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A METAFÍSICA DO COSTUME

Perscrutamos quimeras na infinita ignorância em que teimamos gravitar, na
pretensiosa e arrogante demanda por uma irrealidade que nos consome e que nos
desfaz, numa ilusão utópica de verdade.





SEXTA-FEIRA, MARÇO 20, 2020


PARA ALÉM DE PARIS.


Não mintas! Claro que adorarias que não tivesse sido tudo uma ilusão. Que fosse
esperança para além da surpresa. Que pudesse ter havido perenidade na vontade de
sorrir e a transmutação da pueril fantasia em realidade.
Não mintas! Percebeste desde o primeiro momento do desastre do teu delírio.
Escolheste, imprudentemente, voar até ao Sol com asas de Ícaro. O que esperavas?
Lá porque acreditaste que lhe podias segurar a mão, será que te julgaste com
direito ao Olimpo?
Não mintas! A culpa é tua. Quem te mandou tentar roubar os deuses como o fez o
filho de Jápeto? Foi a luxuria que te condenou ao fracasso.

Publicada por Filipe de Arede Nunes à(s) 3/20/2020 01:37:00 da manhã Sem
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QUARTA-FEIRA, MARÇO 11, 2020


«PÁRA! PARA ONDE FOGES? IREMOS OS DOIS JUNTOS!»


É mentira, não há princesas encantadas! Não tens alternativa. Escolhe! Ou
aceitas viver um embuste, ou te atreves a escutar o misantrópico silêncio.
É claro, seja qual for a tua opção, não tens de prescindir dos sonhos! Mas é
mesmo isso que desejas? Quando Morfeu te sufla, o que tens sem ser ilusão?
Lembra-te, poderás buscar o corpo, mas apenas abraçarás o ar!

Publicada por Filipe de Arede Nunes à(s) 3/11/2020 11:55:00 da tarde Sem
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TERÇA-FEIRA, JANEIRO 28, 2020


LUNGA VITA


Sei que é uma inutilidade, mas penso muitas vezes no que não fomos ou no que
poderíamos ter sido. Não com satisfação, mas reconheço a esterilidade do
exercício. É que estou certo de que, desta forma, não só não alcanço a catarse
emancipadora, como, provavelmente, me sujeito, nesciamente, a uma penitência que
deveria tentar evitar.
Nesses momentos, se tivesse o arrojo de me olhar ao espelho, sei que veria
apenas o fracasso. No entanto, infelizmente, não preciso dele para o sentir.

Publicada por Filipe de Arede Nunes à(s) 1/28/2020 11:56:00 da tarde Sem
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DOMINGO, JANEIRO 26, 2020


HEMÉRA


É claro que te observo sempre que tenho ocasião. Infelizmente, são poucas as
vezes em que te materializas na minha presença. No entanto, nesses momentos,
tudo o resto se volatiliza à minha volta e, como que por feitiço, transformas-te
no todo.
No resto do tempo não posso mais do que imaginar-te. Sei, porém, que,
provavelmente, toda a candura e fogosidade com que te matizo na minha mente não
será mais do que a projecção do meu desejo.
É que sabes? Fascinas-me absolutamente. Porquê? Não tenho bem a certeza. Talvez
devido a uma certa fragilidade violenta com que, por vezes - e eu sei que o
fazes - me olhas. Talvez porque a tua beleza cintilante, praticamente perfeita,
me deixa aprisionado. Talvez porque sorris com o teu olhar enquanto as estrelas
te iluminam.

Publicada por Filipe de Arede Nunes à(s) 1/26/2020 10:34:00 da tarde Sem
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TERÇA-FEIRA, NOVEMBRO 19, 2019


ACIDÁLIA


Vi-te demasiado perto para me poder esconder ou fugir. Tê-lo-ia feito se
pudesse! Seria um cobarde. Não pensaria duas vezes se tivesse tido a
oportunidade.
Foi de soslaio. Uma fracção de segundo. No entanto, bastaria uma fracção de
fracção para te reconhecer. Num firmamento de estrelas imensamente brilhantes
cintilaste sempre de forma distinta. É que a tua flamância ribomba de forma
perene e distinta no Universo e deixa nele um traço perfeitamente único. Tu
sabes que sