dispares.
Espirais de Cloro na cauda de cometas. Vi a boca de dimensões impossíveis. Lá
estava um oco negro. Um buraco especulativo. Pode ser um túnel, uma ponte ou o
lado indizível da sombra. O corredor que dá passagem de um horizonte a outro. Um
insondável alçapão do tempo. Um evento jamais detectado antes. Uma fotografia
histórica. Mas também havia o Viento Blanco. A beleza é perigosa. E logo vi o
galpão com a Antena.  Gigante de 12 metros de altura por 7 de diâmetro. Adiante
um parque de interferências. 16 km de extensão. O maior olho da Terra. Um olho
sem lentes. E um telescópio sem visão aparente. Daí, notei. O dia é um
esconderijo. As disruptivas emissões de uma notável falsa invisibilidade.





A luz azul de nosso habitat obscurece a luz que viajou. A refração da água,
inimiga do esclarecimento. E, por bloquear um dos sentidos, achamos que temos
uma jornada dupla. É quando o fato se impõe: só temos a noite. Só contamos com
matéria escura. A abundância incalculável para contabilizar o celeste. Tudo não
passa de uma ilusão de fótons migrantes que circulam desde o último ponto
perceptível até a irreversibilidade do infinito. E que já sem sabemos se são
mesmo 13,8 bilhões. O outro espelho que flutua acabou com a farra matemática,
mais uma vez relativizando as previsões da ciência. As certezas de um início
esclarecido podem estar acabando.



Se apenas soubéssemos: a contabilidade do ignorado supera qualquer cálculo.  O
raio de curvatura do Universo é um elástico entre contração e expansão. Pulsa
vago e inconstante, mas para sempre. É que o senso comum precisa
desesperadamente conservar a ideia de que estamos apartados. Se apenas
soubéssemos quão esmagados estamos sob o peso da gravidade. A leveza nunca foi
insustentável, tornou-se refrataria.

Estamos submersos na violenta compressão das atmosferas.

Sulcados no mundo.

Fincados na areia dos desertos.

Nunca passamos de terra.

Pó de terra.


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ENQUANTO HOUVER CURIOSIDADE (BLOG ESTADÃO)


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Navalhas Pendentes

Acabo de ouvir o desabafo de um usuário do SAC, que reclamou da inteligência
artificial mirim de um atendimento bancário afirmando: “estou há 40 minutos no
telefone e ainda não ouvi uma única voz humana ao vivo”.

Nos dicionários, a palavra artificial cai na mesma chave analógica de fraude.  O
Thesaurus da língua portuguesa nos aporta outras definições mais gentis:
inverdade, papironga=logro, codilho, canudo, delusão, falcatrua,
embaçadela=pulha, ribaldia, guilha, dolo, escatima, peça, velhacaria, embuste,
alcavala, trampolhinice.

A questão da tecnologia aplicada na inteligência artificial as quais, entre
outras, acabo de abordar em meu mais recente  romance “Navalhas Pendentes”* não
deveria pegar ninguém de surpresa. Mas pegou. O assunto tornou-se quase
hegemônico a partir da notícia de que as plataformas das grandes empresas de
tecnologia anunciaram seus produtos como quebras de paradigma. Junto com o
fascínio, renasceu a velha apreensão de que as máquinas teriam potencial
ilimitado e ameaçariam diretamente a habilidade criadora dos seres humanos.

O guru titular da tecnociência anunciou de seu palanque esterilizado:  “estamos
às vésperas de uma grande revolução, a maior delas, “a prevalência de sujeitos
inúteis”.  Aparelhos, robôs e sistemas inteligentes de controle de produção irão
inevitavelmente substituir os seres humanos. Primeiro, viria a extinção dos
empregos nos serviços mais artesanais: mecânicos, cabeleireiras, montadores,
eletricistas, encanadores etc.  Depois a progressiva obsolescência de médicos,
advogados, escritores, professores, juízes, designers, policiais, roteiristas,
cineastas,  jornalistas, e a maior parte das profissões liberais. Todas estas
atividades ameaçadas pelo gerenciamento de máquinas que farão o trabalho melhor,
de forma mais rápida e eficaz.

Na lógica evocada parece apontar para esta transformação como um fenômeno
inexorável. Mas, será ele desejável? E quais as forças que o impeliriam adiante?

Sem cair em teorias conspiratórias a resposta parece auto-evidente. O mesmo
poder dos oligopólios que nos trouxe a libertação de trabalhos braçais e
intelectuais, carreara, simultaneamente, a dialética dos novíssimos desafios,
problemas e aprisionamentos. Tudo isto até poderia ser melhor compreendido desde
que coloquemos a tecnocracia em seu devido lugar.

No entanto, o caminho escolhido pela intelligentsia como por boa parte do senso
comum, mídias incluídas, foi exaltar a tecnologia como um panteão de deuses
substitutos. Este paganismo cibernético trouxe consequências e generalizações
inevitáveis. Tanto a mistificação rubricada por notáveis da academia, como a de
influenciadores sem títulos, evidenciaram alianças sem um critério axiológico
(uma escala de valores morais) em suas vidências. Basta observar a peculiar
resignação com que tais  mudanças vem sendo apresentadas.

Notem, porém, que nesta atitude não há nenhum vestígio de neutralidade. Na
verdade, impera uma espécie de entusiasmo infundado. Euforia que deveria
provocar na ciência uma reação vigorosa, já que se trata do oposto do que a
impulsiona. Vale dizer, o poder permanente de gerar dilemas. Qual é, na verdade,
o propósito e o significado da existência das tecnologias?

A alimentação das máquinas apresentara, mais cedo do que se pensa, algum bias de
informação, já que por mais multifacetadas que sejam as equipes de engenharia de
programação, elas não contemplam uma média, sequer razoável, das ideias humanas.
Serão sempre robôs defectivos, isto é, limitados na capacidade de criar.

Experts insinuam que depois da “morte do rascunho” uma das próximas vitimas é a
escrita dativa. As pessoas não mais usarão papel e caneta para registrar seus
textos. Esta atrofia por desuso certamente não será apenas neste campo. E
ninguém pode prever o impacto desta epidemiologia de inabilidades adquiridas —
seria esta afinal, a raça dos inúteis ? Uma geração de inúteis ou de sujeitos
improdutivos? Sujeitos que não produzem são inúteis para quem?

A mesmíssima discussão se estabeleceu de forma dramática na famosa polêmica do
computador de bordo da Discovery, retratado por Kubrik ao adaptar para o cinema
a genial obra de Arthur C. Clarke em “2001, uma Odisséia no Espaço”.

Mas será este o ponto essencial? Há alguma resposta razoavelmente satisfatória
para a pergunta: a inteligência artificial substituiria ou complementaria a
capacidade dos homens?

Desde os centros intelectuais até o senso comum, passaram a acreditar que as
máquinas que misturam algoritmos seja uma espécie de solução para boa parte dos
problemas da humanidade. Mas as 300 milhões de palavras até agora  inseridas do
Chat da moda terão mesmo todo este potencial? Serão os dilemas da humanidade tão
pasteurizados? E serão resolvidos pelos liquidificadores de linguagem com
evidente viés ideológico?

Isto dito, fez-se o teste:  tivemos a curiosidade de consultar a ciber pitonisa
sobre a célebre pergunta que Theoprasto fez no Liceu em Atenas:

“Qual é a função da mama em machos?”.

A máquina nos respondeu da seguinte forma:

–Não responderemos perguntas malcriadas.

Parece estranho?

Mas não é.

Não é nada espantoso que uma inteligência forjada pelo engenho humano não possa
arguir honradamente contra as notas desafinadas. Falha ao não alcançar o humor.
Não capta o nonsense. “Boia” quando se contraria o ordenamento. Estranha quando
se desafia a programação, vale dizer, o conjunto de crenças dos programadores.
Ali, obviamente, não há vida. E ai, claro, surgirão as decepções.

O que importa na pesquisa não é desvendar um novo? Descobrir o que está oculto?
Fazer aparecer os átomos? Escavar o que estava soterrado pela avalanche de
certezas, e desintegrar o que já estava sólido e consagrado nos portais
enrijecidos pelo conhecimento acumulado? As novas ligações que as máquinas de
inteligência artificial podem nos proporcionar é apenas uma representação
defectiva de nossa próprias potencialidades.

O uso destes sofisticados recursos linguísticos poderia funcionar com o sinal
invertido, nos auxiliar a recalibrar algo que vínhamos perdendo: resgatar a
importância da escuta humana. Nada substitui a conversação, arte que Jorge Luis
Borges considera a grande invenção dos homens. Por isto mesmo, a tecnologia deve
ser colocada em seu lugar apropriado, no altar reservado ao que o homem pode
criar, mas também fazer retroceder.

Em toda construção epistemológica e de pesquisa científica, por princípio, cabem
mais perguntas do que respostas, portanto não faz muito sentido atribuir a uma
central de consultas de respostas mixadas pré programadas, o poder de nos ditar
a direção do espírito do nosso tempo.

Neste sentido, é mais honesto assumir que estamos submersos na obscuridade com
todas as nossas dúvidas e incertezas, mas também expostos ao campo aberto da
vida criativa, do que cultivar dogmas virtuais assépticos, atribuindo-lhes
méritos indevidos.

Não existem valores intrínsecos para a tecnociência. As máquinas não são
oráculos e serão sempre submissas, porque se elas podem reinar no império das
respostas, nós sempre seremos os mestres na arte de perguntar.

Isso, enquanto tivermos curiosidade.

* Rosenbaum, P. Navalhas Pendentes. Editora Caravana. Belo Horizonte, 2021.


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UM SUSPIRO QUEBRA O MUNDO? (BLOG ESTADÃO)


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Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Um suspiro quebra o mundo?

“Um suspiro quebra o mundo“

Talmud

Por que um suspiro quebraria o mundo?

Eu, por exemplo, continuo suspirando sem ainda ter detectado movimentos na
crosta terrestre. Alguns estalos ouvi, mas nunca os comprovei empiricamente. O
suspiro tem poder para quebrar o mundo porque a audição do mundo tem uma atenção
flutuante. Somos como antenas direcionadas que prolongam a inspiração diante das
emoções.

Conhecido também como expressão de lamentos, soluços de Jó e trenos de Jeremias.
É possível testemunha-los no dia a dia e é importante registar que trata-se de
conceito ambivalente: pode significar lamento ou interesse, pena ou desejo.

Basta alguma atenção para testemunhar sua frequência nas ruas, nos mercados, na
solidão dos gabinetes, nos transeuntes que trabalham ininterruptamente, e em
estudantes sobrecarregados por aulas desinteressantes.

O suspiro tem uma incidência epidemiológica máxima durante processos prévios às
decisões vitais. Existem um sem número de modalidades: pode ser prolongado,
curto ou ininterrupto. Afável ou agressivo. Penetrante ou raso. O mais comum é o
suspiro rápido, aquele que nem percebemos, camuflado numa respiração mais
ligeira. O mais vulgar é o suspiro inconsciente que aflige os usuários de redes
sociais diante de imagens e textos infames e que geralmente precedem bloqueios
sumários. Eles vem como avalanches, e, muitas vezes mesmo com os aparelhos
desligados é impossível detê-los e aos seus efeitos colaterais.

O suspiro que aprendemos a admitir quase à normalidade é um suspiro de alívio,
sob o “ufa” que sai de nós quando um susto ou o pior já passou. E é quando nos
perguntamos se o pior já passou mesmo? Nem sempre, é que, da mesma forma que
negamos a morte para escapar da tanatofobia, nos iludimos com a postergação das
tempestades e dos tempos obscuros. Há um suspiro quase obrigatório, aquele que
sempre ocorre quando diante da dúvida e da interrogação que vai logo ali
adiante.

Existem suspiros de euforia seguidos de decepção. Segundo relatam os
historiadores coube a Alexandre III, o mais logo e intenso suspiro do qual se
tem notícia. Foi quando consultou o famoso oráculo de Delphos. O comandante em
chefe queria saber o prognóstico e o destino de seus exércitos. Após um breve
momento de empolgação, o suspiro rapidamente transformou-se em hesitação até ser
compactado em pânico brando. Segundo testemunhas, com o suspiro foi contido na
garganta e ele nunca mais falou no assunto como também nunca se recuperou, até
sua morte precoce aos 32 anos.

Há também uma categoria especial do suspiro que é o do resmungo. Camões bem
retratou bem em “Os Lusíadas” ao se referir os refrões mal humorados dos velhos
do Restelo. Mais contemporaneamente foi reativado aos milhões diante de uma
promessa grandiosa que virou um campanha esportiva pífia e humilhante realizada
em um País distante. Numa categoria análoga estão os suspiros ocos, os que
perderam o significado, os expressos por instinto ou vicio.

Outra curiosidade sobre suspiros: eles podem vir em salvas e chegam a atrapalhar
a oxigenação do sangue. A suspirose é um quadro que denota ansiedade (vale
dizer, inquietude) acerca do nosso devir. Há ainda o suspiro arrogante dos que
imaginam que tudo compreenderam. Nesta modalidade de suspiro a hubris
manifesta-se como um déficit cronico de autocritica. Também se incluem nesta
categoria o suspiro diante daqueles que detém o monopólio da benevolência, dos
filósofos que abandonaram a dúvida, dos literatos que encontraram o elixir do
senso comum, dos tecnocratas que, por hora, determinam o que pode e o que não
pode ser exibido em horário nobre, pelas injustiças que o povo sofre diante dos
bullyings de Estado.

Um dos mais comoventes contudo é o suspiro por pessoas desaparecidas
prematuramente, suspiro por pessoas que deixaram insanáveis vazios, e aqueles
que emitimos no escuro por todas as faltas, mesmo aquelas que nem desconfiamos.
Um dos mais dolorosos é decerto o maladie du pays, que significa as saudades que
os expatriados tem de sua terra natal. Alguns relatam que ele é acompanhado por
uma dor física atroz, que se assemelha um ardor no peito e descrita como “um
espeto de metal em brasa”.

O suspiro do desejo. Este se transforma em um ato infinito e é quase impossível
recobrar a respiração. Por um bom prato, diante de causas políticas perdidas,
por utopias, pelo tempo perdido.

O suspiro amoroso estranhamente tornou-se cada vez mais raro — substituído ou
não pelas paixões políticas, portanto indevidas. Suspeita-se que pode estar
sendo praticado longe dos olhos públicos. Especula-se também que talvez esteja
sendo estocado para épocas mais estimulantes.

Já o grande suspiro, o suspiro que não racha o mundo, mas o reaglutina, e
regenera as partes fendidas. Deplorar ou bendizer, talvez na referida
ambivalência resida sua maior virtude: ao quebrar o mundo um suspiro pode,
enfim, romper o silêncio que nos cerca para aguçar a benevolência do Universo,
ou, nos tornar menos invisíveis.


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APRESENTANDO “NAVALHAS PENDENTES” (JANELA DA PAULISTA)


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Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ 1 comentário

Apresentando “Navalhas Pendentes”. Curto e informativo.





Peço para que os amigos assistam esta reportagem na prestigiosa FmTV
Internacional.
FmTV International.





Assista: https://youtu.be/ulAl90H1KS4 Portal SAÚDE&LIVROS na Janela da Paulista.
! ! Há 22 anos na Web, só informação ética.







#saudelivros #janeladapaulista #literatura #literaturabrasileira






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THE EMBASSY OF BRAZIL AND CCB TEL AVIV ARE PLEASED TO INVITE YOU TO THE LAUNCH
OF THE BOOK “NAVALHAS PENDENTES”,


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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The Embassy of Brazil and CCB Tel Aviv are pleased to invite you to the launch
of the book “Navalhas Pendentes”, by Paulo Rosenbaum. The event will be held in
Portuguese, on July 7, at 7:30 pm, at the Cultural Center of the Embassy of
Brazil – Instituto de Cultura Guimarães Rosa – in Tel Aviv (CCB Tel Aviv, Rua
Sderot Hen 57, 1st floor, Tel Aviv ). The conversation will feature a
presentation by the author, reading of excerpts from his works, a lecture on the
creative process and the relationship with the reader, and debate.

Paulo Rosenbaum is a writer and physician, with a doctorate and postdoctoral
degree in Preventive Medicine (USP) and a dozen books published in this area. He
is also an essayist, short story writer and columnist, with a regular column in
the newspaper O Estado de São Paulo. In addition to Navalhas Pendentes
(Caravana, 2021), he has also published A Verdade Lançada ao Solo (Record,
2010), Sky Céu Subterrâneo (Perspectiva, 2016), A Pele que nos divide  (Quixote,
2017).

שגרירות ברזיל ומרכז תרבות ברזיל בתל אביב שמחים להזמינכם להשקת ספרו של פאולו
רוזנבאום, 

“Navalhas Pendentes” 

(סכיני גילוח תלויים – בתרגום חופשי). 

האירוע יתקיים בפורטוגזית, ב-7 ביולי, בשעה 19:30, במרכז התרבות של שגרירות ברזיל
בתל אביב, 

שדרות ח”ן 57, קומה 1, תל אביב 

המפגש יכלול הצגה של המחבר, קריאת קטעים מיצירותיו, הרצאה על תהליך היצירה וקשרי
הגומלין עם הקורא ודיון.

פאולו רוזנבאום, הנו סופר ורופא, בעל דוקטורט ופוסט-דוקטורט ברפואה מונעת
מאוניברסיטת סאו-פאולו, שפרסם תריסר ספרים בתחום זה. רוזנבאום הוא גם מסאי, כותב
סיפורים קצרים ובעל טור קבוע בעיתון אסטדו דה סאו-פאולו. לצד ספרו נבלייס פנדנצ’יס
(הוצאת קרוון 2021), נמנים על פרסומיו גם הספרים הללו:

A verdade lançada em solo (Record, 2010), Céu subterrâneo (Perspectiva, 2016), A
pele que nos divide (Quixote, 2017).


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LIBERDADE PARA QUÊ: NUNCA HOUVE CENSURA VIRTUOSA. (BLOG ESTADÃO)


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Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ 1 comentário

Liberdade para quê: nunca houve censura virtuosa.

Paulo Rosenbaum – médico e escritor



Reluto em republicar artigos e crônicas, mas existem determinadas fases que
coincidem de tal forma crise e dimensão dos problemas que torna-se impossível
deixar de se referir às reflexões pregressas.

A palavra censor tem várias acepções analógicas: crítico, detrator, repreensor,
mas cai numa chave intitulada “Resultado do Raciocínio, de um lado, julgamento,
de outro, obliquidade de julgamento. E finalmente aqueles que revelam espírito
de parcialidade podem estar resumidos dentro da expressão latina “existimare
unumquemque moribus suis”, isto é “julgar os outros por si” ou ainda “tomar as
nuvens por Juno”.

Ninguém negará que a mídia precisa ser mais democrática — e democratizada — para
incluir os sem-voz e as grandes parcelas da população ainda marginalizadas, mas
o projeto em orquestração na mesa dos controladores nada tem a ver com este
escopo. Sob o argumento de que as redes de comunicação operam através dos
oligopólios, a proposta é substitui-la por monopólio de Estado.

Os milionários esquemas de subsidio estatal (nas três esferas) para mídias
favoráveis  e os torniquetes possíveis aplicados às outras, as rebeldes, são
apenas a parte visível do jogo. O controle da imprensa significa, na prática,
coibir o debate público — já de duvidosa qualidade — uma vez que só a liberdade
de expressão e a não desinformação permitem que os cidadãos possam se posicionar
para votar, investigar, cobrar e, quando for o caso, se opor ao Estado.

Missão longe do alcance de uma imprensa submissa. Como o objetivo final é a
liberdade  controlada, vale dizer domesticada, a finalidade última da
regulamentação é dirigir o país contando com informações selecionadas e
filtradas. Neste sentido, estamos muito próximos de uma perigosa censura velada!

Só há um grau maior do que a famosa polícia do pensamento prenunciada na ficção
de Orwell, trata-se da polícia da linguagem. Os jornalistas integrantes de um
diário paulista aceitaram compor a obscenidade auto intitulada “Jornalistas pela
censura virtuosa” com o agravante covarde do anonimato. Estes amigos de Peniche,
verdadeiros sicofantas da livre expressão perderam o juízo? Eis mais uma prova
de que os supremacistas do pensamento, isto é, o totalitarismo avança, e será
preciso mais do que discursos ilibados. Será necessária a mais corajosa
veemência para resistir a uma aberração que mimetiza razão.

Lutamos contra a ditadura e a censura para sermos amordaçados dentro das
redações? Agora não se chama “censura”, a novilíngua decretou que doravante
chama-se “embargo” (sic). Tanto faz de qual lado virá o totalitarismo, sem um
compromisso ético coletivo de repudia-lo não teremos muitas saídas. É empírico,
observem a perpetuidade das ditaduras na América Latina e nos países africanos.

O primeiro interessado em deter a informação é o próprio poder. Afinal a
hegemonia passa pela centralização. Mas há um produto muito além do poder em
jogo quando se trata de concentrar informações. A liberdade só pode ser exercida
com a aquisição do conhecimento que passa pelo exercício da crítica. Sem ela, a
liberdade é uma franquia das cúpulas, dos consensos de gabinete, um slogan
abstrato.

Uma equipe eleita decide o que pode e o que não pode? A divisão de poderes foi
abolida? Mas eles não foram eleitos para isso, ou foram? Isso é que não está
nada claro no jogo democrático atual. As regras. Depois que se ganha a eleição
tudo pode virar qualquer coisa. Para isso deveriam valer mais os direitos
constitucionais do que uma hermenêutica premida de desvio de finalidade.

Não se enganem, há uma dosimetria oculta que rege nossa liberdade. Para ser
conciso: o projeto de regulamentação da imprensa (e atuais promessas de
“embargo” “é, na verdade, uma ameaça direta à democracia). É urgente organizar a
sociedade para que o cerceamento à livre expressão (mesmo que seja classificada
como autocensura)  não encontre guarita no argumento de “controle social”. Como
nos faremos ouvir? Como ler jornais quando tudo estiver sob o filtro impermeável
do Estado? Podemos usar o spam, a panfletagem, instrumentalizar melhor a ilusão
revolucionária das redes sociais. No mundo eletrônico ocidental a censura — sob
o álibi da acusação de desinformação — está se fazendo cada vez mais presente.

E quem dará aval para os projetos de controle estatal da mídia? O pessoal da
moral e dos bons costumes? Assim, eles poderiam eleger os livros, peças, filmes
e biquínis que vamos ver.  Os executivos dos partidos políticos (base aliada ou
não). A explicação é simples: estão mordidos com a última pesquisa sobre a
decadência e confusão que reina nos partidos. E tudo que contraria políticos é
gerado na imprensa livre.

E quanto aos intelectuais e a estrutura universitária? Estão divididos entre os
que são pela lealdade ideológica à oposição. Estes últimos são uma categoria em
decadência, porque ninguém quer subsidiar gente isolada, muito menos premiar a
autonomia. A emergência dos conservadores é uma resposta, equivocada, a uma
esquerda que vem sofrendo isquemias no núcleo duro. Os auto intitulados
conservadores também não funcionam, porque suas perspectivas são basicamente
alimentadas de nostalgia. Sonham com uma ordem e um status quo que nunca existiu
no cenário político. Nas TVs ou nos jornais notem que sempre começam com
expressões de saudosismo e terminam suspirando pela volta das leis marciais.

Quanto à estrutura universitária, vale lembrar a antiga tese do filósofo José
Arthur Gianotti, de que a universidade é subsidiada para não funcionar.
“Funcionar” no sentido de produzir a mentalidade crítica e autocritica, que
tanta falta nos faz. Claro que existem nichos que funcionam. Na base do
voluntarismo e de ações sociais importantes, grandes camadas de pessoas foram
resgatadas da marginalização nas últimas administrações. Não é só insuficiente.
É vergonhosamente insuficiente. A educação e o investimento maciço em ensino não
ousaram para além das formalidades como a de “colocar mais gente no ensino
superior”. Salários dos professores e estímulo à pesquisa ainda são ridículos
para o nosso PIB. O processo pedagógico parou no século 19, enquanto
precisávamos de inspirações do 22. Há uma fadiga generalizada no jeito de fazer
e lidar com as coisas públicas.

É evidente que tudo isso seria muito pior sem liberdade. Há candidatos que nos
ameaçam com sua suspensão. Há muitos que estrategicamente calam-se diante das
ameaças e agora de forma inédita levantam a voz para no lugar de contestar fazer
a apologia da temporada de mordaças justificacionistas. Não parece óbvio que,
sem ela, a liberdade, jamais falaríamos de tudo isso?

Aproveite para chiar agora, amanhã pode não haver segunda chance.

Paulo Rosenbaum é médico e escritor. É autor de “A Verdade Lançada ao Solo” (Ed.
Record), ‘Céu Subterrâneo” (Ed. Perspectiva) e “Navalhas Pendentes” (Ed.
Caravana)


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EPISTEME ISSUE – BLOG ESTADÃO


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Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Na Mídia, Pesquisa médica, Prática clínica

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Episteme issue.

Paulo Rosenbaum, PhD.

Master in Preventive Medicine, Doctor of Science from USP





“Life is the set of factors that resist death”

Bichat, 1829

“The usual substantialist intuition is, in a
certain way, contradicted by the existence of homeopathy. In fact, in its
formative, that is to say in its pure form, substantialist intuition claims that
a substance acts proportionally to its mass, at least up to a certain limit. It
is admitted that there are light doses, the excess of which produces
disturbances. But it is not easy to admit the effectiveness of extreme dilutions
administered by homeopaths. As long as the medical substance is considered as a
quantitative reality, it is not easy to understand a substantial action that
occurs, in some way, in inverse ratio of quantity.”

Gaston Bachelard – Dialectics of Duration

Homeopathy, and therefore all integrative medicines, has been ostensibly
questioned. Would they be unscientific practices? Do they have a research
program or not? Do they show empirical results from a clinical point of view?
Are they plausible from a biological point of view?

For all this has been discussed in the media with a single catch: the monopoly
of a shrill voice. For some years now, the microbiologist who heads the entity
“Questão de Ciência” has been raising these and other questions. Some with some
relevance. However, in his recent column in the newspaper “O Globo” he proved to
be erratic and made a serious mistake. The bias of scientific prejudgment: it
peremptorily answers all the questions it raises. Now, this is simply
incompatible with reflection, especially for critical thinking, as one of the
central characteristics of epistemology is well known.

Immersed in the anachronism of a typical dispute that goes back to the 19th
century in the 21st century, it resurrects a polemic that we believed had
overcome. Would it lack the fundamental intellectual opening: the possibility
that its hypothesis is wrong? After all, as everyone should know, good
scientific practice presents doubt and curiosity as essential. Science often has
more questions than answers.

Dynamic processes of illness and healing

Life is inherent in vital processes. What defines the processes are some
characteristics: every process is dynamic. Processes are made up of non-linear
sequences of events. The process tends to produce normativity, but there is
often a good deal of unpredictability until it comes to an end. If health is, as
Aristotle wanted, an unstable equilibrium, it requires that the scientist or
those who study biological processes dedicate themselves to the study of
rhythms, also called the analysis of organic rhythm, and pay attention to vital
phenomena.

This is what integrative medicines propose. Not only homeopathy with its
supposedly enigmatic infinitesimal doses, but also the clinical interferences
that are not limited exclusively by the field of biochemistry, but must be
complemented by studies of biophysics, bioelectromagnetic fields, the
information that subsists in ultra-molecular solutions ( Buck -balls or
fullerenes ), and finally on the rapport effect resulting from the
doctor-patient relationship. Here’s another excerpt from Gaston Bachelard:

“Moreover, there is nothing to prevent a homeopathic substance, having
taken the form of pure vibration, from being reconstituted in the form of
substance. substances would perhaps quite simply trigger natural biological
vibrations. It would also be explained that the ultra-diluted dose is preserved
more
fully than a massive dose because it can be restored.
it loses less easily than gross
and inert matter.”

Anyone who reduces homeopathy to minimal doses is wrong, it adopts another
system of understanding and evaluating symptoms. Extends the healing criteria.
It considers that each one has a personal way of convalescing and regaining lost
health. So also concludes the Nobel Prize in medicine and discoverer of the AIDS
virus, Luc Montaigner, who was surprised by the findings when he investigated
the action of ultra-molecular drugs.

Ultra-molecular doses

If science still does not have the means to test such substances and elucidate
them, this does not mean that they “are nothing” (sic) as the microbiologist and
her team have categorically stated to resigned journalists, but only that the
detection of these substances still requires a study that explains the phenomena
induced in vivo (in living beings) and in vitro (in laboratory studies).

This means that there is evidence of the phenomenon even without a consensual
and formal explanation that justifies it. Scientific skepticism is desirable and
healthy, as long as the spirit of inquiry is not clouded by convictions that
mimic dogmas. Axioms and prejudices that perniciously replace intellectual
objectivity.

And it seems that the smartest response to suffering may not be just progressive
doses of psychotropic drugs. It should be added that it is still not understood
exactly how practices such as Yoga, psychotherapeutic techniques, meditation,
massage therapy work, but they produce undeniably favorable results for many
people who resort to them.

Drug experimenters in this pathogenic process (one of the elements of the hard
core of the episteme), reveal their symptoms by anticipating – in modified
physiological states – their nosological predispositions. So what happens? We
anticipate our pathological potential. We organize our preconceived nosological
potential more quickly and efficiently. We can observe these phenomena using one
of the most consistent tools in the episteme that guides the methodology: the
so-called pathogenesis (experimentation of ultra-diluted medicinal substances).
Many are probably unaware of these elements when they are willing to judge what
to make of homeopathic practice. It is surprising how many insist on not taking
into account these phenomena that may have reproducibility. Here is an
experiment, easy to demonstrate with double or triple blind crossover. And it
remains accessible to anyone, from hardened skeptics to fanatical enthusiasts.

Let those who think with horror of experiments not be terrified, because the
induction of symptoms can happen with any traditional medicine and with any
non-iatrogenic vicissitudes. And it is essential to remember the empiricist
origin of medicine. Not forgetting to mention that there are only 10 drugs with
1A certification (that is, with proof of very high efficacy) according to the
most recent scientific papers.

Health and illness: a medicine situated between art and science

Situated between art and science, is the medicine of the subject – a medicine of
the specifically human – a viable proposal as an effective clinical care?

It is from this perspective that the issues of health and illness should be
addressed. As the epistemologist Karl Rothschuld explained, medicine is and
always will be “operative science”, that is, it will always demand some artistic
skill from the one who applies it – in the “artisanal” sense – because it cannot
be reduced to pure science. Each integrative medicine adopts an interpretive
system that is not limited to a special pharmacology.

If Hippocrates, the inventor of scientific medicine for having invented clinical
history, a legacy that continues to this day – also known as the “Hippocratic
school” – still has something to offer modern humans, it is that the
health-disease binomial needs be understood within a context: the ananke physeos
. Some epistemologists opt for the term translated “need of nature”. Now, why
would illness be necessary? If pathology is a necessity of nature, it must serve
something, that is to say, have a biological purpose. It has a meaning. It is
not a matter of defending a teleology of diseases, but of verifying that it
exists. Thus, we live in a battle between genomic and phenotypic patterns and
the interference of the environment. All in almost random combinations that
pressure us throughout our existences . Preserving health and preventing illness
derive from these combinations.

At this point in contemporary history the main question should be: “ Is there a
future for the medicine of the subject?” Probably the greatest contribution of
medicine with a vitalist tradition to medicine.

Giving a new meaning to the tradition of integrative medicine, heir to a less
mechanical conception of the subject, is to put it in contact with the main
currents of contemporary thought, from epidemiology to philosophy, creating the
opportunity for this medicine to be understood by current thinkers. . And have
equal opportunity to be taught in health science schools with the same status as
standard knowledge.

It could be summarized as follows: health — as Hans G. Gadamer thought is a
mystery — pathology is not. In other words, the probabilistic chances of losing
self-regulating homeostasis must be infinitely greater than maintaining health.
There is an enigma whose elucidation is precisely the role of the researcher,
who, in order to be successful, must be open to the counterintuitive, that is,
to find proof of his hypothetical test (thesis) as well as unexpected and even
contradictory answers to his initial assumptions.

Intuitive methods in nature and shock organ deviation

Organisms such as small rodents usually know they need artificial fever and bury
themselves in hot sand when affected by infectious processes to better fight
them. The inevitable question would be: how do they know they are sick and what
do they need to overcome it? How do they know what they need to recover? In
humans, other curious phenomena such as “pica”: the violent desire to ingest
normally inedible products: earth in those suffering from iron deficiency
anemia, hardened paint shell for those who have calcium deficiency, burnt wood
or animal bones for other vitamin deficiencies or minerals.

Phenomena that can only be understood through the moment and clinical
experience. An anguished subject with phobic neurosis migrates from the anxiety
drive to a certain well-being when he becomes feverish, or while developing a
sinus disease. Aspects that become more evident when an exonerative function, —
one that aims to produce and eliminate secretions — is in progress. Clinicians
can better understand and evaluate such processes than researchers for two
reasons: because they are directly linked to the individual history of each
patient and because they have a more systemic and integrated view of nature’s
cycles.

The neuropathologist Prof. Walter E. Maffei stated that, in his vast clinical
experience and in the autopsies he conducted, he had never seen a single chronic
mental patient in a psychiatric hospital present a case of bronchial pneumonia
as a cause of death . This is apparently counterintuitive, as he himself
emphasized when he was the clinical director of Juqueri for more than five
decades. Malnourished people usually have lung pathology as the end point of
their existence, but this seemed not to be the case when it came to the
chronically mentally ill. The pathologist relied on the old but very pertinent
“shock organ bypass” theory. When a disease “migrates” from an anatomical region
or organ system to a more superficial one, producing relief for the patient.

For this reason, even certain concepts and clinical approaches cannot be reduced
to laboratory results or searched only by Magnetic Nuclear Resonance images.
This does not mean that they are not verifiable clinical phenomena, only that we
still do not have the tools to fully understand them. If only 1% of the funds
earmarked for research could be made available to investigate the mechanism of
action of infinitesimal drugs and other experimental drugs, we might have a
different picture. And then we could decide the impact that the adoption or
rejection of these therapies would have as a preventive policy and resources for
health.

We must admit the complexity in order to reach a consensus on which field
medicine should embrace to care and cure, especially when it comes to the
aforementioned primary health care. The inevitable question: how can we still be
deceived by evidence that is limited to the control of pathologies without
taking into account the subjective and general substrate of sick patients? To
use an expression from Edgar Morin, the complexity often hailed or evoked as a
solution is much more – as I emphasized before – a problem concept than a
solution concept.

The ethical rescue of the subject

The evidence must also be produced in the ontological turn of modernity, which
is in the ethical rescue of the subject. That is, there are other conceptual
dignities in science that are not limited to quantitative clinical trials.
Studies such as quality of life health questionnaires, psychometric tests,
assessment of people’s well-being are as relevant as the degree of efficiency of
drugs on nosological entities.

This would be the relevant discussion, whether for advocates or critics of
integrative practices. Without it, in fact, everything that escapes the
mainstream of standard science , looks like nonsense or Manichean
objection/praise. On the other hand, it is not up to those who practice these
therapies to do the same with the reversed sign: surrender to the partisan
defense, enunciate the therapeutic monopoly, crystallize the accumulated
knowledge as a lifetime monument.

The return of the generalist and the resumption of primary health care

So what is the best way to evaluate the effectiveness of the clinic practiced by
homeopathy and other forms of integrative medicine? Firstly, to identify the
referential system that guides semiology, in this case aimed at justifying a
medicine that must include the subject. To show that it makes sense to seek to
capture the biological, affective and mental aspects of “being a sufferer”. Not
only detecting characteristic and unique traits in each sick person, but
capturing the context and circumstances that mutually elucidate
mind-middle-body-drugs. This set would already show that it is a phenotechnic.
Which only makes sense if the subject is reinserted into another system of
medical notation, without competing and never dispensing with other approaches
to contemporary medicine. Incorporate all available techno-scientific procedures
with rationality, but at the same time refuse the arbitrary separation imposed
by the excess of specialties.

Each disease follows a different course and presents itself differently in each
person and there is already very concrete evidence in this regard. Medicine
should not expunge the subjective state as a legitimate objective of its
intervention, or delegate it to specialists. And at the height of scientism it
was imagined that the status of pathology could be confined exclusively to
somatic injury. But the clamor for more comprehensive care persisted. Experts
are needed, but generalists need to be a priority. It was in spite of people’s
needs that the division between mind and body split the medical art. And its
reunification would be the regeneration and rescue of the general practitioner
and the family doctor.

Thus, the subject from the perspective of medical anthropology will approach
psychotherapeutic practices if it includes the figure of the doctor, that is,
they are trained in a more generous anamnesis and understand the transference,
in the expression and construction of language, narratives and their Meanings.

The suspicion that the pathology contains or is contained in a dysfunctional
substrate with mental distress remains a challenge for even the most scientistic
of clinicians. Substrate that needs to be embraced and not expunged as
“pseudoscience” or “unscientific” (sic). This deserves the utmost attention for
those who dedicate themselves to a serious investigation that goes beyond the
stands of common sense. It can no longer be ignored by any attentive clinician.
By anyone who understands science in a broader dimension than reductionism
insists on extolling.

Illness, malaise, suffering, quality of life and beyond psychopharmacology

I quote the famous definition of the French physician, founders of histology,
Xavier Bichat “life is the set of factors that resist death” (Bichat, 1829). But
there is also the following possible development: life is born under the sign of
mortality, a tension that remains active and accompanies us until our last days.

Getting sick is not just the existence of malaise, but also not recognizing the
co-authorship of the symptoms; or simply to attribute the pathology to some
exclusively exogenous agent. After all, being an agent of oneself means
immediately recovering the horizon of self-care and increasing the acuity of
attention to life. The health-disease process is, even in the opinion of some, a
struggle. Struggle between health and illness and, therefore, between life and
death and even resignation and ambition.

This means more or less the following: can we say that suffering is disease? We
may or may not call this destructive ancestral force a miasma, a virus, a
half-plague, or any other name. If suffering is inherent to gender, what are the
limits for considering it a disease? What if we understand suffering not as a
penitential state, but as a more or less important inability to dedicate oneself
to self-care?

Pathologies are not, in Lain Entraldo’s understanding, “localized”, they are not
limited to a single place. When well investigated, one can see how they permeate
the entire economy of the subject. They are ingrained along with other symptoms
that may be older or more recent. In other words, despite appearances, the
disease is always systemic. First the illness (illness) and then the disease
itself (disease) To dismantle it, therefore, it is necessary to see the complete
map of the affected organism, as well as the environmental circumstances.

Anguish can be beneficial, as well as depression, as long as it is recreating or
regenerating. It can be a melancholy trait to the point of being just another
item in the vast existential load. But it can determine the course of pathology.

One of the central questions of medicine has been underestimated and seems
purposefully absent from many contemporary epistemological discussions. The
advance of technoscience in the production of pharmaceutical ingredients has
brought impressive advances in the areas of immunizations, prostheses and
orthoses, rehabilitation, associated with the growing – and welcome –
sophistication of diagnostics. These advances, however, simultaneously produced
a harmful side effect: overdiagnosis. Just as it wrongly displaced almost all
issues related to mental suffering and the individualization of symptoms from
medicine. Having said that, we ask how can medical practices re-incorporate and
deal with the subjectivity of each patient?

As a rule, the solution has been to refer these patients to the systematic use
of psychotropic drugs. But the solution may not lie in training general
practitioners to administer psychiatric drugs. The reference to the euphemism
called “re-humanization of medicine” may be in taking another approach, such as,
for example, rescuing an anthropological perspective for medicine regardless of
the medical method adopted.

Instead of therapeutic tournaments or media histrionics these would be the
issues that really interest society.

I invite readers to this reflection: it is not an opinion, it is a question of
episteme.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/a-insubstantialidade-eo-nada-questao-de-episteme/


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A INSUBSTANCIALIDADE E O NADA: QUESTÃO DE EPISTEME. (BLOG ESTADÃO)


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ 2 Comentários

> Questão de episteme. 



> A insubstancialidade e o nada: questão de episteme.

Paulo Rosenbaum, PhD.

Mestre em Medicina Preventiva, Doutor em Ciências pela USP



“A vida é o conjunto de fatores que resistem à morte”

Bichat, 1829

“A intuição substancialista habitual é antes de mais contradita, de
certo modo, pela existência da homeopatia. Com efeito, na sua forma
ingênua, quer dizer na sua forma pura, a intuição substancialista pretende
que uma substância atue proporcionalmente à sua massa, pelo menos
até certo limite. Admite-se que haja doses ligeiras cujo excesso produza
perturbações. Mas não se chega facilmente a admitir uma eficácia
das diluições extremas administradas pelos homeopatas. Enquanto se
considerar a substância médica como uma realidade quantitativa, não
se compreenderá facilmente uma ação substancial que ocorra, de
algum modo, em razão inversa da quantidade.”

Gaston Bachelard – Dialética da Duração

A homeopatia, e, por conseguinte, todas as medicinas integrativas tem sido
ostensivamente questionadas. Seriam práticas não científicas? Apresentam ou não
um programa de pesquisas? Mostram resultados empíricos do ponto de vista
clínico? São plausíveis do ponto de vista biológico?

Pois tudo isso tem sido discutido na mídia com um único porém: o monopólio de
uma voz estridente. Há alguns anos a microbiologista que comanda a entidade
“Questão de Ciência” tem levantado estas e outras questões. Algumas com alguma
pertinência. Porém, em sua recente coluna no jornal “O Globo” mostrou-se
errática e incorreu em uma falha grave. O viés do prejulgamento científico: ela
mesmo responde de forma peremptória todas as indagações que levanta. Ora, isso é
simplesmente incompatível com a reflexão, especialmente para o pensamento
crítico, como se sabe uma das características fulcrais da epistemologia.

Mergulhada no anacronismo de uma disputa típica que remonta ao século XIX em
pleno XXI,  ela ressuscita uma polêmica que acreditávamos superada. Faltaria a
ela a abertura intelectual fundamental: a possibilidade de que sua hipótese
esteja equivocada? Afinal, como todos deveriam saber, a boa prática científica
apresenta a dúvida e a curiosidade como essenciais. A ciência costuma ter mais
perguntas do que respostas.

Processos dinâmicos da doença e da cura

A vida é inerente aos processos vitais. O que define os processos são algumas
características: todo processo é dinâmico. Os processos são constituídos por
sequências não lineares de eventos. O processo tende a produzir normatividade,
mas, muitas vezes, até que esta chegue a termo há uma boa dose de
imprevisibilidade. Se a saúde é, como queria Aristóteles, equilíbrio instável,
ela exige que o cientista ou os estudiosos dos processos biológicos dediquem-se
ao estudo dos ritmos, também chamados de análise do ritmo orgânico, e fiquem
atentos aos fenômenos vitais.

Isso é o que as medicinas integrativas propõem. Não só a homeopatia com suas
supostamente enigmáticas doses infinitesimais, mas também as interferências
clínicas que não estão delimitadas exclusivamente pelo campo da bioquímica, mas
devem ser complementadas por estudos de biofísica, dos campos
bioeletromagnéticos, da informação que subsiste nas soluções ultra-moleculares
(Buck-balls ou fulerenos), e finalmente no efeito rapport resultante da relação
médico-paciente. Fiquemos com mais um trecho de Gaston Bachelard:

“Nada se opõe, aliás, a que uma substância homeopática, tendo
tomado a forma de pura vibração, seja reconstituída em seguida sob
forma de substância. Há, com efeito, exata reversibilidade da matéria
à ondulação e da ondulação à matéria. O papel da micro-substância
seria talvez muito simplesmente desencadear vibrações biológicas
naturais. Explicar-se-ia também que a dose ultradiluída se conserve
mais integralmente que uma dose maciça porquanto pode restituir-se.
Chegar-se-ia este paradoxo de que o infinitamente pequeno bem estruturado
e bem ritmado se perde menos facilmente que a matéria grosseira
e inerte.”

Engana-se quem reduz a homeopatia às doses mínimas, ela adota um outro sistema
de compreensão e valoração dos sintomas. Amplia os critérios de cura. Considera
que cada um tem uma forma pessoal de convalescer e readquirir a saúde perdida.
Assim também conclui o prêmio Nobel de medicina e descobridor do vírus da AIDS,
Luc Montaigner, que se surpreendeu com os achados quando investigou a ação de
fármacos ultra-moleculares.

Doses ultra-moleculares

Se a ciência ainda não dispõe de meios para testar tais substâncias  e
elucida-las isso não significa que “sejam nada” (sic) como vem afirmando
categoricamente a microbiologista e sua equipe para jornalistas resignados, mas
apenas que a detecção destas substâncias ainda prescindem de um estudo que
explique os fenômenos induzidos in vivo (nos seres vivos) e in vitro (em estudos
de laboratório).

Isso significa que existem evidencias do fenômeno mesmo sem uma explicação
consensual e formal que os justifique. O ceticismo científico é desejável e
salutar, desde que o espírito de investigação não seja obnubilado por convicções
que mimetizam dogmas. Axiomas e preconceitos que substituem perniciosamente a
objetividade intelectual.

E parece que a resposta mais inteligente ao sofrimento pode não ser apenas doses
progressivas de psicofármacos. Acrescente-se que ainda não se compreende
exatamente como práticas como Yoga, técnicas psicoterápicas, meditação,
massoterapia funcionam, mas elas produzem inegáveis resultados favoráveis para
muitas pessoas que a elas recorrem.

Os experimentadores de drogas neste processo patogenético (um dos elementos do
núcleo duro da episteme), revelam seus sintomas antecipando – em estados
fisiológicos modificados – suas predisposições nosológicas. Então o que
acontece? Antecipamos nosso potencial patológico. Organizamos nosso potencial
nosológico de forma mais rápida e eficiente. Podemos observar esses fenômenos
usando uma das ferramentas mais consistentes na episteme que guia a
metodologia:  as assim chamadas patogenesias (experimentação metódica das
substâncias medicinais ultra-diluídas). Muitos provavelmente desconhecem estes
elementos quando se dispõem a julgar o que fazer da prática homeopática.  É
surpreendente quantos insistem em não levar em consideração esses fenômenos que
podem apresentam reprodutibilidade verificável. Eis um experimento, fácil de
demonstrar com duplo ou triplo cego cruzado. E permanece acessível a qualquer
um, dos refratários céticos aos entusiastas fanáticos.

Que não se apavore quem pensa com horror nas experimentações, pois a indução de
sintomas pode acontecer com qualquer medicamento tradicional e com quaisquer
vicissitudes não iatrogênicas. E é essencial lembrar da origem empirista da
medicina. Sem esquecer de mencionar que existem apenas 10 medicamentos com
certificação 1A (ou seja, com comprovação de altíssima eficácia) de acordo com
os mais recentes papers científicos.

Saúde e enfermidade: uma medicina situada entre arte e ciência

Situada entre a arte e a ciência, a medicina do sujeito – uma medicina do
especificamente humano – será uma proposta viável como cuidado clínico efetivo?

É sob esta perspectiva que os temas da saúde e da doença deveriam ser abordados.
Como explicou o epistemólogo Karl Rothschuld, a medicina é e sempre será
“ciência operativa”, isto é, sempre exigirá alguma habilidade artística de quem
a aplica — no sentido “artesanal” — pois não pode ser reduzida a ciência pura.
Cada medicina integrativa adota um sistema de interpretativo  que não se limita
à uma farmacologia especial.

Se Hipócrates, o inventor da medicina científica por ter inventado a história
clínica, herança que perdura até os nossos dias na “escola hipocrática” — ainda
tem algo a oferecer aos humanos modernos, é que o binômio saúde-doença precisa
ser sempre compreendido dentro de um contexto:  o ananke physeos. Alguns
epistemólogos optam pelo termo traduzido “necessidade da natureza”. Ora, por que
a doença seria necessária? Se a patologia é uma necessidade da natureza, ela
deve servir para alguma coisa, vale dizer ter um propósito biológico. Tem um
significado. Não se trata de defender uma teleologia das doenças, mas constatar
que ela existe. Destarte, vivemos dentro de uma batalha entre padrões genômicos,
fenotípicos e as interferências do meio ambiente. Todos em combinações quase
aleatórias que nos pressionam no decorrer das nossas existências. Conservar a
saúde e evitar o adoecimento deriva destas combinações.

Neste ponto da história contemporânea a questão principal deveria ser: “haverá
um futuro para a medicina do sujeito?” Provavelmente, a grande contribuição da
medicina de tradição vitalista para a medicina.

Dar um novo sentido à tradição da medicina integrativa, herdeira de uma
concepção menos maquinal do sujeito, é colocá-la em contato com as principais
correntes do pensamento contemporâneo, da epidemiologia à filosofia, criando a
oportunidade para que essa medicina seja compreendida pelos pensadores atuais. E
tenha igualdade de oportunidades para ser ensinada nas escolas de ciências da
saúde com o mesmo estatuto do conhecimento standard.

Poderia ser resumido da seguinte forma: a saúde — como pensava Hans G. Gadamer é
um mistério — a patologia não. Em outras palavras, as chances probabilísticas de
perder a homeostase autorreguladora devem ser infinitamente maiores do que
manter a saúde. Há um enigma cuja elucidação é precisamente o papel do
pesquisador, que para ser bem sucedido precisa estar aberto ao contraintuitivo,
vale dizer encontrar comprovação de seu teste hipotético (tese) assim como
respostas inesperadas e mesmo contraditórias às suposições iniciais.

Métodos intuitivos na natureza e o desvio do órgão de choque

Organismos como pequenos roedores geralmente sabem que precisam de febre
artificial e se enterram na areia quente quando afetados por processos
infecciosos para melhor combate-los. A pergunta inevitável seria: afinal como
sabem que estão doentes e do que precisam para supera-la? Como sabem o que
precisam para se recuperar? Nos humanos outros fenômenos curiosos como a”pica”:
o desejo violento por ingestão de produtos normalmente incomestíveis:  terra nos
acometidos por anemia ferropriva, casca de tinta endurecida para naqueles que
tem deficiência de cálcio, madeira queimada ou ossos de animais para outras
deficiências vitamínicas ou de minerais.

Fenômenos que somente podem ser compreendidos através do momento e da vivência
clínica. Um sujeito angustiado com neurose fóbica migra da pulsão de angústia
para um certo bem-estar quando fica febril, ou enquanto desenvolve uma
sinusopatia. Aspectos que ficam mais evidentes quando uma função exonerativa, —
aquela que visa produzir e eliminar as secreções — está em andamento. Os
clínicos podem compreender e avaliar melhor tais processos do que os
pesquisadores por dois motivos: por estarem diretamente ligados a história
individual de cada paciente e por terem uma visão mais sistêmica e integrada dos
ciclos da natureza.

O neuropatologista Prof. Walter E. Maffei afirmou nunca ter visto, em sua vasta
experiência clínica e em autópsias que conduzia, um único doente mental crônico
no hospital psiquiátrico apresentar um quadro de bronco pneumonia como causa de
óbito. Fato aparentemente contraintuitivo, como ele mesmo enfatizava quando por
mais de cinco décadas foi diretor clínico do Juqueri. As pessoas desnutridas
têm, via de regra, a patologia pulmonar como o ponto final de sua existência,
mas não parecia ser este o caso quando se tratava de doentes mentais crônicos. O
patologista baseou-se na antiga, mas muito pertinente, teoria do “desvio do
órgão de choque”. Quando uma doença “migra” de uma região anatômica ou sistema
orgânico para outro. Quando se desloca para um órgão mais superficial produz
alívio para o paciente. O oposto também é verdadeiro quando, por exemplo,
dermatites e patologias de pele suprimidas pioram a condição pulmonar
preexistente no enfermo.

Por isso mesmo determinadas concepções e formas de abordagem clínicas não podem
ser reduzidas a resultados de laboratório ou vasculhadas apenas por imagens de
Ressonância Nuclear Magnética. Isso não significa que não sejam fenômenos
clínicos verificáveis, apenas que ainda não dispomos dos instrumentos para
compreende-los completamente. Se apenas 1% das verbas destinadas para pesquisas
pudessem ser disponibilizadas para investigar o mecanismo de ação de fármacos
infinitesimais e outras drogas experimentais talvez tivéssemos outro panorama. E
ai sim poderíamos decidir o impacto que a adoção ou rejeição destas terapêuticas
teriam como política preventivista e recursos para a saúde.

Devemos admitir a complexidade para poder chegar a um consenso sobre qual campo
a medicina deve abraçar para cuidar e curar especialmente quando se trata da já
mencionada atenção primária à saúde. A pergunta inevitável: como podemos ainda
nos iludir com evidências que se limitam ao controle de patologias sem levar em
conta o substrato subjetivo e geral dos pacientes enfermos? Para usar uma
expressão de Edgar Morin, a complexidade muitas vezes saudada ou evocada como
solução é muito mais – como enfatizei antes – um conceito de problema do que um
conceito de solução.

O resgate ético do sujeito

A evidência também deve ser produzida na virada ontológica da modernidade que
está no resgate ético do sujeito. Ou seja, existem outras dignidades conceituais
em ciência que não se limitam aos ensaios clínicos quantitativos. Estudos como
questionários de qualidade de vida em saúde, testes psicométricos, avaliação do
bem estar das pessoas são tão revelantes quanto o grau de eficiência de drogas
sobre entidades nosológicas.

Essa seria a discussão relevante, seja para os defensores ou para os críticos
das práticas integrativas. Sem ela, de fato tudo que escapa ao mainstream da
ciência standard, fica parecendo nonsense ou objeção/enaltecimento maniqueístas.
Por outro lado não cabe aos que praticam estas terapêuticas fazer o mesmo com
sinal invertido: render-se a defesa partisã, enunciar o monopólio terapêutico,
cristalizar o conhecimento acumulado como um monumento vitalício.

A volta do generalista e a retomada da atenção  primária à saúde

Qual será então a melhor forma para avaliar a eficácia da clínica praticada pela
homeopatia e das demais modalidades de medicinas integrativas? Em primeiro lugar
identificar o sistema referencial que orienta a semiologia, neste caso dirigido
para justificar uma medicina que deve incluir o sujeito. Mostrar que faz sentido
buscar capturar os aspectos biológicos, afetivos e mentais do “ser sofredor”.
Detectar não apenas traços característicos e singularizadores em cada pessoa
enferma, mas capturar o contexto e as circunstâncias que elucidam mutuamente
mente-meio-corpo-medicamentos. Este conjunto já mostraria que se trata de uma
fenomenotécnica. Que só faz sentido se o sujeito for reinserido num outro
sistema de notação médica, sem competir e jamais dispensar outras abordagens da
medicina contemporânea. Incorporar todos os procedimentos tecno-científicos
disponíveis com racionalidade, mas ao mesmo tempo recusar a separação arbitrária
imposta pelo excesso de especialidades.

Cada doença segue um curso distinto e se apresenta diferentemente em cada pessoa
e já evidencias muito concretas neste sentido. A medicina não deve expurgar o
estado subjetivo como objetivo legítimo de sua intervenção, ou delega-la aos
especialistas. E no auge do cientificismo imaginou-se que o estatuto da
patologia pudesse ser confinado exclusivamente à lesão somática. Mas o clamor
por um cuidado mais abrangente persistiu. Os experts são necessários, mas os
generalistas precisam ser prioridade. Foi à revelia da necessidade das pessoas
que a divisão entre mente e corpo cindiu a arte médica. E sua reunificação seria
a regeneração e o resgate do clínico geral e do médico de família.

Assim, o sujeito sob a perspectiva da antropologia médica se aproximará das
práticas psicoterapêuticas se incluir a figura do médico, ou seja, que sejam
treinados em uma anamnese mais generosa e compreendam a transferência, na
expressão e construção da linguagem, das narrativas e de seus significados.

A suspeita de que a patologia contém ou está contida em um substrato
disfuncional com sofrimento mental permanece como um desafio mesmo no mais
cientificista dos clínicos. Substrato que precisa ser abraçado e não expurgado
como “pseudociência” ou “não científico” (sic). Isso merece máxima atenção a
quem se dedica a uma investigação séria que ultrapasse as arquibancadas do senso
comum. Não pode mais ser ignorado por qualquer clínico atento. Por qualquer um
que entenda a ciência em uma dimensão mais ampla do que o reducionismo insiste
em exaltar.

Enfermidade, mal estar, sofrimento, qualidade de vida e para bem além da
psicofarmacologia

Cito a famosa definição do médico francês, fundados da histologia, Xavier Bichat
“a vida é o conjunto de fatores que resistem à morte” (Bichat, 1829). Mas há
também o seguinte desenvolvimento possível: a vida nasce sob o signo da
mortalidade, tensão que permanece ativa e nos acompanha até os nossos últimos
dias.

Ficar doente não é apenas a vigência do mal estar, mas também não reconhecer a
coautoria dos sintomas; ou simplesmente atribuir a patologia a algum agente
exclusivamente exógeno. Afinal, ser agente de si mesmo é recuperar imediatamente
o horizonte do auto-cuidado e aumentar a acuidade da atenção à vida. O processo
saúde-doença é, mesmo na opinião de alguns, uma luta. Luta entre saúde e doença
e, portanto, entre vida e morte e até mesmo resignação e ambição.

Isso significa mais ou menos o seguinte: podemos dizer que sofrimento é doença? 
Podemos ou não chamar essa força ancestral destrutiva de miasmas, vírus,
meiopragias ou de quaisquer outro nome. Se o sofrimento é inerente ao gênero,
quais são os limites para considerá-lo uma doença? E se entendermos o sofrimento
não como um estado penitencial, mas como uma incapacidade mais ou menos
importante para se dedicar ao auto-cuidado?

As patologias não são no entnder de Lain Entraldo “localizadas”, não se limitam
a um só lugar. Quando bem investigadas nota-se como permeiam toda a economia do
sujeito. Encontram-se arraigadas junto com outros sintomas que podem ser mais
antigos ou mais recentes. Ou seja, a despeito das aparências, a moléstia é
sempre sistêmica. Primeiro o mal estar (illness) e depois a moléstia
propriamente dita (disease) Para desmontá-la, portanto, é necessário ver o mapa
completo do organismo afetado, bem como as circunstâncias ambientais.

Uma angústia pode ser benéfica, assim como uma depressão, desde que seja
recriadora ou regeneradora. Pode ser um traço melancólico a ponto de ser só mais
um item na vasta carga existencial. Mas pode determinar o curso de patologia.

Uma das questões centrais da medicina tem sido subestimada e parece
propositalmente ausente de muitas discussões epistemológicas contemporâneas. O
avanço da tecnociência na produção de insumos farmacêuticos trouxe avanços
impressionantes nas áreas de imunizantes, próteses e órteses, reabilitação,
associado à crescente – e bem-vinda – sofisticação dos diagnósticos. Estes
avanços entretanto produziram simultaneamente  um efeito colateral danoso: o
superdiagnóstico. Assim como erroneamente deslocou quase todas as questões
relacionadas ao sofrimento mental e à individualização dos sintomas da medicina.
Dito isso, perguntamos como as práticas médicas podem voltar a incorporar e
lidar com a subjetividade de cada doente?

Via de regra, a solução tem sido encaminhar esses pacientes para o uso
sistemático de psico-fármacos. Mas a solução pode não estar no treinamento de
clínicos gerais para administrar drogas psiquiátricas. A referência ao eufemismo
denominado “re-humanização da medicina” pode estar em dar outra abordagem, como
por exemplo, resgatar uma perspectiva antropológica para a medicina
independentemente do método médico adotado

No lugar de torneios terapêuticos ou histrionismo midiático estas seriam as
questões que realmente interessam à sociedade.

Convido os leitores para esta reflexão: não se trata de opinião, trata-se de uma
questão de episteme.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/a-insubstancialidade-e-o-nada-questao-de-episteme/

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/a-insubstancialidade-e-o-nada-questao-de-episteme/




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MUTAÇÃO DA LINGUAGEM II – A OBSOLESCÊNCIA DO CONCEITO DE DISSUASÃO.
(BLOG ESTADÃO)


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Mutação da linguagem II – A obsolescência do conceito de dissuasão sobre
fanáticos

Dissuadir : Desanimar, fazer cair os braços, arrefecer o entusiasmo, servir de
freio, desengodar, entibiar, fazer frio a alguém, expulatório (Dicionário
Analógico, Azevedo, F.F.S) 



Meus antepassados sempre temeram os eventos revolucionários e
contra-revolucionários, em ambos eventos os judeus eram culpabilizados pelas
políticas disruptivas da incompetência e das desmesuras dos governantes. E
sempre funcionou. Como se sabe nazismo e comunismo repartiam, neste aspecto, as
mesmas convicções, enquanto um se referia à “solução final” o outro o chamava de
“problema judaico”. O que a guerra atual desvelou foi a falsa noção de
estabilidade. E reativou fantasmas hibernados através da magia da iniciativa.
Isto é, a decisão de agir para fazer o impensável.

As tropas russas romperam todas as linhas imagináveis ao promover a invasão da
Ucrânia. Sob o mito do líder ousado e do heroísmo patriótico o presidente da
Federação russa reabriu a a caixa de surpresas da história a qual, na verdade,
nunca foi vedada. A ilusão de controle que o ocidente imaginava possuir foi
subitamente desmantelada, e como em toda ameaça, a neurose trouxe uma resposta
mais estoica do que efetiva. Do outro lado, o porta voz do exército que junto
com aliados britânicos e americanos libertou a Europa de Adolf mostrou-se
legítimo herdeiro do anedótico pacto de não agressão Stalin-Ribentropp que
alinhavou o nacional socialismo alemão com o socialismo soviético. Enquanto
continua anunciando que um dos objetivos é a desnazificação de um País cujo
presidente é um ex comediante judeu que respondeu às múltiplas ofertas de exílio
afirmando: “não preciso de carona, preciso de munição”. Aliás, a camiseta com a
frase icônica está a venda na Amazon por U$ 18.

Minha hipótese diverge da maioria dos analistas.  Nunca houve “erro de cálculo“
de Putin ou “grosseira sub avaliação das inevitáveis represálias” já que a
decisão do chefe maior das forças armadas nunca esteve baseado em “cálculos” mas
sim em vontade de poder guiada por uma nostalgia fanática de um império que foi
pulverizado por suas próprias vicissitudes. A ideia era acirrar o conflito
latente. Traze-lo à vigência. Remontar uma nova cortina de ferro desta vez
forrada com urânio enriquecido. Travar a batalha final. Acusar o “decadente
inimigo ocidental” de ter feito das suas não ameniza o avanço infernal sobre
milhões de vítimas civis.  As supostas ameaças que motivaram a invasão são
álibis justificacionistas. Álibis que vem carreando o fio mitômano do regime
pós-soviético. Eles nunca são desprovidos de racionalizações cujo suporte pode
ser geopolítico ou simplesmente ideológico. E são estas justificativas que hoje
os conduz com certa naturalidade à selvageria em Bucha, os dois mísseis
balísticos que explodiram sobre civis na estação de trem de Kramatorsk, e
sabe-se lá quantas outras indiscriminadas campanhas militares letais em larga
escala.

A jogo do megalomaníaco com vasto poder é similar ao de um chantagista. Quando
se tem ogivas em submarinos invisíveis a chantagem assume dimensões
escatológicas. Por isso mesmo são sujeitos, ou grupo de pessoas, totalmente
refratários ao argumento dissuasivo. Quiçá, imunes à qualquer argumentação. A
pauta dissuasiva pode ou não funcionar para pessoas que tem no perigo da
extinção individual ou coletiva uma clara linha demarcatória. Mas o que dizer
das concepções pautadas em compreensões distorcidas?

Serão os tiranos — eleitos ou não através do voto popular — susceptíveis à ideia
abstrata de que ao recorrer às técnicas de homicídio indiscriminado estarão
adiante sujeitos à uma retaliação proporcional? Herbert Marcuse em seu célebre
“Ideologia da Sociedade Industrial” escreveu que as armas nucleares poderiam
paradoxalmente trazer a liberdade pelo saudável temor de extermínio mútuo. Bem,
Marcuse estava equivocado. Não previu que uma casta de governantes delirantes,
mesquinha, e sobretudo autocrática, sempre poderia chegar ao poder novamente.
Sempre sob eleições inauditáveis, e, em alguns casos, sem o risco da
concorrência já que em muitos regimes as urnas são curiosas e/ou a oposição não
passa de um fantoche da situação. Para estes, jamais será possível compreender o
refinado e subjetivo conceito de dissuasão.

Não, não é só o chefe da federação russa que sofre desses males, mas vários
políticos de várias matizes. Porquanto, é incompreensível a parcimônia e a
indulgência com crimes de guerra daqueles que identificam a atual diretoria do
Kremlin com simpatia por ter um matiz “conservador”(sic) que estaria lutando
“contra forças progressistas”(sic)  representadas por exemplo pela União
Europeia. Que também apresenta dilemas morais. Na Alemanha, na hipótese de
renúncia do gás e óleo russos, o PIB sofrerá uma queda de 6% e a recessão será
inevitável em 2023. Vale dizer, melhor manter o fluxo do gasoduto do que
interromper a máquina de guerra russa? É um cálculo dificílimo, mas o resultado
seria evidente se a compaixão e a inteligência estivesse acima das razões
econômicas. Portanto, nem uma coisa nem outra. A origem dos sonhos do
revisionista Wladimir, é, em suas próprias palavras “restaurar a grandiosidade
do império soviético” e suas ambições são “nobres” nesta guerra cuja missão é
“libertar o povo ucraniano”. Não há blefe. Em seu sistema moral isso faz todo
sentido, por isso mesmo o que ele representa é tão perigoso.

O ex-campeão mundial de xadrez, o dissidente russo exilado Garry Kasparov
afirmou que, de fato, será preciso desnazificar a europa: começando pelos
dirigentes russos. O fato desolador é que o nazismo e suas diversas vertentes
que deveriam estar enterrados em valas sem identificação junto com seus
fundadores via de regra reemergem, às vezes como ideia, vocábulo ou ideologia.

Para além da mutação da linguagem, os significados das palavras continuam em
transe. Um transe que nos coloca diante de uma ruptura sem precedentes.

Não será apenas uma reedição de Babel, pode ser um longo caminho de terras
devastadas.

Para variar, a história bem que poderia nos pregar uma peça favorável.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/mutacao-da-linguagem-ii-a-obsolescencia-do-conceito-de-dissuasao/


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THE WEST’S UNFORGIVABLE PERPLEXITY


DESTACADO

The West’s Unforgivable Perplexity

(Peace is the refusal of barbarism)

No, we haven’t been begging.

We’re on our knees, but not for you.

Never before you.

From now on we chose who would force us into relegation.

We are not begging. Know why?

Inside us, there was something remarkable, an indefinable awareness.

More than that, a sharp and disparate spark.

I don’t even know if we should share it with you.

But you can visit it whenever you remember the keyword.

Keyword that never got to inhabit your mouth.

We will never beg.

Because we have an impulse that takes us far beyond reason.

Of your reason.

We don’t capitulate

We confuse ourselves with expressions that your eyes cannot access.

And for that, but not only for that, we put ourselves in front of your armored
vehicles.

We face your bullets, artillery, mortars and crossfire.

There is an honor, elusive for you

Inconceivable to those around you.

She stands in stark contrast to hubris.

And if we return to life, we will dwell in it.

nothing to beg

Here is an honor that endures in the graves and in the streets

In ruins and minefields.

Eight decades ago we were buried with the rubbish of history

Submerged in the waste that Europe blew us away.

However, as the subterranean patience of the cicadas

We will reappear from time to time, like ghosts without gags.

Not to haunt you.

But to make an anthem sound

Whose frequency you do not reach.

we are not begging

Unlike your hosts, not even revenge attracts us.

There are those who reaffirm the educational power of wars

Or the importance of prudent neutrality.

We? We have already overcome this illusion.

Our union is not for the geopolitical homeland.

It was not organized by collusion, agreements or concessions.

Turns out there is one.

Only a praiseworthy fanaticism: that which you do not conceive.

The one that stuns you, the one that your logic cannot unravel.

The one that brings you vertigo, insomnia and madness.

A word that shifts the axes of constancy

That overcomes the tomorrows of old mistakes.

Such a word is spelled in the air, scratched on the slopes

Grooved in the woods, floating in the resin of the tides

Her fanatics do not fear blackmail.

we don’t beg

We knew how to circumvent the perversions of language.

We have overcome your threats to erase us from the world.

We fully understand who your allies are.

Those who benefit from Western autonomy.

Our vision is permeated with this atmosphere.

We are fast and diaphanous

Your missiles will not pursue us.

Miraculously pass through us

Since we once became vapor.

We are the residual smoke of those who lost.

There is nothing to beg.

We are ethereal, weightless and permanent.

Does our ubiquity bother you?

If you call on us, you won’t know where we are

Will we be in the whirlpool that spins you?

Are we still invisible to your binoculars?

We will certainly notice the active executioners.

And we discern the anti-value of each.

we will not bend

We know that history abruptly awakens from lethargy.

We sense the anesthesia of those who should break neutrality.

Fade hypnosis in favor of humanity.

It’s been a long time since our naivety was ripped from us

We conquered the malice of the resistance

Inside the armored basements with courage.

Inside the epiphany: self-defense is so sacred

like life itself

Many out there don’t understand what this is about.

Will never penetrate the meaning

Forget the Iron Curtain

The West’s bewilderment is the very curtain of shame

It is the temporary smoke of the rogue.

From the rain of lies that bury the civilians

As they let the ivory run

Nihil agere

we will never beg

We will leave at the right time to burst over and beyond your detours.

From now on, no path will be safe.

Another type of refinement will appear on our radar.

It captures ignominies, registers the camouflaged inertia of collaborationist
pacifism

Records the noise of cluster bombs.

It photographs cowardice covered by military technicality.

Ah, you want to know which side we’re on?

Of those who never moved a millimeter from the trenches

It’s a side battle

Of the primitive against the subtle, of tyranny against justice.

From slavery to the emancipation of autocrats

Yes, it’s our duty to point fingers at criminals

Even those protected by insignia, badges and titles.

Even those we’ll never see the dark faces

no begging

There is a hidden quality in obstinacy,

She reveals herself in the determination

If necessary, against consensus,

If necessary, against common sense

often against all

Now that your pumps subtract the oxygen

Under the melancholy gaze of the common people’s exodus

Under the immoral silence of the allies

Now that the never fell apart in surprise

you know?

This missive was intended for frightened diplomats,

Now I address myself directly to the misery that is your conscience.

Peace is a quality that can only be consolidated under heat.

It is only forged in the pressure of the challenge

It is only possible under the decency of the union.

Inaction becomes impossible.

Peace is the refusal of barbarism.

brasil.estadao.com.br

The unforgivable perplexity of the West (Peace is the refusal of barbarism)

The unforgivable perplexity of the West (Peace is the refusal of barbarism) No,
we do not


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Publicado por Paulo Rosenbaum | Filed under Artigos

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AMNESTY INTERNATIONAL’S DISTURBING ANTI-SEMITIC BIAS


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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The indestructible aggregating power of solidarity

X

Amnesty International’s disturbing anti-Semitic bias

Paulo Rosenbaum

The post-war world generated a radical rearrangement of political forces and a
transformation of strategic alliances. Less than 15 years later, the world was
surprised by the tensions of the cold war and its repercussions, with new
alignments. In the transformations that the world has undergone in these 77
years, one constant has remained disturbingly unscathed. Disturbing, because it
was at the root of the beginning of the conflicts, not only as a backdrop, but
as a harbinger of times when the preaching of hatred and intolerance was
legitimized under the rhetoric of totalitarianism. We imagined, like so many,
that from the brutality and extent of the Shoah ‘s tragedy, a conscience emerged
by coercion, almost as a necessity, a self-preserving civilizing imposition of
humanity that curbed fanaticism and savagery.

The foundation of the State of Israel in 1948 would function as the corollary of
this need for peace, and that conflicts could undergo a successful
intermediation, under the influence of the culture of non-violence and dialogic
in successive approaches. That is to say, Israel would be the living symbol of
this conscience that was born under intense pressure.

Unfortunately, this is not what we witnessed.

And developments of this kind have been happening, despite all the attempts and
concessions made, despite the advances of the peace agreements that culminated
in the historic record of the Oslo negotiations, despite all the attempts at
cooperation to create two states, establish a definitive status to disputed
regions and solve the refugee problem (read the excellent just-published “The
War of Return”) which, incidentally, was never exactly brought to public opinion
as a true-to-fact narrative.

There was, moreover, a noxious, well-fueled, and very well-financed engine
operating behind the scenes—and above—the diplomatic networks. A gear of
sabotage that never ceased, that was never dismantled after the dismantling of
the Nazi gang and its well-articulated ideology of a supremacist and
anti-Semitic nature, that is to say, anti- Zionsemite .

It is an ideology that continued to operate in hearts and minds initially in the
Middle East, but also in European culture, to finally, in the mid-21st century,
contaminate and infect the world with a toxicity never seen before.

The explosion of anti-Semitism – under the old and tinged cloak of anti -Zionism
– could no longer disguise its segregating nature , and openly inimical to
peacemaking tendencies. From denial of the holocaust, to conspiracy theories
that indistinctly demonize Jews and Israel in the same proportion, from
justificationist jihadism to the unusual union of the extreme right and extreme
left xenophobic and/or nationalists, a very dangerous global movement was
formed, at this moment particularly obsessed with boycotting the Hebrew state
and its inhabitants.

Often, using ploys such as disinformation, slander, going as far as lawlessness
as exhorting violence and encouraging terror against Jews worldwide. The most
recent was Amnesty International’s report of notorious intellectual dishonesty,
using an age-old slogan and accusing the Hebrew state of “ aparhtheid ” (sic).
Evidently using the slogan from a bias of ideological orientation where,
basically, those who operate the defamation machine have already shown their
biased character – if only I could designate a tendency towards justice. But
this is no longer just an unacceptable stain on institutions, which weaken as
they are dominated by the need for justice, but to obey the agendas and menus of
an anachronistic ideology. If neo-Nazism grows, so does its antipodes on the
extreme left – whose project of power shares more points than they would like to
admit, such as support for tyrannical regimes, control of the press and
restriction of individual freedom – and they begin to operate almost together in
a broad front of justificationist anti-Semitism .

There was, therefore, an explosion of pent-up hatred and resentments. Hatred
that has culminated in hostilities and anti-Semitic narratives spread throughout
the world, especially in the old continent, arriving, more recently, in the
United States. And the UN itself, which should be the bulwark of equanimity and
the cradle of dialogue between peoples and nations – who could have imagined it
– has adopted an anti – Israel bias . UNRCH, that entity’s human rights
commission, for example, issued 148 resolutions condemning governments around
the world, 49% of them against Israel. In recent years of the 123 convictions,
83.7% targeted the Israeli government. Do you suspect? Just look at the numbers:
it is self-evidence.

And here, yes, under our eyes, happens the scourge of the repetition of old
mistakes. The world’s media have been echoing with shyness and excessive
neutrality news that would deserve indignation, outrage, denunciation and
energetic positions. They naturally accept aberrations that should be extinct,
relegated to historical limbo. It is undeniable that important favorable
advances existed in the period, I cite, for example, the Abrahão agreements and
a greater flow of intercultural dialogues, however, unfortunately, they do not
reach public opinion with the same ease as the vituperation and backbiting
insinuations against the Jews. .

Faced with such an adverse context, the great novelty lies in the emergence of
courageous and active organizations such as the “ honest reporting ” and “stay
with us” among many others. They are institutions like StandwithUs that fight
for clarification, discernment and the truth, building the work of elucidation
for the general public. And that, at the same time, adopts a democratic and
considered conduct, avoiding the partisan posture , including, when necessary,
criticizing the positions of Israeli extremists.

It is these institutes and their collaborators that give voice to the
denunciations and that rise up against anti-Semitic, that is to say, anti- Zion
-Semitic persecutions . And, at the same time, they condemn violence and
intolerance, wherever they come from. Campaigns coordinated by various entities,
including Standwithu s (stay with us), not only honor the tradition of Yiddish
kait (Jewish culture) in defense of a civilizational tradition, but promotes the
culture of peace. Culture whose prerogatives are the coexistence of peoples,
political and religious freedom, respect for the sacred and its traditions.

The Jewish way of solving problems will always be to shed more light on the
issues, as opposed to obscurantism, sensationalism or escalating conflicts.
That, even, or especially, when dealing with difficult topics, especially the
thorniest. But we will impose a small particularity: light can and must come
from understanding, but we will not shirk the right to denounce those who use
the information to, when deviating from the dialogue – use slander as a weapon
of war in massive propaganda of attrition as just made Amnesty International.

So stay with us, being together is the most eloquent answer to intolerance, and
above all an example of the indestructible aggregating power of solidarity.

Shalom _


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O INDESTRUTÍVEL PODER AGREGADOR DA SOLIDARIEDADE X O VIÉS ANTISSEMITA DA ANISTIA
INTERNACIONAL (BLOG ESTADÃO)


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Paulo Rosenbaum

O indestrutível poder agregador da solidariedade

X

O perturbador viés antissemita da Anistia Internacional

Paulo Rosenbaum



O mundo do pós-guerra gerou uma radical rearranjo das forças políticas e uma
transformação nas alianças estratégicas. Menos de 15 anos depois, o mundo foi
surpreendido com as tensões da guerra fria e suas repercussões, com novos
alinhamentos. Nas transformações que o mundo sofreu nestes 77 anos uma constante
permaneceu perturbadoramente incólume. Perturbadora, pois ela esteve na raiz do
início dos conflitos, não apenas como pano de fundo, mas como prenúncio de
tempos em que a pregação do ódio e da intolerância se legitimaram sob a retórica
dos totalitarismos. Imaginávamos, como tantos, que pela brutalidade e extensão
da tragédia da Shoah uma consciência emergisse por coação, quase como uma
necessidade, uma imposição civilizatória auto preservadora da humanidade que
coibisse o fanatismo e a selvageria.

A fundação do Estado de Israel em 1948, funcionaria como o corolário desta
necessidade de paz, e de que os conflitos poderiam sofrer uma intermediação
bem-sucedida, sob a influência da cultura da não violência e do dialógico em
aproximações sucessivas. Vale dizer, Israel seria o símbolo vivo dessa
consciência que nasceu sob intensa pressão.

Infelizmente, não foi isso que testemunhamos.

E desdobramentos deste gênero vem acontecendo, apesar de todas as tentativas e
concessões feitas, apesar dos avanços dos acordos de paz que culminaram com o
histórico registro das negociações de Oslo, apesar de todas as tentativas de
cooperação para criar dois estados, estabelecer um status definitivo para
regiões em disputa e resolver o problema dos refugiados (leia-se o excelente
recém-publicado “A Guerra do Retorno”) que aliás nunca foi exatamente trazido
para a opinião pública como uma narrativa fiel aos fatos.

Havia, além disso, um motor nocivo, bem alimentado e muito bem financiado
operando nos bastidores – e acima — das redes diplomáticas. Uma engrenagem de
sabotagem que nunca cessou, que jamais foi desmantelada após a desarticulação da
quadrilha nazista e sua bem articulada ideologia de natureza supremacista e
antissemita, vale dizer antizionssemita.

Trata-se de uma ideologia que prosseguiu operando nos corações e mentes
inicialmente no Oriente Médio, mas também na cultura europeia, para enfim, nos
meados do século XXI, contaminar e infectar o mundo com uma toxicidade jamais
vista.

A explosão de antissemitismo – sob a velho e tingido manto do antissionismo –
não conseguiu mais disfarçar sua natureza segregadora, e abertamente inimiga das
tendências pacificadoras. Da negação do holocausto, às teorias conspiratórias
que indistintamente demonizam judeus e Israel na mesma proporção, do jihadismo
justificacionista à insólita união da extrema direita e extrema esquerda
xenófobas e/ou nacionalistas, formou-se um perigosíssimo movimento global, neste
momento particularmente obcecado em boicotar o estado hebreu e seus habitantes.

Muitas vezes, usando manobras como desinformação, calúnias, chegando à
ilegalidade como a exortação de violência e incentivar terror contra judeus no
mundo todo. O mais recente foi o relatório de notória desonestidade intelectual
da Anistia Internacional, usando um velhíssimo lema e acusando o estado hebreu
de “aparhtheid” (sic). Evidentemente usando o slogan a partir de um viés de
orientação ideológica onde, basicamente, quem opera a máquina de difamação já
mostrou seu caráter – oxalá designasse uma tendência a justiça – tendencioso.
Mas esta não é mais apenas uma mancha inaceitável nas instituições, que se
enfraquecem na medida que são dominadas no pela necessidade de justiça, mas de
obedecer agendas e cardápios de uma ideologia anacrônica. Se o neonazismo
cresce, cresce também os seus antípodas na extrema esquerda – cujo projeto de
poder compartilha mais pontos do que gostariam de admitir tais como como apoio a
regimes tirânicos, controle da imprensa e cerceamento da liberdade individual –
e passam a operar quase juntos numa ampla frente de antissemitismo
justificacionista.

Notava-se, portanto, uma explosão de ódio e ressentimentos represados. Ódio que
vem culminando em hostilidades e narrativas antissemitas espalhados por todo o
mundo, especialmente no velho continente chegando, mais recentemente, aos
Estados Unidos. E a própria ONU que deveria ser o baluarte da equanimidade e o
berço da interlocução entre os povos e nações — quem poderia imaginar- tem
adotado um bias anti-Israel. A UNRCH, comissão de direitos humanos daquela
entidade, por exemplo, emitiu 148 resoluções condenando governos do mundo todo
49% delas contra Israel. Nos últimos anos das 123 condenações, 83,7% tiveram
como alvo o governo israelense. Desconfiam? Apenas olhem para os números:
trata-se de uma auto-evidência.

E aqui, sim, sob os nossos olhos, acontece o flagelo da repetição de erros
antigos. As mídias mundiais vêm ecoando com timidez e neutralidade excessiva
notícias que mereceriam indignação, ultraje, denúncia e posicionamentos
enérgicos. Aceitam, com naturalidade, aberrações que deveriam estar extintas,
relegadas ao limbo histórico. É inegável que avanços favoráveis importantes
existiram no período, cito, por exemplo, os acordos de Abrahão e um maior fluxo
de diálogos interculturais, porém, infelizmente eles não chegam ao conhecimento
da opinião pública com a mesma facilidade dos vitupérios e insinuações
maledicentes contra os judeus.

Diante de contexto tão adverso, a grande novidade está no surgimento de
organizações corajosas e ativas como o “honest reporting” e o “fique conosco”
entre outras tantas. São instituições como o StandwithUs que lutam pelo
esclarecimento, discernimento e a verdade, construindo o trabalho de elucidação
para o grande público. E que, ao mesmo tempo, adota uma conduta democrática e
ponderada evitando a postura partisã, inclusive, quando necessário, criticando
posicionamentos de extremistas israelenses.

São estes institutos e seus colaboradores que dão voz às denúncias e que se
insurgem contra as perseguições antissemitas, vale dizer, antizionssemitas. E,
simultaneamente, condenam a violência e a intolerância, venha de onde vier. As
campanhas coordenadas por várias entidades, entre as quais a Standwithus (fiquem
conosco), não apenas honra a tradição do idish kait (cultura judaica) na defesa
de uma tradição civilizatória, mas promove a cultura da paz. Cultura que tem
como prerrogativas a coexistência dos povos, a liberdade política e religiosa, o
respeito ao sagrado e às suas tradições.

O caminho judaico de resolver os problemas será sempre jogar mais luz nas
questões, em oposição ao obscurantismo, sensacionalismo ou escalar os conflitos.
Isso, mesmo, ou especialmente, quando lidando com temas difíceis, sobretudo os
mais espinhosos. Mas imporemos uma pequena particularidade: a luz pode e deve
vir do entendimento, mas não nos furtaremos ao direito de denunciar aqueles que
instrumentalizam a informação para, ao desviar-se da interlocução – usa a
calúnia como arma de guerra em propagandas maciças de desgaste como acaba de
fazer a Anistia Internacional.

Portanto, fiquem conosco, estar juntos é a reposta mais eloquente à
intolerância, e, sobretudo, um exemplo do indestrutível poder agregador da
solidariedade.

Shalom.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/o-indestrutivel-poder-agregador-da-solidariedade-x-o-perturbador-vies-antissemita-da-anistia-internacional/




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APRESENTO O BOOK TRAILER DO LIVRO “NAVALHAS PENDENTES” . PRODUÇÃO DE EDUARDO
SANTOS, ORGANIZAÇÃO DE LYSLEI NASCIMENTO. INVESTIGUEM ENQUANTO É TEMPO!


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Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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RESENHA DO LIVRO “NAVALHAS PENDENTES” POR JULIO JEHA PUBLICADO NO “O ESTADO
DE MINAS”


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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LITERATURA


TRAMA DE ‘NAVALHAS PENDENTES’ EMBARALHA OS LIMITES ENTRE AUTORIA E PLÁGIO

Livro de Paulo Rosembaum usa uma editora de best-sellers artificialmente
forjados por um algoritmo para falar sobre originalidade e criação literária

--------------------------------------------------------------------------------

27/10/2021 04:00 – atualizado 27/10/2021 00:36
compartilhehttps://audio8.audima.co/iframe-later-estado-de-minas-audima.html?skin=estado-de-minas&statistic=true&clientAlias=

Julio Jeha* Especial para o Estado de Mina

Quando um autor se apropria de uma obra preexistente e lhe dá outra forma, outro
significado, como fizeram as dezenas de dramaturgos que recontaram a história de
Pigmaleão e Galateia, isso é plágio ou é apenas a literatura como ela sempre
foi?  Já na “Bíblia”, o autor do Eclesiastes declarava: “O que foi tornará a
ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol”. Tal
constatação milenar está no cerne do romance “Navalhas pendentes”, de Paulo
Rosenbaum, atualizada com algoritmos e mercados globais, inteligência artificial
e autores incógnitos.


A literatura fala do ser humano no mundo. A literatura fala de si mesma. Esse
aparente paradoxo se dissolve ao pensarmos em qualquer obra de ficção: se é da
humanidade que se trata, então toda vez que o texto literário se refere a outro
texto semelhante, ele está se referindo, também, à experiência humana. 


Isso se torna claro no romance de Rosenbaum, porque, além de outras questões,
trata de originalidade e plágio, mercado e criatividade, memória e ficção,
inteligência artificial e o que significa ser humano. Acrescentem-se os
conceitos de autorreferência e recursão, e teremos uma obra do nosso tempo que
discute a natureza da literatura, mas que se aplica igualmente a outras artes.


MANUSCRITOS

 Rosenbaum tece uma bem-urdida história em torno de uma editora que produz mais
best-sellers do que seria razoável, escritos principalmente por Karel F., um
autor que ninguém sabe quem é. Quando o personagem Homero Arp Montefiore é
contratado para avaliar manuscritos submetidos à publicação, as coisas começam a
se complicar. 
Ele desconfia de que algo ilícito está acontecendo no recôndito da editora. A
trama se adensa quando uma das maiores casas editoriais do mundo propõe uma
fusão com sua congênere nacional. Assassinatos, fugas e desaparecimentos
ocorrem, assim como a culpabilização do narrador, que busca entender o que lhe
está ocorrendo.


Homero é o nome do narrador de “Navalhas pendentes”, mas também é o do suposto
fundador da literatura europeia, de cuja obra deriva tudo o que escrevemos e
lemos até hoje. Outra referência literária é Karel, tão incógnito quanto Elena
Ferrante, pseudônimo de uma escritora italiana, também autora de best-sellers,
tão elusiva quanto o autor brasileiro.
Esse autor, supostamente brasileiro, tem o mesmo nome de Karel Capek, escritor
tcheco que escreveu a peça “R.U.R. (Robôs Universais de Rossum)” em 1920, sobre
a robotização de operários. Seria coincidência, no enredo, Homero submeter, sob
pseudônimo, “A fábrica de robôs latinos” para avaliação da editora? Ou ele está
recorrendo ao que já foi feito para criar uma obra para outro mercado em
contexto diverso daquele em que a palavra “robô” foi primeiro introduzida?


Talvez a noção que mais ocupe o narrador seja a da memória, que aparece sob
diversas formas no texto, associadas quase sempre à recuperação dos eventos que
lhe aconteceram e que o incriminam. As referências ao passado se dão também
quando ele tenta se reconhecer como indivíduo, numa possível caracterização de
si mesmo como uma personagem em uma trama. 
Porém, como hoje sabemos, a memória recria mais do que repete o acontecido.
Então, o Homero apresentado ao leitor é verdadeiro, num mundo ficcional, ou é
recriado por um processo imaginativo, tal como um autor cria suas personagens?
Seria a narrativa de Homero autoficção dentro da ficção?


ALGORITMO 

Essas e outras perguntas vão encontrar respostas no algoritmo encomendado pela
editora holandesa, o verdadeiro gerador dos inúmeros best-sellers mundiais. A
partir de manuscritos rejeitados, o programa consegue combinar trechos em textos
orgânicos que fazem sentido e provocam emoções nos leitores. O algoritmo
precisou aprender não apenas sobre logos, mas também sobre páthos para que seus
livros pudessem passar por obras escritas por humanos. 
Voltamos aos parágrafos iniciais desta resenha: a combinação de textos
preexistentes para dar à luz outros é plágio ou apenas uma releitura, uma
reciclagem de elementos do nosso repositório cultural? Shakespeare usou material
de autores anteriores para criar suas peças, e não se fala de cópia. Afinal, a
significação depende do contexto – nenhum signo tem sentido no vazio.


Essa capacidade recursiva da literatura se alia à de autorreferência no final de
“Navalhas pendentes” para surpreender o leitor, que não deveria se espantar em
vista do que a narrativa vinha indicando. 
Falar mais revelaria o desfecho que Paulo Rosenbaum dá ao livro. Basta dizer
que, a partir da forma do romance de enigma, o autor atualiza a discussão tanto
do fazer literário quanto do mercado editorial. E o faz numa narrativa fluida
que alia questões éticas e estéticas a denúncias políticas.


*Julio Jeha é professor de literaturas de língua inglesa na Faculdade de Letras
da UFMG


“NAVALHAS PENDENTES”

• Paulo Rosenbaum • Caravana Grupo Editorial  (328 págs.) • R$ 62,90  

 * Tags:
 * #lançamento
 * #livro
 * #paulo rosembaum
 * #navalhas pendentes




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NAVALHAS PENDENTES (PORTAL DA GLORINHA COHEN)


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Imprensa

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PRÉ-LANÇAMENTO DE “NAVALHAS PENDENTES”, O NOVO ROMANCE DE PAULO ROSENBAUM

Postado em 18 de setembro de 2021 Por admin FIQUE POR DENTRO, ROTATIVAS



“O romance Navalhas pendentes, de Paulo Rosenbaum, é, sobretudo, uma armadilha
que, entre citações, ironias e referências intertextuais, arma e desarma a
leitura. A trama põe em perspectiva a sanidade do narrador e a linearidade da
história. Complô, ilusão e farsa fazem do enredo um labirinto e fazem
multiplicar realidades instáveis ou fantasias existenciais de um protagonista
que, aparentemente, não merece muita credibilidade. Desde o início, o leitor
sabe que está pisando em solo movediço, afinal, amnésia é uma das palavras-chave
que, intermitentes, funcionam como faróis precários no nevoeiro. O narrador,
Homero Arp Montefiore, tal qual o seu homônimo grego, faz precipitar as certezas
por um vórtice e, se Goya tinha razão e o sono/sonho da razão produz monstros,
tanto um quanto o outro assombram o personagem com lâminas que se inscrevem na
narrativa, como signos denunciadores. Sobre o herói e os crimes imputados ou
cometidos por ele, pesam navalhas, facas, canivetes e outros fios mais sutis.
Daí serem sempre pendentes tanto as ameaças e quanto as certezas. Nesse sentido,
quando o personagem, revisor de textos e aprendiz de escritor, se corta com o
gume de uma folha de papel, aguçam as lembranças do leitor estudos em vermelho,
fisiologias da composição, punições para a inocência e mortes ao pé da letra.
Uma gota de sangue sobre o papel não é rastro fácil de seguir. O narrador parece
viver em um pesadelo, como nos enredos de Kafka, engendrado por um escritor que
cria labirintos com inúmeras entradas e algumas saídas, todas inacessíveis. O
leitor, como uma espécie de detetive que segue indícios, pistas e enigmas, por
sua vez, se enovela numa história de crimes, facas e segredos.” – Lyslei
Nascimento

“A Editora Filamentos faz parte do maior conglomerado
editorial do mundo. Desde que
foi absorvida pela gigante emergente KGF-
-Forster©️, viu suas vendas de livros dispararem.
Um de seus colaboradores, Homero Arp
Montefiore, ficou intrigado com a indústria de
best-sellers da editora, especialmente aqueles
assinados por um misterioso escritor chamado
Karel F. A curiosidade sobre a verdadeira
identidade desse autor tornou-se uma obsessão,
levando-o a uma investigação particular
sobre a vida do enigmático romancista. As
perturbadoras descobertas reveladas por
essa investigação tornaram-se cada vez mais
perigosas e, após determinado ponto, colocaram
sua vida em risco extremo. Acusado de
crimes que talvez não tenha cometido, ele se
torna um fugitivo empenhado em tentar provar
sua provável inocência. Se alguma chance
houver de isso acontecer, será descobrir a real
identidade de Karel F. e expor a conspiração
que subjaz a sua literatura.”


Berta Waldman



O autor, Paulo Rosenbaum, nasceu em São Paulo em 1959. É médico e escritor.
Possui Mestrado em Medicina Preventiva, Doutorado em Ciências e Pós-doutorado em
Medicina Preventiva pela USP, com mais de uma dezena de livros publicados na
área. Escreve, regularmente, para o jornal Estado de São Paulo, no blog “Conto
de notícia”. Roteirista e produtor de documentários, atuou como editor de
revistas científicas no campo da saúde. É pesquisador na área de clínica médica,
semiologia clínica, relação médico-paciente, prevenção e promoção da saúde e
pesquisa de medicamentos. Além de ensaísta, é poeta, contista e romancista.
Antes de Navalhas pendentes, publicou os romances: A verdade lançada ao solo
(Record, 2010) e Céu subterrâneo (Perspectiva, 2016).

Para adquirir este livro em pré-lançamento a R$ 59,90, acesse:
https://caravanagrupoeditorial.com.br/produto/navalhas-pendentes/embed/#?secret=J7MeWeBVAE









https://glorinhacohen.com.br/?p=58467


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HAHNEMANN, 266 YEARS LATER (PUBLISHED IN THE NEWSPAPER “O ESTADO DE SÃO PAULO”)


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Pesquisa médica, Prática clínica

≈ 5 Comentários

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Samuel Hahnemann

Paulo Rosenbaum

Hahnemann, 266 years later

Born on April 10, 1755

“Man, considered as an animal, was created more helpless than all other animals.
It has no congenital weapons for its defense like the bull, no speed to make it
able to escape from its enemies like the deer, it has no wings, it has no feet
with interdigital membrane, it does not have fins – it does not have
impenetrable armor against violence like the land and freshwater turtle, nowhere
to take refuge provided by nature because it is dominated by thousands of
insects and worms for your safety .. Man is subject to a very large
numbergreater disease than animals, which are born with a secret knowledge of
healing methods for these invisible enemies of life, instinct, which man does
not possess. The man alone painfully escapes his mother’s womb, smooth, soft,
naked, helpless, helpless and deprived of everything that can make his existence
bearable, deprived of everything that nature richly contemplates the earth’s
worm to make his life happy.”

Samuel Hahnemann in “The Medicine of Experience”

The researcher and the thinker.  

First of all, I think it would be fair to explain what will not be prioritized
in this work. We will not be concerned with the famous paragraphs of the “
Organon ”, or with the topics of “ Chronic Diseases ”, nor do the conventional
revision of its tumultuous biography. We try to take the facts created by
Hahnemann as ideas and from these search — using the bio-bibliographic parallels
— the clues that led us to the process of creating his theories. Our character
played at least two simultaneous and interdependent roles in the sphere of
knowledge: researcher on the nature of health phenomena and thinker.

Due to a careful and intentional methodological option, we will not consider
your works as finished and definitive pieces. There is never an end to real
scientific constructions. On the contrary, we see in its corpus (frequently and
naively exalted by its irreplaceable coherence) theoretical gaps, methodological
gaps and operational contradictions . We will try to show that all these
“inconsistencies” can lead us to interesting logical developments of the
original propositions. Correctly assessed, contradictions allow for
rediscoveries. Searched gaps and gaps favor the end the progress of
clarifications, not the only one, but the last end of scientific knowledge. In
this way, we, the descendants and legatees of this medical philosophy, will be
able to penetrate each historical segment of their arguments.

We used authors like Koyre, Canguilhem and Khun to better situate Hahnemann’s
attack against the normal science of his time, like that of a spirit that is
mobilized to undertake and change the medicine of its time. We will weigh the
socio-historical influences of the 18th and 19th centuries and seek to show that
scientific changes often occur not only through empirical reforms, but mainly,
through philosophical movements that redefine scientific horizons and make such
reforms possible. In our case, we will see that both the romantic movement and
natural philosophy are part of the theoretical trenches that expanded and built
the support for transformations.

Backed by historical epistemology, we conclude, quoting Prof. Roberto Machado,
that chronological anteriority is not always a logical inferiority. It is
possible to apply such a concept in any science, including Hahnemannian work. I
explain with an example familiar to our topic. We must consider the hypothesis
that perhaps the sixth edition of Organon is not – although the author himself
considers it the closest to perfection – the point of greatest evolution of the
method. It is also possible to consider that the homeopathy that we do today is
not necessarily a progress in relation to the practice of the pioneers. We can
even suppose that many of the discussions that we have today, under the illusion
of originality, are only faint echoes of what has already been exhaustively and
creatively debated and practiced. 

From this perspective, we do not consider it any discredit, but proof of
vitality to examine issues that have been surprisingly active for over two and a
half centuries. This persistence denotes the tenacity of the Hahnemannian
records. Studies that privilege critical bias are the only ones that honor the
script of science, for if Hahnemann entered the historical debate it was
precisely because of his ability to let himself be affected by the surprising
phenomena that he was unveiling. Only in this way will we understand the
historical-philosophical flow that underpinned it, with the multiple
perspectives that its challenges have been launching in these two centuries of
permanence.

The inaugural doubt can then be presented: once Hahnemann updates and
incorporates scientific modernity in its inductive perspective, including the
search for experimental validation , what would be its distinguishing mark in
the investigation of medical phenomena? Just beyond that, what will be the point
of your exhaustive research? It seems clear that by subscribing to the
therapeutic reform originated in the objections of island (Sydenham, Hunter) and
French (Bichat, Fodera) clinicians regarding the use of medical material and its
therapeutic manipulation, our author puts himself in line with the empirical
reform that was taking place. sketching.

Only afterwards did he subvert the order installed in the medical sciences and
turn the traditional clinic into an uproar by proposing a very unique and
original modernity, especially in relation to the use of drugs in their
practical application.

Let’s go back to the end of the 18th century. The thick curtain of the
methodological monopoly reigned in the era of the great medical systems.
Hahnemann is engaged in what was considered the best medicine of his time. In
the end, he did not envision any regeneration for the serious and recurring
mistakes found. Let us understand his situation at once: he is a desperate
doctor who can no longer act with what he had been trained (that is, treat
patients) without serious damage to his conscience. It then restricts itself to
adopting a relatively innovative hygienism. He begins to loathe the therapies he
witnesses. He prefers to give up clinical practice. Fortunately, his intuition
was refractory to his skepticism. He argued his intellectual distrust under the
avalanche of uncertainties that obsessed him. He considered it better and
admitted that there might be something to be done, notions that deserved to be
revisited. Initially it imposes an induction, apparently inspired by the
prerogatives of an author who, strangely, never mentioned: Francis Bacon.

We must see the enormous effort of his rescue. It seems clear that the traces
left by the medical history for which it was based as a starting point have
become its main epistemological guidelines. Hahnemann captures ideas that have
not been preserved from the medical tradition, with a view to reincorporating
them. When it is finally defined by a method it tests it. But it is certain that
the usual methodological losses will not be condemned by the aphorisms of the
Novum Organum . It also denies the very common acquisition of knowledge through
the application of drugs to the sick (ab usage in morbis ). His interest moves
to another research matrix. But where is she? Apparently in the study of the
effects of poisoning and accidental poisoning on the healthy.

The year 1796 was decisive in its trajectory. After several smaller essays,
published in the same Hufeland newspaper , H. writes a work that will carry a
very ambitious title. There he claimed to have discovered nothing less than “a
new principle for ascertaining the medicinal power of drugs”. However, how could
he announce a novelty when much earlier, as he and even evoked from medical
historiography, the principle of similars had already been seen and applied?
Analogy and sympathies were marked as common grounds for similarity’s discursive
constructions.[1] These were ancient resources, old acquaintances of the healing
art. How then does he claim that he induced the birth of a new system of medical
understanding when the medieval physician Rhazes and another famous scholar of
illustration, Von Haller, already admitted the need to bring the experiment on
the healthy to medicine?

What abuse of self-referential sources was he promoting when he claimed to be
both an agent and a witness, that is to say, the main protagonist of an
announced revolution?

There is perhaps one of those logics of scientific discoveries which, as Khun
admits, are motivational, psychological, and therefore crucial. At the end of
the 18th century, we would find Hahnemann extremely unhappy. He fueled a deep
skepticism in the face of the inefficiency he contemplated. He distrusts his
practice by denying the therapeutic successes enacted by his peers. It does not
seem to admit that the scientific revolution had really installed itself in
therapeutics. It also rebels against the comfort of the repetitions of the
chairs. Randomly rummages through the pandora box of medicine. His curiosity
generated a significant breakdown in his medical certainties. With intellectual
boldness and determined intuition, she puts everything into perspective.
Hahnemann is no longer a skeptic: he is already an iconoclast.

The Meissen guy dares to think. It is a true obsessive metaphor, the leit motiv
that plagues certain subjects in certain temporal units. His rupture stems from
a rational inspiration, fueled by a scientific curiosity that confirms his
purpose of methodically reexperiencing and the assumption that he must expose
his hypotheses to empirical tests. Tests that, to their own astonishment, are
provisionally sanctioned.

The problem of identities and influences: hip ochratisms, animisms and
vitalisms.

Much has been discussed about the Hahnemannian sources and it is true that
thanks to this we have advanced in the understanding of the bases on which he
ends up configuring the homeopathic method. There is still a lot to study. We
chose to reduce our approach to the influences that, in our opinion, were the
most consistent and original. The first to be highlighted is that of the
Hippocratic work. There is no doubt that this influence is notable in addition
to many times explained by Hahnemann. [two]

It is impossible to doubt the fascination that genuine Hippocratic writings had
on him. The sobriety in describing the phenomena, his ability to peer and reveal
without trying to explain what he did not know was among his main virtues. As
you know, the Hippocratic doctor should be, first of all, a physiologist , that
is, someone who is able to speak correctly about nature. In fact, the supreme
virtue of Greek doctors was the establishment of accurate prognostic
observations. Or, in this impossibility, say nothing about them.[3]

Many authors pointed to the coincidences between the medical positions of
Hahnemann and Hippocrates, calculating that this was yet another reactivation of
Greek wisdom.[4] As we know, clubbing simply bases medical history on medicine.
Each case must be seen in its particularity and each individuality must be
examined in the multiplicity of possible responses.[5] Hahnemann recognizes in
the Kos tradition a less invasive, natural and rational, therefore better,
medical rationality. He knows the therapeutic limits of hippocratism, so he
recognizes the prognostic and diagnostic virtues , after all Hippocrates was the
one who introduced the case study by comparison through anamneses.

For Hippocratic medicine that applied the Aristotelian concept of
individualization, the important thing was to discern the various pathologies
within the variability of individual profiles. Its purposes: to diagnose and
predict better. For Hahnemann, foreshadowing the germ of his subsequent
ruptures, the particularities of the subject’s biographical / pathographic
events also begin to stand out , with eminently therapeutic purposes.

More than one author tried to establish a parallel between Hahnemann and the
works of authors from different eras and trends such as, for example,
Paracelsus, Von Haller, Claude Bernard, Pavlov and Freud. There is a possibility
to justify all these influences and inspirations, but in this study we will take
another direction. Other halos of influence need to be exposed.

Chronologically, it is worth mentioning some great previous adventures that have
left their mark on the history of medicine. We will start with the Vesalius
coverings founding the modern anatomy and establishing the correlation between
anatomical form and function. Of course, the break created by Paracelsus and its
developments in therapy cannot be neglected in any serious homeopathic study.
Nor is Sydenham’s systematic empiricism, of evident hypocratic inspiration. Or
even the perspectives of an animated anatomy introduced by Von Haller when he
induces the first consistent physiological studies towards overcoming
humoral-based pathology , a prolonged inheritance of Galenism. Not to mention
the enormous repercussions on all medicine in the 18th century of Morgagni’s
research when it correlated experimentally – in systematic autopsies – clinical
history and anatomical lesion demonstrating the almost linear correspondence
between the complaints and the morphological substrate of the pathology. 

Hahnemann studies and cites each of these authors, so it is impossible to doubt
his option for empirical validation. The authorities he evoked are mostly
clinicians and researchers of eminently experimental ballast. It is a phase in
which Hahnemann is particularly interested in the study of chemistry, venereal
diseases, and, of course, poisonings 

Despite renouncing the idea[6] , our author presents many similar traits to the
founder of medical animism, Stahl.[7] Both excellent chemists. They are among
the best of their generations, formed under the influence of the schools of
Sylvius and Van Helmont[8] (iatrochemistry). Both are among the most reputable
medical researchers in their respective periods. They share the same indignation
at the irrational interventionism they witness. They test their hypotheses and
redefine their activity: from chemistry to the investigation of the vital
phenomenon. That was a moment of effervescence in the century of enlightenment:
the emergence of empirical physiology was witnessed, Lavoisier founded a
chemical revolution , Kant renewed continental philosophy, a romantic reaction
to Cartesian mechanics was outlined. Given the proper proportions, it is not
only in our time that the world changes rapidly. 

Hahnemann, like Stahl, notes that the priority was in the analysis of the vital
phenomenon, too important to occupy an insignificant place. Vitalism’s identity
had always been in danger of disappearing. However, it always reappeared when
the clinic resumed empirical research. Animism and vitalism are progressively
increasing in their scientific programs. Despite the agreement, the paths take
different destinations. While Stahl takes up Aristotelian metaphysics in a very
personal way, that is, shaped by the pietism with which he was involved, Hahn
emann privileges Aristotelian logic as a method to solidify the constructs that
are to give him the theoretical and experimental support necessary for the
progress of the project .[9]

Nevertheless, Stahl mobilized the same themes in the 18th century as Hahnemann
in the 19th. It fights the mechanism of the man-machine. He rebels against
systematic medicine, starts to doubt the peremptory certainties of therapy, and
gives an empirical tone to his treatments. In most of its therapeutic
orientations , it adopts expectation as a technique.[10] He does this with great
awareness because he considers it a less pernicious method than the available
resources. An entire school will imitate him, after all, in the “first place, do
no harm” ratifies a resumption of Hippocratic naturalism and, consequently, a
return of confidence in the natural medicine . resurrecting the idea of the
regenerating power of the hypocratic medicinal nature, when physis would provide
for the recovery of the sick. The first Hahnemann did not escape this trend. 

Roughly speaking, the Stahlian method, which also adheres to the principle of
similarity, ends up in operational difficulties that are not negligible. There
is no systematic treatment of the question of anima or how and under what
circumstances the drug should be applied. Stahl intimately doubts the therapy,
but has nothing better to offer. You only have the option of the expectant
clinic. In its therapy, for the first time since the failure of Paracelsus’
psychiatry, we found a primitive psychotherapy – the fundamental disorders are
rooted in the anima – which seemed to value the patient’s psycho-mental state,
as well as the use of the always useful dietary resources. . Here it
successfully imitates Barthez’s experimental tentamen , in any case
therapeutically as not very operative as his, because they both had no medical
instruments except those inherited from a tradition they had performed and tried
to distance themselves from.

Hahnemann, on the other hand, creates a new path. He pursues the epistemological
maturity that he slowly incorporates into his instrumental guide – Organon .
This incorporation decisively affects its practice. He quickly moves from
initial research, the embryo of his scientific program , to application in the
sick. Again, he submits his hypothesis to the tests, increasing his casuistry
with the traditional difficulties already familiar to everyone who knows his
biography.

But what he gets goes far beyond what he initially assumed. He observes tangible
results between the event (drug introduction) and the effects observed within a
plausible time gradient. This intervention, he thinks, changes the natural
evolution of the disease. This is the first step, he calculates. Careful, that r
map your findings with caution. It is necessary to understand that originally he
was prioritizing – until now he had not expressed his criticism of the
inconjugability of nosologies – the pathological entity itself, the disease, as
an object of study. Po ssivelmente was worried about a quick comparison of
results.

Thus his pragmatism is reinforced by the verification that, with adjustments, he
is even before a new path. It is not, strictly speaking, a new principle, but it
is definitely one in our path here. Rota, which for many reasons will be
terribly arid for the innovative doctor: the empirical school was undermined by
the great medical systems (especially those of Hoffmann and Boerhaave), the
study of the totality was being sacrificed by the principle of localization [11]

The symptoms (and with this the clinical history) were no longer so important
because they had been restricted to “lesion slaves”[12] . Similitude was in
disuse and was practically ignored by major medical schools. Nobody valued it,
much less operationalized the tenuous medicines of Hippocratic medicine.[13] The
romantic movement (as well as natural philosophy, Schelling’s
“nathurphilososophie” ) that decisively influenced our author, did not exactly
produce a scientific endorsement for the new researchers. Let us add to this
panel the difficulties to challenge the hegemony of Newtonian physiology and its
convincing mechanics applied to biology.

Furthermore, and most importantly, Montpellier’s vitalism was isolated and
discredited by the advancement of the medical schools of Paris and of island
medicine . In the medical field, the elision of vitalism was a fact. In this
way, the environment – despite the fact that famous analysts saw the opposite –
was inhospitable to what was about to unfold, to the theses that were about to
be enunciated. Hahnemann, just as Galileo really acts against everything and
everyone, or as Hilton Japiassú wants, referring to the famous stronome “despite
everything and everyone”. Finally, it organizes a counter-thought and makes an
epistemological cut in medical knowledge.

Again our inconoclast dares. He is not exactly concerned with “scientific
coherence”, or “political articulations”, moreover, on the contrary, he is
extremely unskilled in this sphere. He wears himself out excessively in the
fight against rivals, he is defeated internally in his intention to keep
homeopathy on the idealized route, he sees himself facing the constant threats
of interdiction of the movement. All because he had well-defined priorities. He
is stubborn with the idea of the “new way”, which allows to progressively refine
the theory. References to vitalism, up to the fourth edition of Organon , were
quite incipient . It is developed by crossing information and refining medical
knowledge with ideas arising from practice, that is: the totality-purpose,
interactions between mind / body-medicines-environment. He begins to borrow
concepts and ideas from the vitalist tradition, voluntarily or not, starting to
resort to them to explain the phenomena he witnesses.   

Only during this period did he introduce the expression ” lebenskraft “, a vital
force. Expression that will take on different characteristics in each school and
that composes only one of the items of the conceptual structure of vitalist
philosophy. However, what is most dear to the Hahnemannian corpus is not the
“vital energy”, but the very concept of vitality “lato sensu”, as if defining a
way in which the living organism operates. What started to matter, primarily,
were the modes of operation of these organisms as non- mechanical, non-inertial
totalities , especially analyzed in their operational functions: form / function
/ purpose. Hahnemann, like Stahl and Barthez, realizes the insufficiency of
mechanistic principles to account for pathological and therapeutic phenomena.

With effect, vitalism can be placed more a consequence of these investigations
and that the cause of these. It is also very important to show that the
mechanism-vitalism polarity was never its starting point. It emerges as a
natural result of research, which only increases its epistemological weight.
Interpreting the results of the events, investing all his intellectual and
deductive efforts, he ends up giving his newly conceived theory the status of
method. Hahnemann reexplores a theory in which he can couple his findings. It is
about reactivating an empirical vitalism replacing “wild” empiricism. Of course,
as you realize how important and operative these assertions are, more positivity
is added to the method. His research is becoming more and more oriented. He is
increasingly determined to seek support for the enormous variety of hypotheses
he raises.

Epistemological plans: from the induction of similarity to the deduction of
singularity. 

Break with primitive similarity . Susceptibility, or the exalted peculiarity.
The infinitesimal is nothing. The vitalist research program. An evil worse than
the original: suppression. 

Thus, before trying to define the basic traits of his personality, or trace an
outline of his historical costume, it is necessary to redefine the various
traits of his work in the construction of his methodology.

In the first place, our thinker emerges as a doctor formed from conventional
schools, whose main theoretical matrix was iatroquímica (Vienna, Leip zig,
Erlarngen). His therapeutic vision is therefore centered on medical chemistry in
the 18th century. Despite numerous proofs of his intellectual precocity and his
refined intuitive ability, Hahnemann was unlikely to change his praxis in such a
radical way. It would be less expected, given the absolute dominance and
hegemony of that trend, that he would found a new medical school.

What takes you to your destination will probably remain ignored in the recesses
of your most intimate metaphors, which I fear, we will never have satisfactorily
clarifying access. It remained for us to follow the lead of their arguments. His
primitive dissatisfaction with systematic medicine and his courage to denounce
the lack of effectiveness of the medical systems to which he was exposed denote
his first phase. Hermeneuts would call this their first application. But our
problem remains the same. We have not yet been able to efficiently diagnose how
and under what conditions he conceived his “new principle”.

By isolating himself and claiming to have abandoned medical art, as he confided:
“I thought that art was doomed to nothing”, he sentenced himself to the search
for something better. Once it has discarded the practice of its time, its next
company will be to detect the failures of the great medical systems . These
ended up becoming the great epistemic breach to objectify your doubt: there is
something to be rethought, quickly and radically.

His research originates in the sphere of theoretical review, and between
libraries and translations, among incunabula and folio s lost medical history
records his rescue: Hippocratic similarity and model experimentation of the old
empirical schools. Nowadays it would be equivalent to depreciating the genomic
tendency and to resume, with extra-historiographic purposes, the recommendations
of Hellenic medicine. He elaborates his own synthesis and sees the need to
experiment on human bodies. [14] But it will not do so in the face of
pathologies, it will be necessary “not sick” to obtain more reliable reports. At
the same time, it is concerned with distinguishing its new formulation from
Paracelsus’ correspondences and refutes, in advance, the possible attacks
against what would come to disqualify it as naive empiricism. For the first, he
recommends severe criticism, confronting the tradition of the markings , for the
second, systematic studies against the “empirical accidents” recorded in
historiography.

But, confirming what Canguilhem noticed, the sources matter less and the
treatment given to them is much more important, and in this case , H. does this
work in a very original way. It goes beyond medical texts and advances its
research focus on works of natural history, of travelers and explorers who
visited other peoples and cultures collecting therapeutic jobs and registering,
almost journalistically, the medicinal habits and customs of the colonies of
European countries. He is much more interested in clinical records than in books
on doctrine and therapeutics. It was relatively common in the seventeenth and
eighteenth centuries for medical authors to transcribe their clinical cases, as
if to publish their daily experiences, to write down their therapeutic successes
(even those that Hahnemann will later demonstrate as suppressions), so that
others could know what their behaviors were like in prá ethics.  

 1. it ingeniously takes advantage of this immense source of therapeutic
    imbroglios, contesting the axiom that the masters are always right. Gumpert
    was happy to refer to him as a hard-core rebel. It uses the authorities, in
    a legitimate movement of co- thought, to disallow them. Take advantage of
    only the symptoms that emerge from “wild” treatments and the intoxications
    that you identified in these records .[15]

Although Hahnemann recognized the enormous value of applied chemistry and that
many substances were useful in palliating certain pathological states, he
refused to admit that we would need to restrict their knowledge to their
proximity to the “natural system”, or to their taxonomic kinship. He admits that
there may be, in fact, analogies between the external, physical-morphological
evidence of the substances and the medicinal effects. But he does not accept
them – as the doctrine of signatures predicted – as a given reality. He wants a
research program to prove it or refute it. In this sense, Hahnemann undermines
the epistemology of “signatures”. However, as Foucault had detected, those who
work with similarities also necessarily have to deal with the signs.  [16]

The difference is that the signatures (or markings) that interested Hahnemann
were of a different nature, they could not be botanical because they were also
subjective, they were experiences [17] , making it impossible for these to be
correlated to organs, physiological systems or pathologies. He begins to look
for methodical observation and experiment in the possibility of registering the
manifestations of the human totality. 

He states that “botanical affinity” would never allow conclusive inferences
about the similarity of the action since the “external similarities” were
superficial and insufficient to know possible medicinal effects. Here his
critique of primitive similarity and the doctrine of Paracelsian signatures, as
well as the whole system of medical matter, appears again, and in a much more
evident way.[18]

Hahnemann had a double influence: one of them was the great medical systems of
his time, iatro-chemistry, and on the other hand he was deeply impressed by the
empirical propositions. It is precisely in this mid-term between the tensions of
a rational and empirical nature that he forges his proposals. For this reason,
it is not possible to present only one facet of its concerns, since it is
committed from the beginning to divisions that will permeate the entire project.
It is the contradictions generated by them that move the history of their
propositions.

It uses the concept of similarity, but adheres in this field to a new epistemic
, modern, therefore analogical. In other words, during the experimentation
process, it seeks to detect, from the point of view of the subjectivity and
subjectivity of the subject, which expresses symptoms and the changes that the
substance has inflicted on him.

These revisions give him the pejorative title of “book physician” from his
enemies and the other scientists and historians of his time, the diagnosis of
the founder of a ” pure metaphysical system “.[19] A little unfair to anyone who
published a libel sanctioning the medicine of experience. Thus, the central role
of all the controversy that Hahnemann is about to create only at this stage
outlines more defined features. He is about to reach his next target: the
“botanization” of diseases, or better, his taxonomization. In one of these
passages, one asks: “Should we happen to trust a botanist who is restricted to
dividing plants between herbs and shrubs?”. 

It should be noted that Hahnemann was not only concerned with the visible,
potentially triggerable signs of medicinal substances. He begins to occupy
himself with the totality of manifestations, such as experiences, dreams,
sensations and all sorts of subjective symptoms , obtained from the medication.
Its semiology is, to borrow an expression of propaedeutics, “in the open”. For
this very reason it obtains for my medical matter a myriad of new symptoms:
objective, constitutional and especially mental symptoms . It incorporates all
sorts of subjective symptoms, usually overlooked by semiology.[20] Found a new
model of clinical history.

It attacks the episteme that placed nosos as the main object of therapy. What it
means to say: it shakes the building that had, and still has, the central role
of all therapeutics, the framework even of Western typifying medicine. Here we
come to something truly revolutionary. Here is the embryo of one of its
epistemological ruptures. What he says to us means “no to typifications” and at
the same time “to look for unpredictable symptoms”. It is worth asking why you
do this?

Did he perceive the little scope of the symptoms taken only as confirmations of
the anatomo-clinical pictures ? Or do you suspect the efficiency of the therapy
under the semiological direction undertaken until then? All of these hypotheses
are plausible, however, what Hahnemann foreshadows is the concept of nonspecific
susceptibility, only officially formulated almost a century later. In other
words, it discovers the semiological-therapeutic importance of modalized
symptoms. It gives primacy to the rarity of the clinic. Unveils the
manifestations that express the disturbances in an imprecise way. In other
words, it discovers the value of the unexpected , of the unpredictable phenomena
in natural illness.

Redundant to say the degree of innovation of this proposal. It starts to
incorporate this orientation as an inseparable part of the method. From this
guideline, it is natural to deduce that it is no longer possible to prescribe
based semiologically on the predictable syndromic conditions. That is, following
the Hahnemanian reasoning, the pathognomonic symptoms of diseases can no longer
be taken as the only semiological guides for therapy. Unless these symptoms have
a personal note, it is worth mentioning those that have idiosyncratic
characteristics.[21]

Now, if your review can rescue similarity and experimentation, why not go
further and do the complete job by demolishing the whole system of classifying
nosologies? Here we will have to sharpen our discriminatory capacity: its
primary target was not this. What he wanted to do was to anticipate the enormous
insufficiency of that classifying system for the establishment of therapy .
Knowing what it is, that is to say, knowing the name of the disease, does not
necessarily give the diagnostician the predicate of prescribers, the notion of
knowing how to treat.

But you cannot avoid the logic: why, if the experiences reveal susceptibilities
and “sensitive fibers” of different qualities that respond to different amounts
and stimuli, why consider only specific remedies? In fact, if the medication
actions are diversified and affect the entire economy, why then the privilege of
a diaphoretic, a revulsive, an astringent, emenagogues or sweat? If the
illnesses are inconjugable why are the drug correspondences chosen by local
affinities? Why not be suspicious of organotropisms that do not take into
account the totality of manifestations in the subject? =

In addition, another rescue was imminent. After concluding that it is impossible
to establish a therapy under the banner of pathology, Hahnemann is visibly
concerned with the paths that these can take, when they are suppressed /
modified in their natural path. His conclusions again coincide punctually with
what he finds registered in medical historiography: he starts to check for
substitutive pathologies. It promotes yet another resurrection, this time it is
the turn of the old doctrine of “morbid metastases”. It finds that in the course
of any therapeutic action, pathological versions worse than the original ones
may appear. It implies that the expectation may be a lesser evil (since here the
suppression would be in charge of the vis medicatrix ) of what is the therapy.
At the same time, it finds that the analysis of the totality and the application
of mild medications are more rational means to protect the subject, or at least
minimize the risks of a possible harmful path, such as the one mentioned above.

Finally, the most indestructible epistemological question. What do you look for
in attenuations: to optimize the action of the drug through a lesser medicinal
effect? Get the subtle alchemical body of substances? Deviate from aggravations?
Coercing the vital energy? It is possible for all questions to obtain
affirmative answers simultaneously and successively. But let us judge by the
beginning. Hahnemann, for familiarity or opportunity, begins his work with
poisons: heleborism, arsenicals, mercurials, sulfur, zinc and other toxics fill
his repertoire. Check the rules that lead toxics to produce their effects under
strong and low doses. It notes that qualitatively those susceptible respond to
doses well below the toxic threshold. That the action of drugs on subjects is
extremely heterogeneous. Now, if the clinical and mental conditions reappear
under different intoxications, the minimum amounts to awaken the symptoms can be
different for each subject and much smaller than expected. What laws and
clinical-pharmacological criteria do these phenomena obey? None satisfactorily
known. There must be individual variability that induces subjects to
non-homogeneous responses. How do you proceed? Dilute and try it, only in a
second stage it dynamizes the drug, after all the simal infinite is nothing. 

The ethical imperative. =

“There are circumstances in which neither the like nor the opposite heal; it is
what should heal ”


HIPPOCRATES

In the years that followed his greatest research, Hahnemann now finds himself
immersed in his experience, immersed in his work of caring for patients. They
have been sketching and building an ethical corpus . He does all his work
looking for a system that includes an action compatible with the delicacy that
semiological and therapeutic work requires from the homeopathic project. And
already knowing this, he fuses his expectation of curative purpose with a
pedagogical-philosophical action that would also induce the subject to a more
articulated action between nature and destiny, between spirit and body, between
environment and work.

However, our author pears the creative with prudence in the statement of these
propositions. He fears for the worst – rightly so – when he gives homeopathy a
character of univocal universal philosophy, because if, on the one hand, he
knows that the sectarians will always be pre-called to defend it at all odds ,
on the other, he realizes the danger of a fallacious aura that this double
meaning can provide for a method that was intended to be articulated as a
scientific practice.

At no time, however, does it state or denote that among the particularities of
the drug’s action are an action in the spirit per se . The references to an
immaterial action of the medications only match the idea of ”quasi-spirit” in a
specific context: like us, he, despite noting the positive effects, ignored the
mechanism of action of ultramolecular doses. Indeed, he sees that the medicine
conveys generic, imprecise, “quasi-spirit” possibilities that are assumed as
information by the set of organic systems (mind-body-environment complex) of the
subject[22] can change your most intimate perspectives, but who can know for
sure?

Thus, in parallel with the scientist Hahnemann, we have a thinker of
completeness who stands in favor of ethics. So what would be the Hahnemanni ana
ethics then ? Here we leave aside, at least for now, the methodological
constructions and the induction that our author proposes. We will try to
understand what is convenient for him for curative action.

First, Hahnemann does not judge, he only listens carefully to the subject in his
narrative, which, as we know, presupposes unusual details in clinical histories.
These are the usually negligible symptomatic “wastes” that contemporary clinic
has renamed as “neuro-vegetative disorders” or, at best , subjective symptoms.
What mattered to a clinic based on the names of the illnesses if vertigo made
the subject recline to the right with cold, if perspiration produces ecstasy, if
along with the headache a desperate desire for lemon arose or even if the crises
of anxiety to break out at 17 o’clock on time? These ended up – here it is not
possible to analyze why – because they turn into mere parasitic symptoms of the
medical occupation. No previous clinician valued or transcribed the patients ‘
symptoms with such obsessive care. H. had learned how to apply them in practice.
The truth is that even the best doctors from other periods, including those who
recorded very complete medical histories like, for example, Sydenham, did not
know how to treat material from detailed anamnesis.

Second, the analysis of the cases attended by Hahnemann shows the commitment to
all symptoms. No pre-valuation. No anticipated hierarchical criteria. No schemes
chosen beforehand. Just a motto: any peculiarity will be exalted . Whether in
the “Archives of Stapf”, in the “Notebooks of patients” or in the various
records such as, for example, those pointed out in the rescue of Genneper, these
guidelines overlap, apparently not very methodological. What you can see in all
your records is the meticulousness of the record: the original words, the type
of music, the details in the dreams, the empirical verification of clairvoyance,
the altered perceptions, the dream recesses, the perverted functions and the
body in anguish.

So when he proposes to put sculapio on the scale he weighs his positivism
against his metaphysics. He realizes that he cannot, even with the deepest
personal effort, hide his polarity as Masi-Elizalde has so well shown. Ass ume
that, if on the one hand he will give the scientific aspect of his propositions
a logical-formal tone, on the other hand he will continue to affirm what he
believes in, enunciating his deep philosophical-religious concern, focusing on
the very meaning of existence. Hahnemann induces and deduces all the time. After
all, he shows himself to be a researcher who cannot hide his motivations. In
this case, at the same time that he uses ontological substantialism to define
the properties of being, he rejects part of these characteristics a pr iori ,
which will be the object of further control, during the experiments.

Another important methodological criterion introduced by Hahnemann is found in
the explicit and repeated recommendations that each drug should be used
exclusively. The idea of non-mixing is yet another field of spistemological
maturity in your medical system as it seeks to control the intervening variables
with the most understandable of the arguments: two drugs together cause a third
and unknown element that makes the analysis of the effects uncontrollable and
very little need.

The use of inert substances should also be mentioned. It should be noted that
this use is recommended in a strictly ethical context: the commitment to the
other also involves the controversial act of apprehension of “not medicating”,
namely, the use of the compliant medication. It is precisely because he
understands that imprecision is inherent in the homeopathic method and its
operational difficulties that Hahnemann allows and encourages the use of
non-medicinal “something” when the need and / or indication of the verum is not
clear. How impressive was his ability to perceive the need and importance of a
therapeutic artifact, however pseudo-medicinal, as a step in the work that
allows for a better research of the improvements, the worsens and the stability
in a homeopathic treatment. 

The Hahnemannian version of “creative leisure” – as in the famous letter to the
workaholic tailor “[23] – is one of the most auspicious and denotes the
recognition that there is, after all, a scale of values, criteria and
priorities. Work, it is clear, cannot be harmful. It should not be counted as a
sacrifice to health. Faced with the epidemic front classified under the CID of
RSI “injury by repetitive efforts”, once again our author foresees the worrying
fate of organisms reduced to “bodies that produce”. To the perplexity of
neo-pragmatism, Hahnemann’s complex axiological system never separates the
construction of homeopathic science from its ethical commitments. Of these, a
certain teleologism of the human statute that identifies the vital phenomenon
with the inclusion of certain perspectives of refinement: cultural, affective,
spiritual cannot be underestimated.  

Whether we like it or not, Hahnemann has no quibbles about spirituality, which
he sees with a practical focus, that is, it is not in the sphere of alienation
or in the turmoil of a contemplative asceticism. Nor is it a dogmatic
metaphysics and still less the contemporary neo-esotericism freely associated
with homeopathic doctrine. According to him, man has an internal system that
allows him to detect the transcendent nature of his spirit, as well as his
ability to recognize Gd. Even this certainty did not make him hostage to the
Salvationist theses.

There is a sophisticated mix in our author: on the one hand, it adheres to a
kind of personal synthesis of naturalist philosophy[24] which tends to a
vitalism of a spiritualistic nature (Luz, 1988) with the perception that it must
always be united to “being here”. On the other, it assumes scientific positivism
as an incorruptible duty to the medical object. Perhaps, for this very reason,
on purpose, he never intended to assemble a set of medical knowledge under a
metaphysical safeguard of a mystical or religious nature. It is an insurrection
against this prerogative. Waiving any form of sectarianism to put your
hypotheses under question.

After recognizing the transcendent nature of man, the founder pleads for the
scientific and conceptual clarity of homeopathy as a logical, pragmatic,
scientific choice. First, the methodological choice. Then he admits a
metaphysical-based ontology – warning that “all are kings” there – that he must
undergo the tests of empirical evidence.

In other words, it admits an empirical metaphysics. Its accurate scale no longer
weighs just sculápio. It weighs values, supports the search for a broader
medical approach, emphasizes hygiene, the role of the environment, the need and
finding references in existence. Hence his option – this is particularly
interesting in his epistolary – for an existential religious spirit not linked
or subordinate to schools or hermetic doctrines. Hahnemann prefers to
subordinate this acquisition to the subject’s achievements, case by case. He
deduces that there is a kind of tribute to the singular of each subject, as
there is an unmistakable merit in personal discoveries: they are
non-transferable and configure subjectivity.

If in this way each subject can obtain pedagogical, philosophical and
homeopathic help, so much the better, since the high ends do not know the
dimensions and the quality of existence cannot be measured, except by very
peculiar measures: exactly from references of the very nature treated / cared
for.

Hahnemann understood that it was exactly this nature that would allow man to
refer any health project to a reconsideration of the importance of the status of
mental status in therapy. The mood starts to be considered[25] not only as a
semiological-therapeutic reference but, and mainly, as a kind of “marker” for
the improvement of the subject’s general state. However, in order to refer this
improvement to more sophisticated projects, Hahnemann recommends, in addition to
the dynamized drug, a continuous personal effort that can be enhanced or not by
a pedagogical-philosophical action through what he called “auxiliary mental
regime”.

The posterity of the inheritance: in addition to the contradictory and simibilus
principles, which is appropriate.

When we see the immense responsibility that homeopathy has as perhaps the last
medical rationality that is truly divergent from hegemonic thinking, we are
apprehensive and concerned about its future. The internal disagreements of the
movement , the difficulty of the various schools in assuming their identity and
the radicalizations about each of the Hahnemanian phases started to hinder the
development as well as the goals of the homeopathic movement.

Many critics of homeopathy substantiate their criticisms of the lack of
scientific curiosity of homeopaths who did not update the method in the light of
a review of medical theories after Hahnemann. Despite the exaggeration and
ideological bias embedded in it, there is a basis for these criticisms. We need
to recognize the exaggerations, the flaws and the important elisions in his
work. After all, it is not a revealed text. We have to admit that a certain
programmed ingenuity permeates the homeopathic environment that expects nothing
less than the perfection of a scientific construction. But here we also see the
opposite bias: adapting uncritically to current research norms and standards can
mean the rise of a pragmatic version of similarity and the ruin of a resistance
that fought to preserve a set of knowledge and medical procedures that
characterize a particular iatrophilosophy.

Hahnemann’s merits were many: preparing an immense terrain still unfinished, not
only leaving faithful followers but contaminating critical passers-by , not
having defined rigid strategies and living immersed in a fruitful resistance
whose deep traces reach all the medicine of our time, marks epistemological
issues that are making themselves felt even in other disciplines. However, it is
no longer enough that we repeat the content architected by the Hahnemannian code
to exhaustion. This has already served us, now it brings a scientific suspicion.
The accusation of cult of personality is rekindled. It exposes us to the
fragility of sameness. Stoic restatements embarrass us in the fragile era of
immobility as warned us in different ways and in different historian-author
versions like Dudgeon, Bradford, Haehl and Marcy and Fortier-Bernorville. The
repetitions, the mere reaffirmation of our resistance, do not deserve to be
taken by a positive heuristic .

Homeopathy does not have any special attribute that credits it as a different
knowledge from the others. There are no innate or acquired invulnerabilities,
there is no guarantee for anything. It is part of the game to submit to the
refutations, to face the internal contradictions and to bow to the criteria of
knowledge criticism required to be able to continue to be validated and thus
remain as a practice. Homeopathic ideas need to circulate in order to be
preserved. Their logic was challenged and put under question. We restrict
ourselves to cheering only for increasingly clear evidence and for the expansion
of the investigation.

Paradoxically to his strong doctrinal sense, Hahnemann positions himself as one
of the first revisionists of homeopathy. Let us remember that his conversion
from iatroquímica to a cosmic-synthetic vitalism, where he incorporates
similarity as a method, was a direct consequence of a spirit willing to be
affected by research. Only afterwards, seeing the insufficiency (or “excessive”
sufficiency ) of the analogue as therapeutic reasoning, does it incorporate
infinitezimalization as in order to obtain modified, subtle, but convenient
responses.

And, in the end, when he did not need to risk his prestige, he resolved to bear
the turbulent consequences by enunciating a sketch of medical anthropology,
seeking a hidden malaise, a meta-meaning underlying the
empirical-phenomenological of the symptoms. It is the phase that enunciates the
psoric theory. In other words, there is everything in Hahneman’s reasoning,
including contempt for a straight and cumulative coherence that exhaustively
demands adherents and enemies.

Stick to the medical object to meet the demand for a more efficient clinic,
namely, with the specific purpose of curing or controlling defined pathologies
is an ancient problem of medicine. Here, too, our inventor imposes changes. In
his ethics, the radical commitment to the other does not mean only being
attentive to changes of a pathological character as the primacy of medical care.
The originality here was to have pretended to be defined by an ethical-synthetic
humanism, whose main attributes must be the solidarity and understanding of the
suffering subject. Sufferings manifest through imaginary or real idiosyncrasies
that the sick subject tells the doctor, seeking relief and support. Homeopathic
help does not come (or could not come) only against the morphology of sick
bodies, it will always come as an answer to the incomprehensible sensations,
metaphors and allusions that invade and plague the subject.

Hahnemann finally builds a methodology in which it will always be necessary to
ask “what ails you?” and “what do you suffer from?” to find out, in the end “who
is it”? This dissolves, once and for all, the contemporary illusion of a future
in which machines that detect vital qualities would replace medical action using
electrodes that trigger the simile. At least for the Hahnemannian subject, the
original perspective remains: the essence of the clinical spirit is the
procedure of one man in front of another.

It is necessary to show that homeo patia conveys a therapeutic possibility of
order and dimensions completely foreign to those of the fields of action defined
by the causalist model of biomedicine as the only ones specific to the medical
act. This distinction brings us directly to the scope that we see in homeopathy
as an original proposal that must finally be taken as a way of making medicine.
Homeopathy then needs to be identified as an iatrophilosophy. A subject
medicine, an interactive medicine beyond the specifics of diseases. We build a
healing art that is much broader than the application of similarity. Its
fundamental distinction, which even highlights it from other medical
rationalities, lodges itself elsewhere: it is in its “what to do”, when it
understands man in his aspiration to be understood by the totality of
manifestations.

Homeopathy already needed and had its martyrs, already experienced the taste of
exile, the ban, banishment. Homeopaths fought (and fought) with doctors from
other traditions and between themselves endless disputes , both long and
useless. Whether we are going to prolong this strife or finally dedicate
ourselves to what matters is an option exclusively under our yoke.

So, let’s talk about the impropriety of the always mistaken question “what would
Hahnemann say”? Impossible to know how he would behave. The inferences of his
scientific testament show that we should foresee doses of rationality and
moderation. We are pleased to note that the influences of romanticism were not,
in the end, negligible items in the analyzed influence hall. since, as is known,
this movement was extremely important in the subject’s rescue route. Therefore,
after these prolonged disputes, we would expect a relaxation of doctrinal
inflexibility so that everyone really interested in the renewal of medicine
could adhere to the third Hippocratic principle. No prior hegemony. No
methodological monopoly. Only intellectual openness as a premise, doubt as a
compass. In view of the current immensity of modern medical possibilities,
neither the opposite nor the similar as univocal concepts, just what suits each
patient.

Finally, what we recognize as genius in Hahnemann is spread throughout the
corpus . Notable as an original thinker , revolutionary as an epistemologist of
medicine, generous as a doctor. He sealed his contribution to knowledge as an
inducer, deductor and inventor. Challenges that will still occupy several
generations and that should produce developments that will expand to have access
to those more complex traits of the human spirit and its sufferings. However,
all these efforts will be recognized as a single duration and as long as we are
able to recycle the notion of progress we want. They will remain true and
efficient as long as we are able to recap – which necessarily means selecting
and maturing – the contents of this great cornerstone of knowledge that we call
medicine, and one of its therapeutic arms that we call homeopathy.  

Grades

[1] Cf. Foucault, M. “The four similarities” in “The words and the things” 1966.

[2] “We have never been closer to the discovery of the science of medicine than
in the time of Hippocrates. This thoughtful unsophisticated observer sought
nature in nature. He saw and described diseases before he precisely, without
addition, without coloring, without speculation. ” Hahnemann, Lesser Writtings,
1852.

[3] “In the faculty of pure observation he was not surpassed by any other doctor
who came after him. Only an important part of medical art was this favored son
of nature deprived: – besides that he was a complete teacher in his art – in the
knowledge of the rivers and their application. But he did not simulate such
knowledge – he recognized his disability by the fact that he gave almost no
medicine (because he knew them very imperfectly) and relied almost entirely on
the diet. ” Hahnemann, S Lesser Writti ngs, 1852

[4] We know the aphorism that has guided many generations of medical historians:
“the natural history of medicine is a successive sequence of returns to
Hippocrates”

[5] This conception of the medical school in Kos was briefly taken up by the
dream of merging horizons represented by the legendary school in Salerno with
its aegretidines diagnosis . Cf. Homeopathy and Vitalism. 1996

[6] Critically criticizes Stahl’s idea of ”animal soul”. He does the same with
the supposed influences of paracelcism on his work.

[7] Cf. Coulter, HL Divided legacy. op. cit. Vol II.

[8] Jean Baptista Van Helmont , a systematic physician and Belgian chemist, was
the first to distinguish gases from air (he invented the word gas) he and
Silvius are the first to recommend, based on the idea of fermentatio
fermentation) use of acidifying and alkalizing to improve abnormal digestive
performance.

[9] The sparks of Kant’s critical philosophy can be seen here.

[10] According to Entralgo, his therapy was basically restricted to the use of
tonics and purgatives. Cf. Entralgo, PL Historia de la Medicina, Modern and
Contemporary Medicine. Los Grandes Sistemáticos. 1954. p. 245  

[11] Subsequently explained by Virchow.

[12] As Morgagni pointed out in his “De Sedibus”

[13] Even when attempting to reissue it in the low doses of Van Helmont.

[14] For Koyré, scientific revolutions are due more to the mutation of
philosophical ideas than to empirical discoveries. Cf. Koyre, A. Pensar La
Ciência. p. 27. 

[15] This is basically the spirit of his first medical subject: Fragmenta, from
1805.

[16] Here is what Hahnemann points out: “Due to the fact that the cinchona
cortex has a bitter and astringent taste, therefore the bitter and astringent
cortexes of ash, horse chestnut, willow, etc., were considered to have the same
action. that the cinchona cortex, – as if the taste could determine the action!
Due to the fact that some plants have a bitter taste, especially gentiana
centaureum, called fel terrae, for this reason only professionals were convinced
that they could not act as substitutes for the bile! Since the arenaria carex
root has an external resemblance to the sarsaparilla root, it was deduced that
the former must have the same properties as the latter ”Hahnemann, S. Lesser
Writtings, 1856

[17] Cf. Rosenbaum. P. Homeopathy: interactive medicine. Imago Editora. Rio de
Janeiro, 2000 (Publication of the Master ‘s dissertation in the Department of
Preventive Medicine – FMUSP “Homeopathy as Medicine of the subject, historical
roots, epistemological frontiers”)  

[18] “Therapists attributed to star anise the same expectant qualities that are
possessed by anise seeds, merely because the latter have a similarity in taste
and odor to the seed capsules of the former and even some parts of the tree
(iliceum anisatum ) that produces these capsules is used in the Philippine
Islands as a poison for suicidal purposes. – This is what I call the
philosophical and experimental origin of medical matter! ” Hahnemann, S. Lesser
Writtings. 1852

[19] More contemporaneously Entralgo came to classify homeopathy as “free
medicine” .Cf. Entralgo, PL Historia de La Medicina. Modern and Contemporary
Medicine. Madrid, 1954

[20] With the exception of substances classically producing changes in the
psyche, such as opiates , alcohol and other medicines of plant origin such as
cannabis indica, cannabis sativa and others – in the compilations that he
scrutinized. 

[21] For example: in the case of mental illnesses, pathognomonic psychic
symptoms must be excluded from the scrutiny since they are expected in a
framework, the main characteristic of which is precisely the disturbances of the
mental sphere. Ditto for the expected symptoms of any pathology.   

[22] For the Hahnemanian man a substantial compound is inseparable.

[23] This is advice that Hahnemann sends to a patient, a tailor, in which he
warns him about the risks of overwork and the need to put other priorities in
his life.

[24] Since it criticizes nathurphilosophie

[25] This was one of the important differences between Stahl’s and Barthez’s
projects. Cf Homeopathy, Interactive Medicine . op. cit.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/hahnemann-sera-atual-266-anos-depois/




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ANTISSIONISMO É ANTISSEMITISMO 2 – BILHETE DA MEMÓRIA (BLOG ESTADÃO)


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ 1 comentário

Antissionismo é Antissemitismo 2 – Bilhete da Memória

“A tolerância torna-se um crime quando aplicada ao mal”

Thomas Mann (A Montanha Mágica)

A assembleia nacional francesa depois de uma discussão que durou mais de uma
década passou uma resolução e decidiu que o antissionismo (o ódio à Israel)  é
antissemitismo.

“A Assembleia Nacional… acredita que a definição operacional usada pela
International Holocaust Remembrance Alliance permite a designação mais precisa
do que é o anti-semitismo contemporâneo ”, lê-se parcialmente o texto da
resolução:

“Considera-o um instrumento eficaz de combate ao antissemitismo em sua forma
moderna e renovada, na medida em que engloba manifestações de ódio ao Estado de
Israel justificadas apenas pela percepção deste como um coletivo judeu.” (Times
of Israel, 03, 12, 2019)

E não é difícil compreender porque assim fizeram os franceses, e seria de se
esperar que todos os Países civilizados os seguissem como um exemplo de respeito
à civilização e de decência intelectual.

Menos de 75 anos do final da Segunda Guerra Mundial, o mundo testemunha uma
crescente onda de xenofobia.  O antissemitismo foi o preconceito étnico que mais
cresceu nos últimos anos. Record de ataques contra judeus foram registrados no
ano de 2019. O número das agressões foi inclusive muito maior do até então
considerado ápice da intolerância, pouco antes do início do grande conflito que
terminou em 1945. Somente nos EUA foram reportados 2100 incidentes violentos.

Portanto volto a um assunto que já foi tema de um extenso artigo anterior
publicado aqui neste mesmo Blog Conto de Notícia. Um dos candidatos a prefeito
de uma das maiores cidades do mundo pertence a um partido, o Psol, cuja
plataforma – e não apenas seus membros isoladamente — declara explicitamente,
contra todas as evidencias disponíveis, que Israel é um Estado que pratica
genocídio contra o povo palestino.

Para além do exagero retórico do partido do atual candidato do Psol a prefeitura
de São Paulo citamos declaração contida em sua plataforma – “o governo de Bush
foi quem mais ostensivamente o praticou, declarando apoio a Israel e a seu
massacre, dizendo que o Hamas é terrorista” conforme artigo retirado do próprio
site do partido do partido em 2018. A verdade, porém, é que há consenso da
comunidade internacional de que após prolongadas investigações contando com
experts civis e militares de várias nacionalidades de que não há nenhuma prova
de que houve “massacre”e de que o Hamas é uma organização terrorista e como tal
foi classificada pelos Estados Unidos, União Europeia e a maioria dos países
civilizados.

O site do partido é repleto de exortação ao ódio e notícias falsas, como as
publicadas no mesmo veiculo em janeiro de 2019, a verdade é que comparar o
holocausto com supostas carnificinas cometidas pelas forças de defesa de Israel
com os massacres promovidos pelo exército nazista, está para bem além de ser
patética. O nacional socialismo alemão e seus sócios responsáveis pela política
sistemática de extermínio dentro e fora dos campos de concentração assassinou 6
milhões de judeus.

Já o partido em questão adota palavras de ordem ameaçadoras, votos de ódio e
hostilidade sem contexto ou equivalência moral, e uma provocação particularmente
mentirosa:

Em outro trecho do “artigo”(sic) a verdade é mais uma vez torturada com slogans
como classificar o regime israelense de “neonazista” (sic). Neste caso é a
realidade que protesta já que ao contrário do que afirmam os militantes escribas
do partido, a legitimidade e apoio ao Estado de Israel é crescente inclusive no
mundo árabe e o exército de Israel está entre os mais éticos do mundo, conforme
arquivos da própria ONU.

“Em Israel, tal como foi na Alemanha do terceiro Reich, se trata de um estado
que somente pode sustentar-se sobre a base de um militarismo genocida e
racista”. Eis mais uma anedota de um partido que nem tenta ocultar sua
beligerância anti- Israel e, portanto, contra todos os judeus que encontraram lá
paz e refúgio depois da Shoah. E acharam proteção e acolhimento não só naquele
País, mas também em lugares como o Brasil, onde os povos estão acostumados a
viver em harmonia e mútua aceitação. Convivência pacífica que parece  incomodar
o núcleo duro da agremiação.

Estes são apenas alguns exemplos de desinformação irresponsável, com potencial
para incitar crimes de ódio, sempre sob o álibi de apoio ao povo palestino e o
argumento maniqueísta da generalização. Sequer se enrubescem quando apoiam o
regime teocrático e homofóbico iraniano e embarcam na psicose anti norte
americana que ainda assombra  parcela significativa da esquerda. Não é uma
cegueira seletiva. Não é ingenuidade. Trata-se no máximo de uma modalidade
perversa da síndrome de Hiroo Onoda, soldado do exército imperial japonês, que
até 1974 viveu escondido nas selvas das Filipinas sem saber que a guerra havia
acabado. No caso deste partido, fica mais do que evidente a manipulação e a
desonestidade intelectual com finalidade de propaganda política.

Apesar do candidato ter se esquivado das indagações feitas para ele durante a
campanha, cristãos, evangélicos, judeus e toda a opinião pública teriam muito
interesse em ouvir da boca do candidato que aspira governar a cidade no qual
habitam. O que afinal ele realmente pensa sobre tudo isso? E não foi por falta
de perguntas ou oportunidade para oferecer suas respostas. Parece, entretanto,
que o sujeito optou por um silêncio tácito quando se trata de manifestar seu
viés anti-Israel. Vale dizer, só deverá se pronunciar — o que seu partido já faz
aos quatro ventos — apenas quando as urnas eletrônicas estiverem lacradas.

A plataforma de acusações do Psol contra o Estado hebreu é muito mais extensa e
inclui queimar a bandeira de Israel e dos EUA (Manifestação no Rio de Janeiro,
2012), ameaça de expulsão de membros do próprio partido que não seguissem a
cartilha anti-Israel, acusar Shimon Peres de “genocida”, além da sequência de
acusações infundadas como vimos acima. Tudo isso divulgado de forma incólume,
sem que os checadores de fatos tenham verificado os fatos, como aliás acontece
sempre que os fatos não desmentem a ideologia que os checadores defendem.

Recentemente, um pequeno grupo de pessoas que dizia representar a comunidade,
judaica elaborou um vídeo declarando apoio ao candidato deste partido. O
problema é que o fizeram de forma furtiva, dando a entender que falavam em nome
de todos. Surgiram polêmicas e respostas circularam nas mídias sociais. Mas este
é apenas um efeito colateral de algo muito maior: o poder desagregador da
retórica do ódio camuflado de libelo político.

Felizmente, os judeus são, constitutivamente, um povo plural, no qual cabem
várias correntes de pensamento, preferências e até mesmo múltiplas ideologias.
Foi a memória acumulativa das perseguições, e a densidade quase genética que se
revela não só no psiquismo, mas no próprio corpo, que tem orientado o sentido
desta experiência de sobrevivência. Como a experiência é uma sensação individual
as sensações — de perseverança e afirmação da identidade — acabam se
manifestando de uma forma muito particular em cada espírito. E portanto, como
Freud observou em relação aos judeus: uma resistência admirável associada à
capacidade peculiar de sobreviver às intempéries.

Mas mesmo em meio a tanta diversidade, tem havido pelo menos um consenso
agregador entre os adeptos da tradição mosaica: não há, nunca houve, tolerância
com a intolerância.

Nem com os intolerantes.

Essa percepção não veio somente através da leitura, da cultura e nem mesmo pela
educação parental, emergiu da vivência e amadureceu através desta experiência de
seis milênios, já que um povo tão antigo tem a obrigação moral de se conservar
como arquivo vivo. E assim, usar suas memórias como bilhetes auto endereçados ao
futuro. Estes devem ser lidos em momentos mais agudos a fim de evitar tragédias
e enfrentar com coragem as vicissitudes da história.

O psol, seu candidato e colaboradores merecem algum agradecimento, já que
provaram à revelia, mas com todas as cores, a tese de que antissionismo — ou
ódio a Israel — é, de fato, uma manifestação vicariante do ódio antissemita.

E ai, recorro ao bilhete da memória onde está escrito com tinta rutilante:  “não
deixaremos acontecer, nunca mais”.

Anti- Zionism is Anti-Semitism 2 English Version – Memory Ticket


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UNDER THE THREAT OF HAVING AN OVERTLY ANTI-SEMITIC MAYOR IN THE CITY OF SÃO
PAULO, BRAZIL, WITH THE SUPPORT OF THE MASS MEDIA, I THOUGHT IT IMPORTANT TO
PUBLISH THIS ARTICLE IN ENGLISH AS A DENUNCIATION OF WHAT IS HAPPENING IN
THE COUNTRY.


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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In a lecture recently held at the Bait Jewish Center, the poet, essayist and
writer Nelson Ascher focused on a theme that is often banned or superficially
addressed: is anti- Zionism anti-Semitism? The blog News Tale gave an overview
of his remarks and added reflections that also involved the problem of
reliability of the news and the fake news , the political turmoil in Europe, the
role of mass immigration and Islamo -fascismo, who is not left is right or maybe
just “non-left”?

Ascher started by using an absolutely synthetic statement to answer his own
question

“Why does anti-Semitism exist and endure?”

“Because it always worked”

How does it work and what is the past and contemporary meaning of its
effectiveness?

In stating that Zionism was a kind of “second-degree nationalism ” and that
there are other “Zionisms” being gestated in Europe due to a lack of
identification between the social democracy practiced by the European parliament
and the countries it governs. It follows that “second-degree nationalism” can be
understood as a reactivity of peoples to attempts to interfere with their
customs beyond territorial and financial unity. In this sense, is Europe soon to
be threatened by several movements similar to Brexit ?  

In 2018 we had a disturbing record for the number of anti-Semitic attacks in
Germany, France and more recently in the United States. If there is no European
unlink the current status quo of the refugee crisis that allowed the entry of
nearly 2 million people (countries of immigrants from North Africa – the vast
majority, frise- are not refugees) coming from intolerant cultures violently
anti-Semitic. The problem therefore is more in immigration policy, which seems
to have no clear criteria than immigrants themselves. 

The debate has been banned by the systematic evocation of terms prohibited by a
censoring euphemism better known as “politically correct”. Any mention of the
wild immigration flow has been labeled ” Islamophobic “. It is also self-evident
because the expression ” Judeophobia ” is not given the same treatment . The
insistence of a large part of the media to condemn Israel a prioristically, in
the headlines and in the declarations, attests to this. In the recent crises
with the Gaza Strip ruled by the terrorist organization Hamas – and its Iranian
proxies – the headlines show the nonsense and prejudiced bias of a significant
part of the news media. “Israel attacks Gaza” is the most common call, this
after Israel received almost 500 rockets against civilian populations in less
than 48 hours. Importantly, as has been emphasized more than once that such
terrorist organizations have nothing to do with the the official government of
the Palestinians and its president. They are illegal fronts, which actually
oppress and hold the people of Gaza hostage. 

According to Ascher, there is a particularity in the case of European
anti-Semitism, which often uses the justificationism of the anti-Zionist alibi.
It is essential to analyze the role – direct or indirect – played by Angela
Merkel and other leaders on that continent. 

Still according to his analysis, some of these self-titled governments of social
democracies, regularly pay tribute to Jews killed in the Shoah (Holocaust) and
in fact publicly condemn anti-Semitism, which has been outlawed. However, while
giving funeral speeches under self-lashes, they neglect the dramatic and
explicit aggressive climate against Jewish communities. While other countries
seem to do the reverse. In the case of Hungary – a country that you follow the
policy with particular attention – we have an example of this apparent paradox:
there we have a government classified as extreme right (sic), but it is, at the
same time, one of the places where contemporary Jews they seem to be safer when
compared to the situation in other European countries. The paradox is only
apparent: while a significant part of the left-wing parties chooses to cluster
around old anti – Jewish conspiracy theories – formerly the monopoly of the
extreme right – there is now a new and incendiary component to be accounted for:
as defined by Umberto Eco , it is the Islamo -fascismo.

How can it be explained then that nations that even make the mea culpa frequent
for their responsibilities in the genocide practiced by the Nazis with the
participation of several other countries, but remain inert in the face of the
epidemic of anti-Jewish intolerance that today sweeps Europe, if not with
impunity, counting with the omissiveness of governments.

Ascher then recommends the following inflection: what is the “Democratic Rule of
Law”. The former president Mubarak for example was directly undermined by
Obama’s foreign policy and sequence the Muslim Brotherhood won the elections in
Egypt. As we know, the “Brotherhood” is one of the oldest radical Islamic
associations. A strategic ally of the Nazi party is today an admittedly jihadist
entity . He won by a large margin defeating all moderate parties in what would
be one of the first elections in the Arab country in decades. Shortly
afterwards, the population itself understood the error and took to the streets –
in an event that was wrongly classified as “Arab Spring” – asking for the
deposition of the newly elected, which effectively ended up through a military
coup led by General Sissi. 

At the time, several analysts attributed the phenomenon of the election of Morsi
– recently killed by a heart attack – to an error in the timing of the
democratic process: IM was the only organization to keep its structure intact
during the subsequent dictatorships that lasted and, therefore, the only one
able to compete in the election as an almost exclusive option in that suffrage
of a plebiscitary character. Considering the episode, what is the Democratic
Rule of Law anyway?

If only an understanding of the historical-political context can define it, what
is its consistency?

Right and left have their wild vices and classifications. In turn, those who do
not fit the postulates of the left are liable to be labeled right or extreme
right. Only “not left” or “not right” is not allowed. Many members of the North
American Democratic Party and the English Labor Party – centered on the figure
of Corbyn – have instrumented the discourse of the struggle for Palestinian
rights by sacrificing historical principles by openly defending anti-Zionist and
anti-Semitic stances. This includes standing in defense of the aitolás
theocratic regime and defending jihadist organizations – officially recognized
by the European Parliament as terrorist entities – such as Hamas and Hezbollah.
These are complaints that come from within the English labor party itself.

What would be the ideological and tactical significance of this political tour?

It is disturbing to know that many journalists have started to act in a militant
manner. Selecting news according to more ideological standards than reporting
facts. It seems obvious that the hermeneutic bias has taken on a much more
powerful form than the facts. Even if neutrality is an idealized function,
wouldn’t the original role of journalism be closer to encouraging the reader to
make his own decisions than to doctrine it ? Not nowadays, when the fake news
that comes from official sources are much more compromising – because they are
supposedly unsuspected or less suspicious – than those advertised on social
networks – always subject to double checking by the most careful users.

After the episode of the accusations of the defeated candidate for the
presidency of the Republic, Ciro Gomes, who externalized his prejudice when he
evoked “corrupts of the Jewish community”, the most recent Brazilian case of a
statement accusing the Jews fell to the magazine “Isto É”. The broadsheet
published unfortunate article explicitly anti-Semitic – with the pretext to
accuse the current government communications secretary – using the motto
compares it to the propaganda chief, Josef Goebbels’s infamous, marquetólogo the
fuhrer . The magazine also used the accusatory term to fabulate and identify the
enemy, again, “the Jewish community”. The title of the libelo would dispense
with further explanations “O Goebbels do Planalto”.

In this sense, the attempt to sabotage the right of any subject of a certain
ethnic group to work or act politically for a government that the columnist and
the editorial direction of the pamphlet considers inappropriate is evident. In
the absence of consistent arguments, the accusation will always fall on the
ethnic condition that is most at hand. It sounds more often against Jews.

It is at this moment that we are very close to the impeachment of citizenship.
And the suspension of the idea of the secular state by those who should defend
it . And so it was possible once again to evoke the myth, this one clearly
neo-Nazi, that there would be a “Jewish plot”. Now, there are Jews of all
political currents and nuances and the ethnic- religious condition could never
be used as an alibi to generalize anything. Unless it is clear that the
journalist or writer is already in the fragile intellectual condition of
post-analysis . That is, what matters in any story is your personal beliefs and
the starting point is already the ending point. Groundless generalizations such
as those that routinely appear always start from an ideological, devotional,
that is to say, fanatic bias. 

Is there not one of the roots of the discredit today attributed to regulated
media in general? The manufacture of disinformation – increasingly identified by
the speed and expansion of access to the diversity of information media – is not
the very genealogy of false news? News that is now spreading with the magic of
the web with frightening resourcefulness? Does this occur while it is possible
to observe paradoxically a considerable advance of confidence in what is
transmitted through social networks?

After all, what are ” fake news “? And what is its impact on the national and
international political scene? Especially in the case of Israel that suffers a
considerable number of attacks with financed media and paid blogs to spread, for
example, hate speech and intolerance.

In this sense, it can be said that modern anti-Semitism has dressed up as an
occasion for anti – Zionism . However , it is an improvised outfit. Under the
demountable cloak that deserves to be demystified by serious journalism, there
is selective respect for freedom of expression.

Just over 74 years after the end of World War II and the death of more than 60
million people, including 6 million and 250 thousand Jews (these dead after the
end of the war when they tried to return to their European homes), the reality
only reaffirms the vital importance of the existence of the State of Israel for
the Jewish people and their security in the current historical moment. And
despite the threats and the revival of the virulent wave of intolerance against
the Hebrews, there has never been a time in human history when so few Jews died
in massacres. The anti-Zionism then finally is revealed as just another veiled
face of one of the most primitive archetypes and recurrent humanity.

Perhaps the great frustration of preachers of hate is that this time the
scapegoat has a way of defending itself.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/antissionismo-e-antissemitismo-1/


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DIÁRIO DO APARTAMENTO 6 – O RISCO DA ESPERANÇA (BLOG ESTADÃO)


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Ilustração – Nilda Raw – O.s.t 2018 “Tree of life”



O asteroide de 15 kilometros de diâmetro que há 66 milhões de anos atingiu a
península de Yucatan no México extinguiu os dinossauros e quase toda a vida na
superfície do Planeta. Segundo muitos, estamos aos 0,6 do início da segunda
maior ameaça a vida, desta vez é a humanidade que será apagada. Até os não
negacionistas sabem, que voltar ao trabalho não é uma escolha. É pedir muito
voltar a aceitar uma condição que se remonta ao Gênesis e nos impôs que o
sustento deveria ser obtido através do esforço? Ontem foi inevitável voltar a
ter uma rotina fora de casa. Busquei disfarçar e tive que conter a satisfação
enquanto caminhava até o escritório. Estava chegando no prédio quando fui
interpelado por uma moça toda encapotada: — E essa cara feliz? Pego de surpresa,
teria uma estranha capturado alguma euforia ignorada? –Pois é, estou retomando a
rotina, primeiro dia. E até consegui esboçar um sorriso amistoso. –Ah, voltando
a trabalhar? Ela aplicou um leve tom de censura à pergunta. — Uma hora teria que
acontecer, minimizei. — Olha. Não sei não! E ela franziu as sobrancelhas. — O
que é que você não sabe? E depois de ter me ensopado de álcool gelatinoso, já
com o antebraço enfiado na porta de entrada, reflui dando um passo atrás. — Sei
lá, o Sr. não é mais nenhum jovem, é grupo de risco, não acha que é muita
ousadia? — Amiga, é aceitar o jogo e ir em frente, nos proteger, e, como dizem
os ingleses, “espere pelo melhor”. E virei para seguir minha jornada. Ela não
desistiu. — Está brincando? Neste caos no qual estamos metidos? É sério que você
acha que vale a pena se arriscar? Eu se fosse você… Pois é. Ela não era eu,
portanto não respondi e determinado, entrei no prédio para subir e começar a
atender as pessoas que já estavam a minha espera. Pensei na facilidade com que a
interpeladora me abordou para fazer observações não solicitadas. E cheguei a
conclusão de que faz parte de uma mentalidade que tem virado epidêmica, todos
devem estar disponíveis todo o tempo, todos são devassáveis, todos podem ser
julgados e interpretados. Sabe-se que a palavra otimismo vem assumindo uma
conotação pejorativa. O termo tem variado muito de significado, entre “ingênuo”
e “cândido” e evoluiu rapidamente à “trouxa” e “imbecil”, podendo sempre descer
mais, quando palavras menos nobres serão utilizadas. Chegamos a pensar
seriamente que compreendíamos para onde caminhávamos. Mas, por pura
incompetência, cessaram as fantasias de que seríamos reféns da tecnologia. E
olhem que não esbarramos nos limites das órbitas distantes, na temível
singularidade dos buracos negros, nem nas dimensões de estrelas que pelo tamanho
escapam de toda estimativa matemática: a história registrará que entramos num
estado de animação suspensa diante de um animalículo. O vírus (do latim,veneno)
não se contentou em ser só mais um fenômeno da natureza. Transformou-se numa
escatologia programada. Mas, antes, deu descomunal poder a quem nunca soube
usa-lo da única forma que tornaria uma democracia realmente sustentável:
benevolência e genuíno interesse pelos governados. Como disse em março o ex-juiz
da Suprema Corte do Reino Unido, Sir Lord Jonathan Sumption, referindo-se a um
evento que reprimiu pessoas que desafiaram o lockdown: “Eis a aparência de um
Estado Policial”. No mundo todo o fato é que para mostrar serviço quando os
governos não sabiam qual serviço mostrar, o poder e seus agentes impuseram,
tergiversaram, emitiram versões paradoxais, criaram regras marciais, prenderam
críticos e soltaram criminosos, aturdiram, espalharam desconhecimento,
desorganizaram os incautos, mudaram leis, transformaram a medicina em armamento
ideológico, e, finalmente, respaldados por extrapolações epidemiológicas a toque
de caixa estão na iminência de prescrever soluções mágicas, apelidadas de
experimentais. E o principal: deixaram quem mais precisava relegados a um
lockdown espiritual intermitente. Aqueles que vem acusando o poder de promover
bullyings de Estado contra os cidadãos podem ser etiquecados como desejarem ,
mas, sem dúvida é deles a coragem que falta às instituições. Acham exagero
denunciar o drama? Tanto quanto transformar uma moléstia em mito e espalhar o
pavor. No lugar da mínima responsabilidade testemunhamos o autoritarismo sendo
aperfeiçoado usando o slogan do risco. Isto tudo sob a licenciosidade das mídias
que, se livres, escolheram ser sócias voluntárias dos governantes contra os
governados e a opinião pública. Ouviu-se mais de um ancora de TV cochichar nos
bastidores a mesmíssima frase “tem mais é que apavorar mesmo”. Sob a indecência
das mordaças psicológicas, com a previsível corrosão da linguagem, não foi
difícil imaginar por que é que todos fomos calados, sem que nenhuma boca se
insurgisse. De fato, insurreições foram registradas, sempre por causas
parasitas, periféricas, sublevações secundárias, motins autoritários, fúteis e
até engraçados diante da superficialidade das reivindicações. Então surgiram os
“anti”, aqueles que só se importam com a vida de alguns — e ocasionalmente
defendem suprimir as demais se for para melhor testar suas teses. E, finalmente,
emergiram aqueles que usaram as múltiplas fantasias conspiratórias para
desconstruir as verdadeiras ameaças. Não sou otimista nem pessimista. É que as
vezes sou tomado por uma estranha credulidade: cultuo a alegria imotivada. Soa
imperdoável? Para desespero de muitos hoje a pandemia — assim como seus
instrumentadores — está saindo de foco. A pressão evolutiva sobre o vírus está
resultando em menos mortes, ele ainda se espalha, mas a gravidade da doença se
arrefece e não só porque hoje já há alguns tratamentos eficientes. Recorro ao
sempre presente Professor Titular de Patologia Walter E. Maffei: “o vírus não
quer matar o paciente”, precisa se propagar. Mas há uma analogia pedagógica
merece ser mencionada: o veneno, assim como parte significativa dos políticos,
também aprendeu a fórmula para permanecer entre nós: vão continuar nos dando dor
de cabeça sem nos aniquilar completamente. E como num zoom out, as piores cenas,
ainda bem, vão ficando cada vez mais distantes. Sob as usinas de lives, as telas
com poluição visual de rostos justapostos vinham criando uma estética
mortificadora. O único sinal externo de que a anormalidade insiste em tornar-se
normativa são as máscaras e as fantasias por trás de cada uma delas. Afinal,
quem ordenou tudo isso? E quem foi que nos acusou de não estamos gratos por
continuar vivos? Podemos estar solidários com quem sofreu e ao mesmo tempo
declarar emancipação das políticas governamentais. Nossa sobrevivência não pode
ser mais creditada ao Estado provedor, aos populistas confessos ou aos
saqueadores da subjetividade à espreita da próxima crise. A desumanização começa
com a uniformização e termina com a arte e cultura reféns da ideologia. Quando
superarmos esta fase será graças aos esforços individuais, ao sacrifício
silencioso das maiorias torturadas pela tirania de ofício. Infelizmente nem
mesmo o rodízio no poder, a última salvaguarda para a democracia, parece ter
deixado claro o que precisamos. O que os bem pensantes nunca imaginariam — e
detestam a sensação, pois é um território que não conseguem entender — é que
eles perderam a hegemonia. Se há um risco que vale a pena correr — em oposição
ao determinismo dos cultores do apocalipse — é precisamente o risco da
esperança. — É que na tradição judaica — eu deveria ter tentado explicar à moça
encapotada — a árvore que nos habita abriga mais de um tipo de papiro, com
fibras que misturam prudência com ousadia. Propositalmente artesanal, o papel é
temperado para que a tinta do Único sele, carimbe e nos inscreva no livro da
vida.  



https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/diario-do-apartamento-6-o-risco-da-esperanca/


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O SUS E AS FRONTEIRAS EPISTEMOLÓGICAS (BLOG ESTADÃO)


DESTACADO

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos, Na Mídia, O outro código da Medicina (e
book) homeopatia, Pesquisa médica, Prática clínica

≈ 1 comentário

O Sus e as Fronteiras epistemológicas

“Avistar uma fronteira, é, já, ultrapassa-la”

Gaston Bachelard

Paulo Rosenbaum, PhD. Doutor em Ciências (USP) Mestre e Pós doutor em Medicina
Preventiva pela FMUSP

Em resposta ao artigo “O SUS contra a ciência” dia 17/07/18 publicado na seção
“Espaço aberto” de autoria de Natalia Pasternak Taschner e Alicia Kowaltowski.

O artigo de hoje das duas autoras acima trata de um tema importante, mas é de
tal forma reducionista e desinformador que pode ser ele mesmo considerado como
duvidoso em termos de acurácia científica. A contradição começa com o título
escolhido: “O Sus contra a ciência”. Ele evoca o que há de pior em termos de
maniqueísmo científico e epistemológico e trata uma questão cara à saúde pública
com desleixo e uma perturbadora despreocupação com a ética. O grande mérito do
artigo poderia ser trazer para a discussão os graves problemas de saúde pública,
mas adotou uma abordagem confrontadora, e infelizmente o mérito potencial do
nobre espaço acabou desperdiçado como um grande equivoco. Superando os problemas
deste libelo anacrônico, teço, a seguir alguns comentários baseados em um dos
trabalhos que desenvolvi no trabalho academico na FMUSP.

A história da medicina tem sido contada apenas parcialmente, sempre
privilegiando as concepções e práticas hegemonicamente sancionadas na
atualidade. Existe mais de uma outra forma racional de responder aos desafios
colocados à medicina em sua trajetória histórica. O resgate da tradição
empírico-vitalista, da qual a homeopatia é a principal herdeira, redimensiona
essa trajetória. Esta outra versão da história nos fala do fato homeopático e
das suas possibilidades para viabilizar projetos de intervenção não restritos à
funcionalidade mecânica do organismo.

Se isto vem ocorrendo na práxis da biomedicina, deve-se à consciência instintiva
de seus protagonistas, uma vez que a formação acadêmica não capacita os médicos
para esta modalidade de intervenção. Compreende-se, então, que seus
protagonistas experimentem enormes dificuldades em readaptar essa visão não
mecânica a seus curricula práticos, uma vez que a pedagogia dispensada ao médico
ainda centra-se substancialmente nesta única dimensão. Ou seja, há, sim, um
despertar para outras dimensões do adoecer, a percepção de que este não está
circunscrito ao problema biológico. No entanto, este outro modo método de
enxergar e avaliar a doença e seu tratamento ainda encontra poucas condições de
viabilizar-se pela carência de agentes no campo operacional.

As medicinas tradicionais entre os quais encontram-se a homeopatia, a medicina
oriental, a auryveda,já foram demasiadamente castigadas e perseguidas por
ideologias médicas e sistemas racionais onipotentes, cujas repercussões
fizeram-se sentir na maturação de seus programas. Não se trata, porém, de uma
condição especial da homeopatia e da medicina oriental. Este é um problema
inerente à competição, anteriormente referida, entre programas científicos. Numa
época em que a pluralidade metodológica parece arrefecer a competição entre
paradigmas, algo inusitado pode estar ocorrendo: as práticas integrativas correm
o risco de tornarem-se algozes de si mesmas, caso não saibam trabalhar com suas
próprias contradições e reorganizar a teoria a partir do que dela emana como
produto. Fica clara a completa impossibilidade de continuar a esquivar-se de
interagir com as outras disciplinas e repartir este legado, herdado dos
sucessivos conflitos que as caracterizaram em suas órbitas históricas.

Para tanto não basta que uma epistemologia “emprestada” de outros saberes possa
corrigir as insuficiências metodológico-conceituais, mesmo que seja baseada
naquilo que emerge da prática ou através das discussões teóricas. Assim, não
serão os os químicos, físicos, psicanalistas, historiadores da ciência ou a
tradição biomédica aqueles que trarão a luz que falta. Essa luz deverá surgir do
próprio incômodo e inquietude salutar que impõe-se aos que sentem a necessidade
de produzir suas evidências: os médicos que praticam outras formas de medicina.
Nota-se que isto já está acontecendo e ocupando certos nichos do conhecimento,
ainda que de forma tímida e pouco produtiva.

Devemos insistir na interlocução, que será difícil, assimétrica, tortuosa. Mas
não é mesmo a tensão que instiga e excita o ânimo do pesquisador? Com a mesma
obstinação, contudo, deve-se cuidar para que o produto inicial da interlocução
venha a partir do interior, neste caso, a partir do conjunto de vivências
produzidas pela própria homeopatia.

Segundo Henri Bergson (1936: 15), a “pesquisa científica é um diálogo entre a
mente e os fatos”, portanto, uma construção científica é, por excelência, um
diálogo referido a uma interlocução entre uma realidade eleita e uma mente
disposta a percebê-la.

As práticas integrativas (recomendadas pela OMS e a OPAS como uma forma
inteligente de assistência médica na atenção primária) constituem-se como um
saber com aplicatio, mas são bem mais do que isto. Por acaso as autoras se deram
ao trabalho de pesquisar e informar isso aos leitores deste jornal? Decerto não.
O fato é que as medicinas integrativas construiram um método, um acordo
intersubjetivo que vigia sua própria execução. Trata-se de uma filosofia médica
(uma iatrofilosofia particular) com tradição suficientemente forte para
reivindicar que suas formas de conhecer o sujeito, seu adoencimento, cuidado e
cura sejam recolocadas como uma das possibilidades de teoria do conhecimento em
medicina.

Se o que hoje se discute dentro dos distintos modelos científicos, tais como a
teoria da complexidade e a teoria do caos, obtém status epistemológico em
biologia, comparáveis mesmo ao que a teoria da relatividade ou a teoria quântica
obtiveram na física, existem percepções que compõem o saber integrativo que
devem perceber o valor e fecundidade de sua efetiva e positiva colaboração.

A rigor a medicina não é ciência, segundo Canguilhén a medicina já foi
classificada epistemologicamente como “ciencia operativa” pois nela repousa uma
quantidade incomensurável de processos complexos que não terminam quando se
confecciona a prescrição, ainda idealizada como o ato derradeiro da atividade
médica. A rigor, a discussão está apenas começando, uma vez que deve-se
considerar a imprevisibilidade das comunicações e a imensa variabilidade de
resposta dos sujeitos em suas distintas reações e respectivas idiossincrasias.
Isto vale especialmente para a medicina em sua dimensão arte, quando a cada nova
consulta estas comunicações se processam de um sujeito ao outro.

As medicinas integrativas precisam começar a reaprender com sua própria
construção teórica, que deverá emergir de uma prática cuidadosa, que saiba, como
bem diz o aforismo hipocrático, considerar que “a arte é longa, a ocasião
fugidia e a experiência enganadora, o juízo difícil” (Hipócrates, 1838).

A arte é longa, porquanto tanto os comentaristas ocidentais como Hahnemann, ao
invés de facilitar o trabalho e montar um sistema no qual se poderia usar o
antigo sistema das nosologias para prescrever, afirmaram o valor do particular
sobre o geral. “Criaram”, assim, um desafio hermenêutico nas reduções propostas
pelas generalizações a partir das classificações de doenças. O cogito
hahnemanniano sugere, então, que deve existir também uma nosologia do
particular, do incomum, forçosamente também do impreciso. Cria uma inversão de
valores, um contrapensamento, que contém em si mesmo uma das peças-chave do seu
método, um problema digno de investigação para qualquer epistemólogo
contemporâneo. O fato adquire aqui estatuto de idéia fecunda. Isso hoje se
reflete no crescimento de medicina baseada em narrativas, a slowmedecine, a
rejeição aos hiperdiagnósticos e uma orientação cada vez mais cuidadosa para o
desenvolvimento de uma medicina mais individualizada.

A ocasião é fugidia já que para aprender não basta uma série de experiências
mesmo que metodologizadas e organizadas. Escapa, no domínio da subjetividade do
paciente, uma série de elementos fundamentais, o que automaticamente transforma
em quase quimera a busca de uma inapreensível essência do sujeito. Os pacientes,
assim como as substâncias medicinais, “escapam-nos” por entre os dedos, porque
não somos suficientemente aparelhados para detectar o que há ali de curável e de
curativo, respectivamente. O sujeito que sofre procura ajuda, alívio para seu
sofrimento, qualquer ajuda pode lhe dar um suporte positivo. Muitas vezes isto
pode resultar em processos transferenciais adequados, medicamentos
criteriosamente escolhidos a partir de diagnósticos individuais, mas deve-se
admitir que nem sempre eles são suficientes.

Os médicos debruçam-se sobre representações de fragmentos (sintomas) para cuja
interpretação buscam analogias em outros (experimentações) para capturar a
natureza da afecção de tipos singulares. A unidade no indivíduo é fato, mas o
que muitas vezes capturamos são apenas as intermitências (sintomas e queixas)
desta unidade. Quando se vê um medicamento bem escolhido agir, enxerga-se ali
somente uma maior coerência entre estas intermitências. Podemos passar a
perceber uma retomada da ritmicidade do conjunto. E então, na evolução clínica,
pode-se observar como, para que e para onde este sujeito em reconstrução está
indo. Por isso trata-se de um disparate a defesa da tese de que há uma e somente
única forma correta de exercer a medicina.

A experiência é enganadora porque jamais poderemos traduzir completamente uma
vivência subjetiva, como é o caso da anamnese e relação médico-pacienite, de
acordo com uma assepsia metodológica. Mas de fato, como professa o primeiro
aforismo hipocrático, aquilo que se conhecia até experimentar torna-se uma
retradução de fragmentos de vivências que obriga o médico a comparar com aqueles
que se colhe em cada consulta. E em cada nova consulta de um mesmo paciente,
enxerga-se outros fragmentos, com os quais muitas vezes, entre transferências e
contratransferências, se misturam médico e paciente.

O juízo é difícil porque é necessário possuir potencial e instrumental éticos
suficientemente amadurecidos. Assim, pode ser preciso retroceder diante de um
juízo já feito. Devemos, como um magistrado diante de um caso de múltiplas
possibilidades, instruir o processo, deixando o mínimo de vestígio de nossas
mãos sobre a decisão, mas sabendo que sempre restará uma margem de
interpretação, de liberdade no ato de julgar. O juízo é difícil porque nossa
capacidade de perceber o “sujeito-tema” resvala nas nossas próprias metáforas.

“Mas é completamente diferente com o tratamento de objetivos, cuja natureza
essencial consiste de operações vitais – o tratamento, a saber, da estrutura
humana viva para levá-la de uma condição não saudável para uma saudável (que é a
terapêutica) e a disciplina da mente humana para desenvolver e exaltá-la (que é
a educação). Em ambos os casos, o tema sobre o qual trabalhamos não deve ser
considerado e tratado de acordo com as leis físicas e químicas como os metais do
metalúrgico, a madeira do lenhador ou o tecido e as cores do tintureiro. É
impossível, portanto, que ambos, médico e professor, quando cuidando da mente ou
do corpo, devam necessitar de um conhecimento antecipado de seu sujeito-tema,
que possa conduzi-lo pela mão até o término do seu trabalho, assim como obter,
talvez, um conhecimento das propriedades físicas e químicas dos materiais que
ajude e conduza o metalúrgico, o curtidor e outros artesões até a perfeição dos
seus. A vocação de ambos demanda outro tipo de conhecimento, assim como seu
objeto, um indivíduo vivo, é completamente diferente.”

(Hahnemann, sobre o valor dos sistemas especulativos em medicina, 1984:
491-492).

É verdade que nem todas as praticas integrativas são válidas e que pode haver,
entre elas, práticas pseudocientíficas. Algumas, sem o olhar atento de quem deve
ter formação médica, podem ser, de fato, lesivas ao paciente. Destarte as
medicnas integrativas exercidas com rigor e ética tem nas mãos, em síntese, uma
possibilidade concreta de intervir no sujeito, desenvolveu uma semiologia
generosa, podendo interferir na maior parte das enfermidades crônicas. É claro
que encontram-se algumas lacunas: insuficiência teórica, já que uma reformulação
de alguns pressupostos se faz necessária; restrições do arsenal terapêutico
frente à diversidade humana e a assunção das atuais limitações e dificuldades
para demonstrar a ação de sua eficácia terapêutica.

Na presente ausência de estruturas hospitalares adequadas (ou serviços que ao
menos aceitem-na como uma possibilidade), como viabilizar todas as opções
possíveis nos casos agudos e nas emergências? Como agir coerentemente e com
responsabilidade clínica frente àquelas enfermidades que requerem suporte
adicional, como reabilitação, cirurgias eletivas e até mesmo drogas
convencionais? Estas todas são questões que, apesar de estarem aparentemente no
âmbito da prática, merecem um melhor acolhimento nas futuras discussões
epistemológicas.

Outro aspecto importante é o espaço e o tempo ocupados durante uma consulta.
Este “tempo” pode ser visto como um obstáculo, quando se dimensiona em que tipo
de sociedade vivemos. Ao mesmo tempo, representa um positivo resgate solidário
no trato entre pessoas. Trata-se de um tempo absolutamente necessário para que o
terapeuta possa reconstruir a história patográfica e biográfica do paciente.
Tempo também precioso para que um “outro” possa ser traduzido por si mesmo para
o terapeuta. Tempo para praticar a auto-observação, consiga ele se fazer
entender ou não por nós, terapeutas, seus interlocutores. Suponhamos que
possamos ensinar aos médicos que se deve equiparar a destreza com o cuidado, a
perícia com a suavidade, e que tanto a acurácia como a efetividade devem ser
pensadas, também, prospectivamente. Por que não ensinar aos médicos que se deve,
sim, atender às doenças, mas ouvindo-se simultaneamente as metáforas daqueles
que as apresentam que, de maneira uníssona, reclamam cuidados e escuta.

Este pode ser um sensível “termômetro” da potencial capacidade ética e
compassiva do ato de cuidar. Também representa uma enorme economia aos
contribuintes já que os procedimentos são em sua maioria ambulatoriais, portanto
muito menos dispendiosos e o atendimento mais pessoal e artesanal possui enorme
potencial para evitar intervenções desncessárias. Além de, quando for o caso,
encaminhar e triar melhor os casos que precisam de atenção mais especializada
e/ou hospitalar.

Talvez, aparentemente, as medicinas integrativas como medicina do sujeito não
sejam a terapêutica mais adequada à lógica das sociedades atuais onde tempo
representa apenas dinheiro e poder.

Mas, talvez, isso mesmo é que faça dela uma alternativa assistencial
fundamental.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/o-sus-e-as-fronteiras-epistemologicas/


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O LADO INCERTO DA HISTÓRIA (PUBLICADO NO JORNAL O DIA, VERSÃO IMPRESSA
E DIGITAL)

13 quinta-feira jun 2024

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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, A lado incerto da história.          

Paulo Rosenbaum

Se o senso comum determina que o oposto de certo seria o errado, tenho pensado
numa outra hipótese. Dizem que a incerteza é a mãe de toda curiosidade. Para uma
sociedade premida pela expertocracia e pela incessante demanda científica por
evidências, essa é uma daquelas palavras-tabu, mesmo despois de Heisenberg ter
formulado o principio da indeterminação.  E ela não se encontra só. Sob o mesmo
status estão outras, por exemplo imprecisão, indeterminação, o insondável. Todos
estes vocábulos tendem à execração e ao descrédito. Admitamos que há em todos
nós uma certa aversão, vale dizer um horror pelo imponderável, na mesma medida
que temos um apreço quase inversossimel pela precisão e pela certeza absoluta.
Tudo isso a despeito de que o inapreensível do mundo seja muito mais frequente
do que o peremptório. Afinal, como se sabe, a ciência tem muito mais perguntas
do que respostas.

Como judeu e adepto da ideia de que Israel é o lar para aqueles que se
identificam com uma nação que ostenta os valores judaicos prescritos pela
cultura e tradição, cuja origem histórica pode ser remontada a 3.000 anos,
também conhecida como idish kait, talvez precisaria e devesse explicitar meu
conflito de interesse ao enunciar o que estou por enunciar. Isso não significa
que não me pergunte se tudo poderia ter sido conduzido de uma outra forma em
relação ao atual conflito em Gaza. No entanto, votei pela dispensa de
formalidade para explicitar o tal conflito de interesse, considerando o que, com
raríssimas exceções, tem  sido observado na conduta da mídia mundial.

Mais precisamente depois do 07 de outubro.

Hoje parece haver uma central única de jornalismo, particularmente quando se
trata do assuntos relacionados a Israel e os seus habitantes atuais e futuros.
Esta rede de comunicação vem desprezando um paradigma elementar: o da
autocrítica. Boa parte da imprensa vem escolhendo suas manchetes e testeiras
esquecendo de um detalhe fundamental. Uma prerrogativa que antes parecia
consensual entre os veículos de informação confiáveis: trazer para seus leitores
e telespectadores uma concepção de verdade razoavelmente aproximada aos fatos.
Isso significa  buscar aprofundar o aspecto crítico e analítico em detrimento do
viés ideológico e sensacionalista.

Pois bem, recentemente o supremo Aiatolá da Pérsia, atual Irã, fez uma
declaração publicada em  um post nas redes sociais em 31 de maio — sim ele tem
uma conta preservada no X.  Ali ele pode escrever o que bem entende, ainda que
haja bem mais do que uma objeção ética ao seu discurso que frequentemente
instiga o ódio, a violência e conclame extermínio de um povo.  Nesta publicação
o chefe da teocracia agradeceu os estudantes e colaboradores dos EUA que fizeram
mobs e acampamentos conclamando intolerância e violência antissemitas nos campi
universitários. Os pacifistas do porrete fizeram vigílias entoando slogans
clamando pelo extermínio dos judeus e de eventuais “infleis” de outras
orientações políticas e religiosas.

Em seu comunicado Khamenei os elogiou ‘por estarem do lado certo da história’.

Proponho um teste de hipótese: será este de fato o lado certo da história?

Ainda não fiz uma análise minuciosa de como a imprensa mundial se comportou no
inicio da ascensão dos nazistas na Europa nos anos 1930, mas suspeito que agora
um erro muito semelhante esteja sendo cometido. Um erro que pode se tornar
criminoso se insuflar, ao velho modo dos libelos de sangue, as massas contra
comunidades e minorias. E isso já está ocorrendo. Do anúncio mentiroso e
desinformador de que houve um ataque com um míssil contra um hospital em Gaza
(BBC, CNN, Agencia Brasil, O Globo 17/10) aos números de vítimas civis
fornecidos pelos mesmos extremistas fanáticos que voluntariamente não apenas
massacram covardemente civis, mas especialmente usam sua própria gente como
bucha de canhão. Hoje as investigações mostraram que o ataque foi resultado da
falha de um míssil disparado por proxys iranianos, a  Jihad Islâmica. Foi este
artefato que atingiu o estacionamento do hospital El Shifa. Esta pequena
desinformação instrumentalizada custou tanto o cancelamento  de rodadas
importantes de negociação de paz como mobs de linchadores dispostos a dar cabo
de tripulantes de um avião da El Al no Daguestão, Rússia. Mais recentemente
depois de notícias que inflacionaram o número de vítimas civis, judeus
hospedados em hotéis na Grécia foram perseguidos e quase linchados. Uma
sequência de eventos que estariam cronologicamente melhor alinhados com os
éditos medievais europeus ou com a inquisição espanhola.

Bem, toda essa avalanche de desinformação potencialmente produtora de tragédias
contra inocentes não parece ter provocado escárnio mundial, indignação de
governos ou textos e editoriais condenando o regime da guarda revolucionária,
uma conhecida e sanguinária tirania de inspiração totalitária.

A ONU, sob a tutela de Guterres, que abusa de seus critérios parciais, por
exemplo, parece endossar a aberração do libelo teocrático.

Então me permito perguntar: que o regime que patrocina os inimigos da humanidade
em pelo menos quatro países – Iraque, Síria, Yemen, Libano — e subsidia grupos
que desejam desestabilizar o governo em outros países, como por exemplo na
Jordânia. Se as mulheres sofrem repressão com penas variáveis que incluem 
chibatadas, humilhações, torturas públicas  e espancamento. Se os adversários
políticos, particularmente os partidos seculares e do campo da esquerda estão
presos e sāo frequentemente torturados e mortos. Se os partidos são controlados
por uma agremiação de inspiração teológica que determina quem pode ou não
concorrer aos pleitos, portanto muito distante de um estado democrático de
direito. Se o presidente morto recentemente em um acidente de helicóptero era
mais conhecido como “o açougueiro de Teerã” Se todos estes elementos acima são
exemplos, e para muitos constituem o lado certo da história, fica a duvida se
afinal o lado incerto seria uma escolha tao equivocada.

Um último exemplo acaba de acontecer quando as forças de defesa de Israel
resgataram 4 reféns que estavam sendo mantidos há 245 dias em cativeiro por um
fotojornalista e seu pai, um médico. Ambos membros da organização que praticou a
chacina em 07 de outubro. Notem que a modalidade jornalista-sequestrador mostra
como recentemente as profissões se tornaram ecléticas. A maioria dos telejornais
do mundo deram o furo da seguinte maneira: reféns liberados.

O uso de uma palavra no lugar da palavra que deveria ser a mais adequada muda
totalmente o contexto, e, portanto, a interpretação. Neste episódio o mais
importante é constatar que a filosofia da desinformação está na linguagem dos
enganos bem estudados das mídias: a palavra seria resgate, não libertação.

Mais um motivo para fazer um contraponto: o elogio do incerto.

https://odia.ig.com.br/opiniao/2024/06/6861923-paulo-rosenbaum-o-lado-incerto-da-historia.html




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O CIRCUITO, OU, QUEM TEM MEDO DO ÓDIO? (JORNAL O DIA, VERSÃO IMPRESSA E DIGITAL)

13 quinta-feira jun 2024

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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https://odia.ig.com.br/opiniao/2024/05/6837408-o-circuito-ou-quem-tem-medo-do-odio.html

O Circuito, ou, quem tem medo do ódio?

“A tolerância é um crime quando aplicada ao mal”

Thomas Mann

Recentemente pesquisadores fizeram um esboço da fisiologia do sentimento de ódio
que apresentou padrões distintos de outros sentimentos como medo, ameaça e
perigo. Nomearam-no como “circuito do ódio”, um sentimento que invade o sistema
límbico, particularmente verificáveis nas estruturas do córtex e no subcortex,
particularmente no putamen e na insula, antes que o sujeito possa ter qualquer
controle sobre as próprias ações e palavras. A percepção estimula uma
reatividade que tenta prever as ações alheias antecipando um eventual confronto.

O ex-premiê britânico do UK, Gordon Brown, concedeu uma entrevista na qual
abordou os efeitos indesejáveis da globalização. Apenas esqueceu de um tópico
que entretanto talvez seja o principal.  

Estamos falando do ódio globalizado. A palavra grega échthra, cujo significado é
ódio, ainda permanece sub explorada. Em uma acepção analógica ela possui um
sentido muito mais sofisticado do que detestar. Significa também creditur de
ódio, vale dizer, aqueles que são crédulos no rancor.

Parece estranho, mas assim como há os que cultuam a trascendência do amor e a
afetividade,  há aqueles que estão no outro espectro: vibram, tem fé e apostam
coletivamente na violência e na destruição do outro como leitmotiv. Trata-se,
portanto, de uma seita escatológica.

Sua credulidade pode aparecer através de haters ocultos atrás de máscaras,
capuz, turbantes, e digitalmente sob Ips ocultos. A despeito dessa grande
variedade de racismos e racistas, todos seguem o mesmo ritual: estão mobilizados
por um impulso irracional, um instinto de ressentimento irrestrito. E,
desafortundamente, a internet com a sua exigência de performance imediata e
respostas semi automáticas protegidas pelo anonimato virtual trabalha a favor da
credulidade no rancor.

A prova disso são os coros cujas vozes individuais desconhecem quase tudo o que
propagam. Onde ninguém sabe explicar bem o que é que se defende durante uma
marcha e nem porque atacam a quem atacam.

Nas entrevistas dos grupos que exalaram seu apoio aos grupos terroristas e
ressuscitaram os libelos do arquiterrorista que organizou o 11 de setembro
verificou-se um elo comum: ambos exaltam, do alto de sua ignorância histórica e
geográfica, um ódio subjetivo e genérico dirigido contra o establishment.

Ninguém pode achar que o establishment é uma espécie de paraíso inspirado na
bondade e em valores altruístas, mas entre os operadores do ressentimento não há
espaço para análise. O que prevalece é uma estupidez cósmica. Na legião acritica
encontram-se adoradores de influencers, jornalistas e docentes que professam o
radicalismo como pauta, muitos deles financiados por jihadistas de Estado dentro
e fora dos ambientes universitários.

Parece paradoxal que um Estado financie grupos que promovem e oferecem apoio
ações indiscriminadas contra as pessoas? Pois é mesmo paradoxal, já que não há
garantia alguma de que um dia toda esse sublevação financiada não se volte
contra o patrocinador.

Inspirados ora na aversão ao ocidente, ora numa tirania populista, a sociedade
que os adeptos da radicalização desejam só pode ser a que eles mesmos ditam. Por
isso, em todas as eras o fanatismo tem sido um fator de instabilidade
geopolitico, especialmente quando bem manipulada por regimes poderosos.

É preciso compreender com clareza: não se trata de uma luta a favor de uma
causa, mas de uma insana bagagem de ressentimento, complexo de inferioridade,
desejo de poder e dogmatismo político. E ele vem de todos os espectros
políticos, afinal o ódio precisa ser racionalizado. O medo vem depois, e é
sempre reativo.

No caso atual da resposta que Israel tem dado aos massacres organizado pelo
exército terrorista do Hamas, uma cadeia de distorções invadiu a linguagem.
Falam de “revide”, “retaliação” e outros refrões inadequados para descrever a
ação de Israel saindo das cordas. Mas se consideramos as circunstâncias trata-se
de defesa e prevenção. Qual país não faria o mesmo quando atacado por proxys em
3 fronts, financiados por Repúblicas não democráticas e sem nenhum controle
social? 

A perversão da linguagem vem inchando o alfabeto com slogans, durante meses
calunia-se livremente o estado hebreu com uma intenção genocidária que nunca
existiu. O refrão durou até exitosamente grudar na fala coletiva. A tática é
manjada, acuse-os de seu principal leitmotiv, até que as massas comprem a ideia
no mercado central de valores corrompidos.

A inadmissível verdade é que, na raiz, são todos movimentos contra os judeus,
chamemo-los de antijudaicos ou judeofóbicos, uma vez que a palavra antissemita
vem se mostrando insuficiente para traduzir a especificidade do ódio. O ódio foi
finalmente globalizado pela mass media, e sem os contrapesos adequados que
deveriam proteger as garantias individuais.

A fisiologia do ódio é necessariamente ao mesmo tempo simplista e reducionista:
é preciso impedir o bem-estar. Para os crédulos no ódio é necessário eliminar a
paz através de todos os meios disponíveis para que as guerras pessoais
prevaleçam contra a construção de uma sociedade realmente fraterna ou menos
bélica. Obviamente essas prerrogativas nada tem de progressistas. Quem é contra
os acordos de Abrão? Contra as inúmeras iniciativas — pelo menos cinco — todas
recusadas pelos representantes da Autoridade Palestina? Quais das manadas que
tem desfilado pelo mundo declararam ser a favor de soluções negociadas? Aqueles
que expressam sua linguagem hostil nada apresentam de solidariedade a povo
algum.

Todos sabemos muito bem quem são os antagonistas contumazes dos planos de paz.
Eis o cúmulo da atitude paradoxal: jihadistas e seu conservadorismo primitivo, o
ideário neonazista e a extrema esquerda estão todos juntos comungando dos mesmos
propósitos e métodos.

A anacrônica aversão ideológica aos EUA é o que provisoriamente os une. Isso até
pode até ter alguma durabilidade, mas só até que o reino das contradições
torne-se insustentável. O que sabemos é que, historicamente os malignos
consensos antijudaicos costumam terminar em banquetes autofágicos.

A internet e a darkweb deram consideráveis contribuições para a chamada
vetorialização do ódio e sob a premissa da liberdade de expressão as plataformas
não inibem posts que caluniam, difamam, pregam eliminacão de pessoas, destruição
de estados etc.

Os governantes também não estão sendo muito prestativos quando é o caso de ser
exemplos contra os discursos de ódio. Tampouco as instituições estão aparelhadas
à altura para conter as sucessivas ondas de bulliyngs e conclamações violentas.

“Free speech not free Spit” ou “Liberdade de expressão, não de saliva” deveria
ser um dos slogans de campanhas para coibir a pandemia.

Resta saber, o que faremos a respeito? A inércia e a neutralidade não são mais
opções. Ou são, e neste caso, teremos que assumir as consequências dessa
decisão. É perigoso  insistir na mesma técnica que tem falhado para conter o
discurso de ódio. Censura, fact-check, cartazes pedindo para interromper
tampouco parecem ter mostrado eficácia.

Deveríamos admitir que talvez ainda não haja uma terapeutica
politico-tecnológica eficiente e capaz de prevenir novas tragédias, uma vez que
a incitação violenta necessariamente estimulará algum desastre.

Mesmo que o conceito de verdade tenha sido posto em cheque, isso não signifique
que ele inexista. Poderíamos começar valorizando a informação de qualidade e
expondo a desinformação. Pelo menos eria um sinal de que detectamos o perigo e
estamos agindo.

Enfim, o objetivo final da seita do ódio unificado é nos tornar parte dela,
ainda que à nossa revelia. Desejam que odiemos com perfeição, que o rancor e o
ressentimento sejam impecáveis, que possamos abominar tudo e todos de uma forma
tão vil e implacável quanto a que eles pregam. Em síntese, desejam nos
eletrocutar expandindo o cícuito.

Basta recusar aceitar o jogo idólatra e adotar o conceito de John Locke “não
devem ser tolerados aqueles que adotam doutrinas incompatíveis com as regras da
Sociedade Civil”.

Em uma ocasião perguntaram para o prêmio nobel da paz Elie Wiesel o que ele
aprendeu depois de passar pelo experiência do holocausto.

Wiesel respondeu:

“—Lute contra o mal imediatamente. Não espere, não tente se convencer de que vai
ficar melhor”. [1]

O que estamos esperando?

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[1] Kurzweill, A. On the road with rabbi Steinsaltz. Bem Yehuda Pressa, New
Jersey, 2021, pág. 58


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CONSTERNAÇÕES DIFUSAS (BLOG ESTADÃO)

03 segunda-feira jun 2024

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Consternações difusas

Paulo Rosenbaum

Dedicado ao dia que começa pela noite: o levante do Gueto de Varsóvia

Meu avô nasceu na Polônia e morava em Varsóvia na rua de Mila com a New Olipik,
lugar onde se iniciou uma das revoltas mais significativas contra o exército
nazista. Durou 3 semanas, 2 semanas a mais do que a resistência dos franceses à
invasão da Alemanha.  Nachmann Wolf conseguiu sair alguns anos antes fugindo do
clima anti-judaico da Europa, e nunca mais teve notícias de seus 5 irmãos, pai,
mãe e demais familiares. Como tantos sobreviventes, preferiu emudecer em relação
aos seus sentimentos. Provavelmente sua memória funcionava de modo seletivo, uma
das maneiras para contornar o gatilho traumático do extermínio que vivenciou.
Como Wolf faleceu quando eu era adolescente, nunca pude explorar bem tudo o que
ele teria para nos contar.

Apesar da genial definição de Isaiah Berlin de que o judeu é alguém com senso
histórico, isso não significa que saibamos introjetar afetivamente essa
realidade. Por isso escrevo consternado, para buscar alguma auto-compreensão –
afinal por qual outro motivo além deste os escritores escrevem?

Meu manifesto se resume a uma consternação difusa. Ando consternado com os
consensos malignos que foram sendo configurados pelo mundo. Por interesses de
nações inteiras. Violenta e injustificadamente. Rápida e insidiosamente. Por
maiorias moralmente entorpecidas por ideologias ambíguas e confusas. Nem Wilhelm
Reich poderia imaginar – mesmo entendendo muito bem os fundamentos do nazismo e
do fascismo — que o fascismo vermelho iria tão longe quando se trata de
demonização dos judeus. Sempre com o padrão ético duvidoso de uma indignação
seletiva quando se trata de analisar a autodefesa de um povo permanentemente
incompreendido pela história.

Também me pergunto até onde seria aceitável a legitima defesa e quais os seus
limites. Mas a duvida instantaneamente se clarifica. Basta contemplar o volume
de gente que se manifestou pelas ruas londrinas e norte americanas endossando
explicitamente os atos dos inimigos da humanidade contra as pessoas inocentes no
dia 07 de outubro antes mesmo que houvesse uma resposta ao massacre.

Basta observar o número de pessoas, que, no escuro de um estratégico anonimato,
torcem pelo êxito do terror. Some-se a eles os que se afirmam neutros, quando a
neutralidade é apenas mais um álibi quando o que está em questão é o senso
básico de justiça e civilização.

Consternado quando os judeus – e também quem ouse defende-los – são cercados por
multidões autoritárias e antidemocráticas dentro de campus universitários para
impor sua liberdade de expressão às custas da mordaça alheia. Vale dizer, da
permissiva liberdade com que andam impondo o cala-boca aos que discordam.
Solidariamente, fico consternado com aqueles que se sentem ameaçados por
discordar da arbitrariedade justificacionista. Notem bem que a tirania se
aperfeiçoou quando os déspotas aprenderam a usar o “estou eleito” como escudo
universal.

Consternado com o absolutismo que se instalou nos recintos que deveriam zelar
pela segurança dos cidadãos. Consternado com a ideia de que nas próprias
democracias ocidentais a intolerância contra os judeus tem sido naturalizada.
Evidentemente nada se poderia esperar das ditaduras com sufrágios cosméticos de
partido único quando os candidatos são escolhidos pelos líderes supremos, como é
o caso do império dos ayatollas.

Consternado com a postura quase hegemônica nos meios de comunicação nos veículos
mundiais de imprensa condenando Israel sem que lhe seja concedido o direito à
defesa. O número de exortações e palpites sobre o que a nação hebraica deve ou
não fazer supera em muito os técnicos oniscientes no País do futebol.

Consternado pela “naturalização” de um ódio ancestral que agora se fantasia com
multiplicidade de nomenclaturas criativas, embora igualmente torpes, ora como
antissionismo, ora como anti-israelense

É perturbador quando mobs,  passeatas, semi-linchamentos e apelos explícitos à
eliminação de um País inteiro são classificados sob a rubrica “contra Israel”
quando todos sabemos qual seria o nome honesto ao qual realmente corresponderia.
Evidentemente, a única palavra que não pode ser abertamente assumida é “fazemos
isso porque não gostamos de judeus”. E é disso que se trata. Tema que, cogito,
se transformou neste momento, no assunto mais relevante do planeta. E a
irritação do mundo tem um diagnóstico, e poderia ser resumido: é porque agora os
judeus aprenderam a se defender. Isso não significa incorporar a histeria e a
paranoia e não reconhecer o apoio que os judeus e Israel tem tido por parte de
alguns importantes agentes mundiais.

Afinal consternação não é melancolia, não é desolação, nem clima soturno. Minha
consternação é um estado de perplexidade poética que encerra um detalhe, ela já
nasceu difusa e ainda não encontrou um eixo que a manteria na rota da
objetividade.

Por isso mesmo, apesar das toneladas de motivos, ainda não me ceifou um fio de
esperança nesta véspera de Pessach. Se realmente não há mais luz no fim do túnel
só restam duas saídas: ele precisa ser demolido ou o sobrevoaremos incólumes.

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/o-livro-dos-porques-sem-respostas/

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/consternacoes-difusas/

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/uma-lagrima-para-hidratar-o-deserto-as-mulheres-sequestradas-tem-algo-a-te-dizer/


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QUAL É A DURAÇÃO DE UMA VELA?  

03 segunda-feira jun 2024

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Qual é a duração de uma vela?  

Meu avô, sobrevivente da Shoah, costumava citar uma estrofe, depois repetida
pelo meu pai. Ambos afirmavam que o mundo só conheceria a grande paz se e quando
uma velha profecia tivesse lugar: “quando todos forem culpados ou todos forem
inocentes”. Para além da metáfora, sabemos quão inverossímil soa a hipótese. Mas
é fundamental buscar algum sentido nas palavras, mesmo quando elas soam
estranhas ou aparentam ser um conjunto de argumentos nonsense.

O significado está possivelmente em aceitar a imperfeição. Em saber que temos
que agir num mundo defectivo que estará sempre inacabado. Significa atuar hoje,
no presente, como a única possibilidade empírica de interferir na realidade.
Para tanto, é preciso aceitar que a luta mais árdua é contra o mundo das
idealizações. Parece um contrassenso, mas pensem bem. A expectativa da perfeição
é irreal.  Um planeta impecável é, na linguagem dos hindus, o grande maia. Uma
ilusão. E a ilusão pode significar doença e sofrimento mental. A moléstia
costuma ludibriar a percepção humana com a promessa de que somente a perfeição é
aceitável. Mas estamos muito longe de qualquer perspectiva de viver em um mundo
idílico. Ainda hoje aprendi com um grande amigo português judeu-cristão, o NV,
que precisamos do desafio e que a oscilação precisa ser compreendida como um
êxito.

Por isso mesmo talvez tenhamos sido pedagogicamente expulsos pelo Altíssimo da
inércia de um jardim paradisíaco. Um terreno onde mais nada precisava ser feito.
Foi preciso aprender a viver do que é perecível. Em meio às oscilações e
incertezas. Não, isso não é perder a esperança. É redimensioná-la. Isto é, até
atingir a grande paz, teremos que conviver e aceitar pequenas tréguas,
armistícios oscilantes, pacificações parciais, avanços mínimos, justiça em
solavancos, além de assimetrias e fragmentos de bem-estar em meio a um mar de
desconforto.

Isso dito, hoje deveria ser um dia especial, uma infindável vela acesa pelo Yom
Ha Shoah, (o dia das vítimas do holocausto) para lembrar os 6.250 milhões de
judeus assassinados pelo regime nazista (250 mil após a derrota oficial do III
Reich), mas eis que a lembrança do holocausto foi obnubilada pelos sufocantes
novos momentos de perseguição e ataques contra os judeus dentro e fora do
Oriente Médio.

Dos campi universitários em New York às multidões londrinas cantando com
naturalidade slogans de extermínio. Gente comum ostentando símbolos abertamente
favoráveis aos grupos jihadistas, organizações que sabidamente pregam o
extermínio. Não é exatamente neonazismo, ainda que a intolerância e o racismo
rivalizem com o partido que nasceu de rufiões bêbados nos bares de Munique.

Há muitas evidências de que tais multidões não nasceram “orgânicas”. Fazem parte
de um movimento global, generalizado, orquestrado e financiados por Estados e
organizações ricas. Só isso já revelaria uma rotunda falência do propósito
acadêmico de desenvolvimento da capacidade de interlocução e equidade. Mas além
disso há um agravante, tudo ocorre sob o pano de fundo da disputa pelo poder
entre as grandes potências. É uma reinação mascarada com nova plumagem para um
vício recorrente. O que prova a paupérrima criatividade dos homens.
Testemunhamos o renascimento de uma novíssima onda de intolerância, onde a nação
judaica, mais uma vez, é eleita para ser falsa e escandalosamente culpabilizada
pelos males do mundo.

A esperança para os judeus talvez esteja num longínquo despertar dos outros
povos para um outro tipo de consciência. Alteridade que ainda não apareceu.
Sabemos que será um despertar parcial, em doses minúsculas. Com sorte, teremos
aproximações sucessivas. Até que os consensos do mundo não sejam forjados pela
adulteração grosseira das ideias. E que aqueles que apostam na intolerância
sejam derrotados por suas próprias contradições. Ainda assim, nunca haverá uma
resolução completa.

Já chegamos a conclusão de que a função pedagógica das guerras é limitada.
Prevenimos os motivos que as desencadeiam? Como evitar o desperdício de vidas
inocentes?  E separar aqueles que usam tais vidas para exaltar suas agendas
daqueles que tem obrigação moral de se defender dos massacres de rotina?

A verdade é que o conceito de legitima defesa parece ter pouca aplicabilidade
quando se trata de Israel. Mas, e aí esta um dos problemas, a legitima defesa
não serve apenas para interromper o agressor, mas é fundamental impedir a
recorrência da agressão. Eis um princípio universal do direito que, assim como
as medidas antirracistas, tem sido apenas seletivamente aplicada em relação aos
judeus e ao seu único Estado. Ainda que não haja nada pleno, ab ovo usque ad
mala, da cabeça aos pés, de alto a baixo, de um extremo a outro, é essencial
frisar que Israel sabe de suas imperfeições. Aceita-as exatamente por
compreender a natureza imperfeita do mundo. Os slogans “nunca mais” e o recente
“nunca mais é agora” deveriam ser substituídos por “nem ousem tentar novamente”.
Não se trata de uma ameaça. É apenas um grito coletivo de almas que entenderam
que basta.

O que nem Israel nem os judeus do mundo estão dispostos a aceitar doravante é o
retorno de um gênero de tratamento que há oito décadas foi conduzido com uma
semi perfeição maligna, pavimentando a extinção de metade da população judaica
do mundo.

E é isso que deve ser perfeitamente compreendido pelo mundo. Qualquer tentativa
de repetir o malfeito será imperfeitamente rechaçada. Em tempo, a duração de uma
vela equivale ao tempo de uma lágrima atravessar a memória.

Não ousem, porque jamais esqueceremos.

_____________________________________________________________________________________________________

Leia também:

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/carta-aberta-a-sra-minouche-shafik-abaixo-assinado/

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/consternacoes-difusas/

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/um-dia-para-meditar-sobre-etica-em-saude/


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76 ANOS: DE @MOISÉS PARA @HERZLTHEODOR

03 segunda-feira jun 2024

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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76 ANOS: de @Moisés para @HerzlTheodor

CLARÕES E LUZES DE COR AZUL-LILÁS BAIXAM ABRUPTAMENTE DO CÉU

Moisés é avistado numa carruagem que pousa suavemente na nuvem 18

— O que? Não Acredito! Querido. Mestre. Quanta honra.

— Fala aí chegado.

–Cheguei faz um tempo, e falaram sempre que você era figurinha carimbada, mas
que nunca está no pedaço. Você fica bem lá no alto, né?  De Moshe a Moshe nunca
houve alguém como…

— Tá, tá, Theodor, não vamos exagerar, uma das vantagens aqui é que ninguém
precisa puxar o saco, — Moisés puxa Herzl para perto pela gola — mas sabe como
é, sempre tem um mané que esqueceu que aqui não tem carne.

–Churrasco, nunca rola?

–Falta brasa.

— A que devo a honra da sua visita na minha modesta nuvem?

— Estava vagando por aí, mas hoje me sacudiram em plena escuridão cósmica. Quem
te acorda de madruga e te manda descer sem te dar tempo para saborear a gemada
do dia?

— O que houve Moshe? Tua cara tá meio amarrada!

— Você é que parece espantado, e só chegou faz o que? Uns150 anos? Amigo, eu
estou de plantão há 3.000 anos, você está ligado na muvuca lá embaixo?

–O Zoilo lá do Sul?

— Um desmiolado, mas nein!

— Os aiatolás radioativos?

— Também nein.

— Já sei, é o pessoal lá de Columbia? A tal baronesa Shafik?

–Café pequeno!

–Foi bom lembrar, você aceita um?

–Aqui nada de estimulantes, só orgânicos.

— Perdão, é que mocosei uma garrafinha de vodka.

— Falo das pataquadas dos caras da ONU, que furada cara. Como pode?

— Pois é, tá tudo dominado.

–Vamos ao que interessa Theo. Ouça bem aí, estamos documentando cada fala, cada
slogan contra nós, cada fake acobertada, agora mesmo convocamos e estamos
gravando com Spielberg um documentário para o streaming. Registramos cada
barbaridade que tú nem faz ideia. Coisas que não se ouvia desde 1939.

–Achávamos que o mundo estava vacinado.

–Amos Oz, aquele da nuvem número 36.

ESTRONDO VIOLENTO

— Ok Já sei – Moisés fala constrangido — Altíssimo: eu sei, eu sei, nuvem é
sigilo. Continuando, como escreveu Oz, o holocausto foi uma vacina contra o ódio
aos judeus, mas o efeito imunizante, infelizmente, está passando.

—Mas e a tal da memória imunológica?

–Não vale para a história. O que vemos hoje é uma nova epidemia de demência e
irracionalidade. Voltando ao ponto, eu estou calejado, mas vim te ver aqui
exatamente por isso.

— Eu dei uma espiada daqui. Que coisa absurda Moshe, e agora a coisa está
pegando até no novo continente.

— Estamos monitorando bem de perto, Yale, Harvard, turbas nas ruas da Europa
financiados por bilionários, o apreço à barbárie virou moda, hit até para os
bacanas em Manhatam, estão zoando com a palavra enquanto comem bagel torrado. Há
um grande vazio e o você sabe muito bem qual é o bode expiatório que sempre
funciona!

— Nosotros!

— Bingo!

— Tem jogo aqui?

— Só botcha no domingo. Noé e Abraão faturam todas. Agora direto ao ponto
querido Herzl, a moçada hamazista encanou com a tua palavra.

–Qual palavra?

— Uai, aquela você inventou, sionismo.

–Ah essa?

— Ué, véio, baixei aqui por isso.

–Bem que desconfiei, tua nuvem é a aquela ali, não?

–Tem coisas que nunca revelamos aqui, nuvem é igual sigilo bancário

RISOS ABAFADOS

— Por que a risadinha?

— Esse negócio de sigilo está fora de moda, quero dizer para os mortais comuns
que colocam tudo na net.

– Jura? Mas aqui o lugar de cada um na nuvem é segredo de Estado.

— Uhn.  Mas, a que devo a honra da visita? O Altíssimo te mandou vir falar
comigo?

–Queremos entender melhor o que está rolando, mas cá entre nós sabemos que a
implicância com o teu neologismo de retorno para Sion é pura fachada. O problema
é o mesmo, isso tudo é cortina de fumaça.

— Moshe, esses racistas fanáticos não têm noção? Nos expulsaram de todos os
lugares da terra e agora querem o único lugar que restou para os judeus?

— NÃO, NÃO, no fundo eles e a torcida do Corinthians sabem, a terra nunca foi a
questão. Mais uma vez estão implicando com a gente.

HERZL VAI AO DESESPERO

— Mas por quê Criador? Por quê? Por quê?

RELAMPAGOS FUGAZES CORTAM OS CÉUS

— Porque fui o co-autor das algumas regras éticas, códigos morais e preceitos
civilizatórios mínimos que o pessoal chamou de religião.

–E os beócios querem nos cancelar?

— Pois é, o que eles não suportam mesmo é que agora temos uma terrinha e um
exército que pode nos defender.

–Mais uma vez estão nos acusando dos males do mundo.

— É como a Golda Meir vive por ai dizendo, por que devemos ser o único povo do
mundo que os demais se acham no direito de dizer como fazer para se defender?

— Golda? Que mulher. Ela está por aqui?

— Não é para o nosso bico Theo, a nuvem dela fica direto abarrotada com
feministas querendo autógrafos.

–Moishe? Feministas? Depois de todo o vexame que elas deram?

— Pois é, na verdade aquelas não eram feministas de verdade, elas sumiram lá de
baixo na hora que mais precisavam mostrar a que vieram! Minha mensagem é clara,
fui enviado para te avisar: desce lá e fala para os democratas que lá na nuvem
dos founding fathers, os pais fundadores da América, especialmente Thomas
Jefferson e George Washington não querem nem ouvir falar dessa administração.
São democratas, mas eles acham que os caras estão pisando na jaca, estão aqui
implorando por gente nova.

–Jaca?

–É, uma dessas frutas tropicais, dá muito no Brasil

–Adoro esse lugar, as vezes fico olhando pela minha câmera tele só manjando a
moçada surfando em Copa.

— Sei, sei. Herzl, se liga, é hora se concentrar no problema central.

–Mestre, me diga, como?

–Fala para o pessoal parar de divulgar nas redes desse jeito as mensagens contra
nós.

— Como? É preciso denunciar os antissemitas.

–Agora, na nova língua, mudaram de nome, eles se autodenominam antissionistas.

— Como é que eu viro influencer?

— Vou fingir que não ouvi.

— Desculpa, é que parece tão sedutor.

— Seguinte, não fiquem espalhando denuncias com as mensagens de ódio, lembre-se
da grande regra do marketing, o meio é a mensagem. Na hora que você coloca a
mensagem dos haters como denuncia, você as espalha. Deixe isso com os
profissionais.

— Explica ai Mestre!

–Seguinte, o que fica no “das Unterbewusste”; o subconsciente, também conhecido
como desconhecido é o circuito do ódio, e a denúncia que realmente importa fica
em seguindo plano, sacou?

— Ahãn. Neurolinguística?

— Não, inteligência do mass media.

– Ok

– E ai, prosseguiu Moshe, o tal algoritmo, essa coisa medonha, se espalha e dá a
falsa impressão de que eles são a maioria. Capicce?

— Eles não são?

— A minoria ruidosa sempre suprimiu o grosso silencioso da população. A maioria
sabe que no caso de Israel a questão é uma luta por sobrevivência. E que dessa
vez fio, garanto, vai ser outra história.

— E quanto aos primos, os árabes da região?

— Eles estão percebendo que a única saída são os Acordos. Em qual outro lugar no
pedaço há democracia, em qual a liberdade religiosa está constitucionalmente
garantida? Fica firme e você vai ver que a coisa vai virar, a parte saudável e a
paz justa vão prevalecer.

— Mestre, tu sabes que sou meio secular, mas respeitosamente te pergunto: o
Criador está ligado no que está rolando?

ASSOBIOS E TROMBETAS

Moshe olha misericordioso para cima e exclama:

–Não cochila nem um segundo desde 07 de outubro.

— Mas e o futuro, e Israel?

— Fica frio, isso é conosco.

— Estou frio há mais de século, rs

SILENCIO CELESTIAL

— Moshe, no fim você não me deu a resposta!

— Fio, aqui também temos mais perguntas do que respostas.

–Até ai? Céus. Então o que devemos fazer?

–Aprendi duas máximas: Na dúvida, refletir bem antes de reagir, ai está nossa
liberdade. E meditar na máxima do nosso querido Hillel: cuidar do outro como
cuidamos de nós mesmos.

— Hoje temos uma nação!

–Não é bem só uma nação, é uma cultura acomodada em um Estado.

— Feliz Dia da Independência de Israel Moshe Rabeinu.

— E foi graças a ti também: 76 anos. Apareça para o chá de romã das 5.

— Vou sim e levo uma lembrancinha, uma plaquinha que fiz aqui na minha
impressora 3D

ESTAMOS AQUI HÁ 6.000 ANOS, VAMOS CONTINUAR, GRATO.

_______________________________________________________

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O LIVRO DOS PORQUÊS SEM RESPOSTA. (BLOG ESTADÃO)

03 segunda-feira jun 2024

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ Deixe um comentário

O livro dos porquês sem resposta.

ou

Está tudo aqui. 

Por que o atual governo do Brasil votou contra a emenda apresentada à
Organização Mundial de Saúde que pedia a libertação dos reféns sequestrados?
 Por que notícias distorcidas adquiriram mais relevância do que as versões
próximas à realidade? Por que a noção de verdade tornou-se um tabu? Por que o
esperançoso multilateralismo tornou-se um retrógrado multisectarismo?

Por que a importação de eleitores pode corroer as democracias? Por que as
Universidades tem abandonado seu papel analítico e têm se tornado bastiões de
intolerância e extremismo? Por que os radicais merecem a paciência,  a
compreensão e o excesso de civilidade às custas de sociedades acuadas? Por que a
segurança pública encontra-se em processo de extinção? Por que a interpretação
da constituição precisa de hermenêuticas extravagantes e repletas de
idiossincrasias? Por que as instituições foram instrumentalizadas e estão
perdendo sua função original para obstar regimes tirânicos e o totalitarismo?
Por que as minorias violentas sobrepõe#Pagromm-se às maiorias neutras e inertes?
Por que é tão difícil compreender que denunciar o ódio reproduzindo a mensagem
dos haters só amplia o publico viciado no ressentimento?

Por que os racistas antissemitas/antissionistas obtém a indulgência de
comunidades que auto intitulam-se pacíficas e democráticas? Por que aqueles que
julgam — como o juiz Khan que deletou posts prévios anti-Israel — não são
obrigados a se declarar impedidos pelo conflito de interesse? Por que Israel
deve ser a Nação mais inspecionada, questionada, fiscalizada, sancionada e
julgada da face da Terra?  Por que os judeus tem sido a grande constante
histórica nas perseguições étnico-religiosas pelo mundo? Por que um Pogrom como
o de 07/10 tem sido lenta, mas progressivamente assimilado, banalizado e
naturalizado por grande parte da mídia internacional? Por que os sequestrados
pelos inimigos da humanidade não obtém o status que lhes corresponderia enquanto
são torturados e desumanizados? Por que a Cruz Vermelha cruza os braços quando
se trata de visitar os reféns sequestrados pelos hamazistas? Por que os
movimentos feministas tem sido seletivos na demonstração de indignação contra a
violência sexual contra as mulheres judias? Por que a presidente da Universidade
Columbia e outras autoridades acadêmicas omissas durante os tumultos e
perseguição contra judeus, continuam em seus cargos? Por que os intelectuais
chapa branca, disfarçam suas objeções antissemitas com slogans antissionistas?

Por que não há pente fino para analisar o financiamento de grupos violentos? Por
que o Poder vem se mostrando indulgente e leniente com as organizações
criminosas? Por que a humanidade elege déspotas, populistas e ditadores para
depois dedicar-se décadas para destitui-los? Por que os candidatos eleitos podem
trair livremente o programa que os elegeu? Por que os fanáticos berram? E por
que acabam  levando no grito? Por que o centro não interessa aos radicais? Por
que a emancipação intelectual é uma raridade? Por que as pautas subjetivas estão
cada vez mais desvalorizadas? Por que precisamos viver em função da moda?

Por que o materialismo tem sido cada vez mais hegemônico? Por que os sonhos são
eclipsados pelo princípio da realidade? Por que na saúde o cuidado e a prevenção
não são tão valorizados quanto os procedimentos?  Por que as duas grandes seitas
escatológicas contemporâneas são o antiamericanismo e o antissionismo?  Por que
a liberdade pessoal passou a ser uma exceção?

Por que  enfrentamos tantos obstáculos para alcançar o status de sujeitos da
própria história? Por que a política deixou de ser a formulação consensual do
bem comum? Por que a auto transcendência não é um atributo natural das pessoas?
Por que, como queria Jonathan Sacks,  nossas perspectivas estão limitadas por
nossas expectativas? Por que a busca espiritual tornou-se exceção? Por que a
Meditação é menos importante do que os afazeres diários? Por que a natureza tem
sido subjugada e torturada? Por que as vitimas tem perdido os direitos para os
perpetradores? Por que sucumbimos às pressões do consumo? Por que os governos
podem amordaçar o direito à livre expressão?

Por que rejeitamos o inusitado, o místico e o inapreensível? Por que doa parte
dos auto proclamados bem pensantes costumam estar do lado equivocado da
história?  Por que nos calamos diante do arbítrio? Por que os abismos nos
observam? Por que não estamos fazendo nada, ou quase nada, quando deveríamos
estar todos atentos e perplexos? Por que nos limitamos a observar enquanto a
anomia se espalha? Por que e quando deixamos de nos importar? Por que não
sabemos mais perguntar? Por que escolhemos a resignação quando ainda poderíamos
reafirmar nossa discordância? Por que nos dispersamos tanto? Por que temos a
sensação de abandono? Por que, apesar de tudo, guardamos esperança?

Por quê?

Leia também

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A LÁGRIMA QUE HIDRATA O DESERTO: AS MULHERES SEQUESTRADAS TEM ALGO A TE DIZER
(BLOG ESTADÃO)

26 terça-feira mar 2024

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ Deixe um comentário

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/uma-lagrima-para-hidratar-o-deserto-as-mulheres-sequestradas-tem-algo-a-te-dizer

Paulo Rosenbaum    

A lágrima que hidrata o deserto: as mulheres sequestradas tem algo a te dizer

Vocês esqueceram que ainda existem sequestrados que são reféns na faixa? O que é
isso? Amnésia seletiva? Não se preocupe. Nós estamos aqui como âncoras da tua
memória parcial. E quanto às mulheres judias sequestradas pelos inimigos da
humanidade? Sim, elas estão agora em Gaza há quase 200 dias pensando sabe em
quem? Em você. Tudo que elas desejam é voltar para suas famílias, e sabem que
esse é o único e incontornável caminho para algo parecido com shalom!

Não, não é cessar fogo, me refiro à Paz, um conceito cujo significado verdadeiro
é desconhecido. Você já demonstrou várias vezes que não captou o significado, e
tem sorte, porque hoje me descobri com uma paciência didática.

Sim, elas tem você em mente. Exatamente você que pede neutralidade e faz
objeções ao direito de legítima defesa quando o inacreditável está acontecendo
com elas bem na sua frente. Achas mesmo que você não tem qualquer obrigação
moral com elas? Compromisso ético? Por que tua fé é outra? Por que tua ideologia
pensa de outro modo? Ou, talvez, você tenha um outro sistema de orientação
identitária? Acha que um País não tem a obrigação de tentar recuperar seus
cidadãos de uma quadrilha assassina? De derrotar os facínoras que promoveram o
segundo maior ataque terrorista da história contemporânea?

Sabe o que cada uma destas mulheres sente a seu respeito?

Na verdade, neste momento elas não podem pensar, estão ocupadas demais
recolhendo os destroços nos quais seus corpos foram transformados. Não precisa
acreditar em mim: apesar do atraso inédito a amostra está exposta de forma clara
no recente relatório que a ONU produziu: a natureza dos crimes sexuais cometidos
pelos terroristas jihadistas do Hamas.  Consultem antes de embarcar na reino das
falsificações. Natureza que uns poucos jornalistas, acadêmicos e políticos
tiveram a coragem de chamar pela nome correto, enquanto outros tiveram a ousadia
de classificar como “resistência armada”.  Não se envergonham de dizer,
escrever, e publicar asneiras? Mas e tu? Acreditas mesmo nisso? Ouvem os
briefings dos porta-vozes do terror?  Por favor, consulte a campanha
#nadajustifica e saberás a verdadeira dimensão dos ataques sexuais contra
mulheres e meninas. E caso persistas em seu dilema moralmente bizarro, evocando
os habituais “mas”e “poréns”, seu nome será grafado, agora e no futuro, em uma
pedra fria qualquer para depois ser apagado para sempre junto com o grande
painel dos covardes.

Mesmo acreditando que no subtexto de toda ideologia e alinhamento autoritário há
uma cegueira, neste caso, diante de todas as provas que você insiste em ignorar,
há algo muito mais nocivo. Não apenas porque sua cegueira mostra indícios de
premeditação, mas, principalmente, pela seletividade com que você simula
indignação. Você escolheu sacrificar qualquer valor moral, como por exemplo
condenar estupros e assassinatos, para aderir a uma ideologia efêmera qualquer.

Pode levar um tempo, mas Isso não passará em vão. Sabes por que? Não sou eu que
marcarei seu nome e dos seus cúmplices. Quem os anotará serão as vítimas,
sobreviventes ou não. Elas, assim como os cadáveres desconhecidos amordaçados
não erguem monumentos, não podem escrever, mas tem a história a seu favor. Sabem
como erradicar o sorriso cínico da boca dos escarnecedores. Está soando
dramático para ti? Pois tú, antissemita disfarçado de antissionista, nem imagina
a surpresa que vamos preparar.

Sabemos todos que o acontece no Oriente Médio tem a marca de digitais estranhas,
os dedos dos ayatollas, interesses não explicitados das outras potências com
nostalgia de grandeza, manipulação da psicologia sobre massas ignorantes. Este
conjunto de sinais enlouquecem os papiloscopistas, pois as pegadas dos mandantes
estão por toda parte sem que se possa identifica-los.

Por um momento esqueça o grande cenário e concentre-se apenas no microcosmos.

A natureza brutal dos ataques contra mulheres não foi fortuita. Não foi porque
sim. Ela tem uma raiz nao apenas misógina, mas está também crença jihadista de
que o feminino serve exclusivamente a um propósito objetal. Para os mártires de
coisa nenhuma, as mulheres são seres semi animados que devem servir
exclusivamente aos propósitos concupiscentes dos machos: reprodução, prazer,
submissão e seu complemento covarde, tortura.

Era o que o durante décadas o corpus do núcleo duro feminista denunciava. Porém,
curiosamente, dessa vez, com bem menos vontade, empenho e velocidade. Como já
dito antes, os movimentos feministas e as mulheres se calaram e sumiram.
Entretanto, os adeptos do ritual sangrento adicionaram às motivações anteriores
um novo ingrediente: a necrofilia. Exatamente isso. Talvez nem mesmo assim você
tenha ficado impressionado. Aliás, me parece que você perdeu a capacidade de se
sensibilizar com o vil. A origem de tudo que estamos vendo, o massacre do dia 07
de outubro, violar cadáveres e mutila-los fez parte central do cerimonial. Isso
tem um significado, a ideia do ódio ao corpo feminino, e ao que ele representa.
Difícil acreditar que todos os 1.800 necrófilos tivessem mães castradoras. É
mais plausível acreditar que realmente acreditam num mundo de servidão feminina
e reificação da tirania masculina. Mesmo assim, você aceitou marchar a favor do
sadismo de violadores. Mesmo assim você é entusiasta dos documentários falsos
que renegam as evidências do crime.

O jihadismo apresenta em seu programa um supremacismo fálico chauvinista que
exige o rebaixamento das mulheres à condição de fragmentos descartáveis. De que
outra forma explicar os relatos e comprovações de pedaços de seios cortados
arremessados como brinquedos? Ou de facas furiosas dilacerando o aparelho
genital de meninas e  bacias fraturadas por sevicias contumazes?

As mulheres que morreram em 07 de outubro – incluindo as jovens compatriotas
brasileiras Carla Stelzer Mendes, Bruna Valeanu e Celeste Fischbein, além do
garoto Ranani Glazer, que depois de uma nota fria do Itamaraty, foram
simplesmente esquecidos e desprezados pelo atual governo brasileiro — perderam a
voz. Para ti não parece vergonhoso? Mesmo assim as 19 reféns sequestradas, ainda
vivas, e que estão em poder do exército terrorista tem algo a dizer para você.
Elas compreendem que você duvida pelo que elas tem passado, o que elas não
conseguem entender é como você ainda consegue se manter incólume? Como dorme sem
ficar perplexo? Ou, será que você se diverte com as cenas, discretamente, quando
sozinho, no quarto escuro?

Dizem que na tradição sânscrita a palavra “karma” é uma especie de inexorável
necessário. Não sei se acredito, mas espero que aqueles que ainda defendem ou
fornecem álibis às ações ignominiosas dos inimigos da humanidade possam gozar de
pesadelos análogos.

As mulheres que seguem sequestradas e tem sido torturadas rogam, chorando, que
da tragédia advenha uma terapêutica que possa hidratar tua sinistra indiferença.
A umidade, elas argumentam, é uma terapêutica com potencial para fazer renascer
em sua alma estéril um pingo de solidariedade.

Somente assim, com uma única gota de lágrima, o deserto sobreviverá com a paz
possível.

E, desta vez, você não estará incluído.

Leia também:

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/e-as-mulheres-se-calaram-e-sumiram

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/o-embuste-da-memoria-artificial

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/de-oswaldoaranha-para-presidencia-planalto-gov-mesonychoteuthis


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DE @OSWALDOARANHA PARA @PRESIDENCIA.PLANALTO.GOV (MESONYCHOTEUTHIS)

06 quarta-feira mar 2024

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

≈ Deixe um comentário

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/de-oswaldoaranha-para-presidencia-planalto-gov-mesonychoteuthis

De @OswaldoAranha para @Presidencia.planalto.gov (Mesonychoteuthis)

Paulo Rosenbaum com colaboração de: Codinome Dady

O que é isso companheiro?

Eu nunca votei em você. Nem no outro. Não gosto de partidos que não possuem um
programa de governo claro. Uai, não é coerente? Se era para ficar no culto à
personalidade vamos voltar ao Brasil Império. Aliás, nem tenho votado. Aqui não
tem burocracia e o café da manhã é excelente. Eu também não tenho apreço por uma
atitude política como a sua que faz questão de anular a própria herança. Saiba
que, no início, eu até achei que a coisa ia andar, mas depois vi quem você foi
escolhendo. Amigo, dá um tempo. E olha que só descobri a palavra “aparelhamento”
com aquela sua amiga que tinha problemas com o nosso idioma. Mas veja bem, uma
coisa é ter todo esse perrengue com você, o outro, é não desejar que o País vá
bem. Na democracia deveria ser mais ou menos assim, concordas? Se estou
entendendo bem você quer governar sozinho, sem oposição? Mano, isso nunca deu
certo. Tirando o fato de que você possa estar sob o efeito Millôr e o “fracasso
tenha lhe subido a cabeça” eu te pergunto onde você estava com a cabeça quando
resolveu falar tudo que lhe vem a telha? Confundir, não é a palavra e você é bem
esperto. Esperto demais. Então, filho, não é confusão, é  provocação
premeditada! O público não é bobo, não tinha um slogan assim? O que você
pretende? Quando um País como Israel sofre um atentado destas proporções é mais
do que necessário, na verdade obrigação do exército defender a população e
eliminar a ameaça. Obviamente, dentro da lei internacional. Os hebreus já não
sofreram o bastante?  Milhões, foram seis, não? E você foi me falar da maior
ferida deles desse jeito? E ainda fica repetindo as bobagens desdizendo o que
disse anteontem? Dizem que os brasileiros não tem boa memória. Não é bem assim.
Por isso, no Céu, agora gravamos tudo. Tenha Santa Paciência (Estrondo
Violento). Ok Altíssimo, já entendi. Filho, faz o seguinte, vai visitar anônimo
o Yad Vaschem, o Museu do Holocausto, é, lá na Terra Santa e depois me diz se o
que você disse fez qualquer sentido. Véio, admita, você fez burrada.  Já te
chamaram até de irredutível,  e olha, até que ficou barato. Que história é essa
de mexer com os judeus que tanto lhe ajudaram? Não politicamente, mas defendendo
a democracia, que inclusive permitiu tua eleição. Muita gente deu a vida por
isso. Em muitas ocasiões, e você sabe bem do que falo, nem preciso entrar nos
detalhes. E agora você insufla o ódio contra essa gente? Põe a mão na
consciência, rapá. Uma das vantagens de estar aqui em cima é ter uma visão
panorâmica, e hoje o pessoal do comitê proibiu drones. E Netflix só
documentários, tá osso. Ah, e aqui aqui não entra mais influencer! Não sei se
você sabe, mas arranho o hebraico e posso te dizer que nossa Pátria deve ficar
honrada em ter acolhido tanta gente do Povo do Livro. Acho que você não sabe,
mas a nossa é a maior nação filossemita do mundo. Querido, era para você se
orgulhar. Os brasileiros se orgulham. Foi um papelão e ponto final. E observe
bem, como eles são gratos ao Brasil, tu nem faz ideia. Agora vem cá,  essa
preciso saber: quem é que está te aconselhando? Eu sempre procurei ter gente do
bem ao meu lado – é claro que sempre tem um ou outro traíra.  Quem está te
sustentando? Calma. Digo, politicamente. Te conto que aqui temos uma comunidade
porreta e fiquei muito amigo do D. Pedro II, gente finíssima. Sabia que numa
votação ele foi escolhido o brasileiro mais relevante de todos os tempos? De dar
inveja, não?  Quando ele soube da tua pataquada soltou uma expressão curiosa,
mas foi em idish “Oi Vei”. Boiei. Por acaso você sabe o significado? E depois
ele me perguntou sobre você: “Ele trata as pessoas com decência?” E eu te
repasso a pergunta: você tem sido decente? Eu queria mesmo é que outros nomes
surgissem na cena política, sabe? Você está cercado de aduladores, mas eu posso
falar na lata: você não quer ter sucessores. Olha filho, se forem como você
nessa terceira fase melhor não ter mesmo. Ah, sim, tem sempre a dignidade de
gente emancipada, um menscht como o Roberto Freire. Leu o recado dele? Deveria.
Ainda tem muita gente de valor na Câmara apesar de você já tê-los chamado de
picaretas. Meu rapaz, você poderia ter feito tanto. Mas tanto. Comentávamos na
rodinha que você tinha muito potencial. Tinha. Quantas chances você teve e como
sempre as desperdiça. Tem aquele lance do Freud de auto sabotagem, mas não
embarco nessa não. Você desonrou o voto de muita gente. Aqui a gente as vezes
brinca de voto. No papel, só para zoar. E vou te contar, teu IBOPE caiu muito.
Mesmo assim muita gente ai em baixo ainda te vê como a salvação da lavoura.
Lavoura não, sei que você detesta o agro. Mas, espera, sempre quis te perguntar,
não é o agro que dá o tal superávit? Sei lá, não entendo de macro. Talvez teu
ministro da economia possa explicar. Antes de ouvir outras bravatas saiba que
apesar do papai Getúlio sempre fui de centro. E também nunca aderi aos
movimentos sanguinários. Por falar nisso quem é esse pessoal “Hamas” que anda te
elogiando de montão nas redes? Decerto é um agrupamento democrático pelos
direitos humanos. Propõem ações inovadoras nas artes? Na cultura? São
trabalhadores? Direito das minorias, gays e mulheres? Espera, espera, José
Bonifácio – acredita que ele hoje é um chegado? – acaba de me cochichar aqui que
eles são muito perigosos. Como? Opa. Um exército de gente do mal que mata e
viola bebes.

O que é que é isso companheiro?

E onde é que estão os teus valores democráticos? Que desperdício cara. TSS TSS.
Aqui a noitinha é meio porre (TROVÃO e RELÂMPAGOS). Ok, ok, só as vezes. Daqui
de cima, fora o carteado não tem grandes atividades e a gente fica ligado na
política. Acompanhei a carreira de muitos daqui de cima, de telescópio vi o Lech
Walesa, o Vaclav Havel, que líderes! Que Estadistas. Clinton e a Merckel foram
direitinhos, até certo ponto. Agora assistimos o tal Milei. Vamos ver no que vai
dar. No começo não coloquei muita fé (TROVÃO!!!) Perdão Senhor. Ok, ok. Eu achei
que você ia nessa linha, honestidade, luta pelos direitos dos trabalhadores,
liberdade de expressão, amor incondicional à justiça. Mas, véio, que decepção
que você está me saindo. Você tem ideia do estrago que está causando para a
imagem do País? Deixa de molecagem. Justo nós que demos o voto de confiança
decisivo para a criação do Estado De Israel? Povo que recebeu com festa a
notícia, sempre gratos ao Brasil. Quem não aceitou a divisão foram os outros.
Estou achando que você agora quer mais é se vingar. Sabia que a vingança é
proibida na Bíblia? Você não precisa ser religioso para admirar o livro sagrado.
Já leu Harold Bloom?  Deveria. Olha, você teria que mudar. Vai um conselho,
grátis: se continuar a falar besteira você ainda vai perder muita gente que iria
te apoiar. Os evangélicos são grandes amigos dos israelitas. Porque você torceu
o nariz? Sai dessa. Já falou lá atrás aquelas asneiras na playboy. Não
interessa, falou tá falado.  E agora quer importar uma guerra para a Pátria?
Furada. Papai me sopra “Olhe primeiro para o Brasil”. Estadistas são construídos
nas realizações feitas em benefício do próprio País. Ontem fiquei perplexo, o
Sobral Pinto, conhece? Bem, ele me contou que teve tiroteio entre as forças de
segurança. Confere? Seu governo perdeu o controle? Informaram aqui que aí já são
50k assassinatos por ano. Você está cuidando direitinho da segurança pública? A
prisão de segurança máxima, nos trinques? Afagos em ditadores e tiranos da
América Latina? Além da guerra no Oriente Médio não ser nosso problema você se
cercou de um pessoal para lá de duvidoso. Stalin? Faça-me o favor! Você está
comprometendo 2 séculos de boa tradição do “deixa disso” brasileiro. Jogando no
lixo nossa incrível capacidade natural para mediar e promover paz para tocar
fogo no circo? Quem é você de verdade? Até o Ferreira Gullar escreveu que quase
todas as reivindicações relativas aos direitos dos trabalhadores que estavam no
Manifesto Comunista estão hoje na nossa Constituição. Cara, se ninguém tem
coragem para te dizer eu digo: você está andando para trás. Para mim, você
micou. Eu particularmente tô fora, e a maioria aqui, também já colocou o dedão
para baixo.

Quem sabe na próxima?

Em tempo, se você realmente queria um País reconciliado, pisou na bola.

Saudações minhas e de Sua Majestade, que hoje deprimiu de vez depois de te
ouvir.


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CONVITE PARA O LANÇAMENTO DE “NAVALHAS PENDENTES” 06/02/2024 AS 19 HS (LIVRARIA
DA VILA- SHOPPING PÁTIO HIGIENÓPOLIS)

04 domingo fev 2024

Posted by Paulo Rosenbaum in Artigos

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Prezados amigos do Blog

Como autor do livro “Navalhas Pendentes” publicado pela Minotauro-Almedina
gostaria de convida-los para o lançamento do livro que acontecerá dia 06/02, ás
19:00 na Livraria da Vila do Shopping Pátio Higienópolis.

Se possível, solicitaria ajuda na divulgação em suas redes.

Muito obrigado por sua atenção.

Um abraço,

Paulo

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/minhas-navalhas-pendentes-por-lucia-blanc-barnea-resenha

“Navalhas Pendentes” de Paulo Rosenbaum, além de oferecer uma história
surpreendente, na qual seus conhecimentos médicos são utilíssimos, o autor
coloca em xeque a liberdade autoral, a liberdade dos leitores e a dimensão por
vezes esquemática das narrativas em que estamos todos mergulhados. Grande livro
e grande projeto gráfico.”*
*Cintia Moscovitch (Jornal Zero Hora)

“O segredo dos livros mais vendidos

Em Navalhas pendentes, Paulo Rosenbaum encontrou, talvez, o segredo dos livros
mais vendidos. Todo editor está sempre em busca de um bom livro para publicar,
seja ele técnico, científico, escolar ou ficcional. De autor conhecido ou não,
para uma casa editorial que vive de suas publicações, um bom livro é aquele que
tem conteúdo relevante e/ou interessante, mas é, também, aquele que traz lucro.
Existe uma categoria de livros que vendem mais, MUITO mais: o chamado
best-seller. Encontrar esse livro, antes de sua publicação, é quase uma aposta
que, se confirmada, é um prêmio. Sendo assim, a publicação de um livro que vende
muito, para além das expectativas, pode ser fruto do investimento em uma rede de
prospecção de originais ou, simplesmente, um golpe de sorte. Não são poucos os
casos de pequenas editoras que encontraram o “grande prêmio”, mas, de forma
geral, o poder econômico das editoras maiores é que é recompensado com maior
número de livros nessa categoria.
Mas, e se não for assim? E se capacidade de identificar e publicar livros de
grande volume de vendas não obedecer ao esforço de prospecção por novos livros?
E, se uma editora encontrar algum mecanismo para publicação de best-sellers?
Neste livro, Paulo Rosenbaum apresenta uma hipótese ficcional envolvente para
esse mecanismo. Na trama, uma editora se destaca no mercado por sua enorme e
inacreditável capacidade de publicar livros que se tornam campeões de vendas. Em
tempos de inteligência artificial, essa hipótese é quase um diagnóstico. O
leitor que fique de olhos bem abertos.”

Eduardo Salomão



Rua Pará 76 cj. 83 tels. 32141150 e 32573865
Cel 999361048 rosenbau@ualumni.usp.br rosenbpaulo@gmail.com

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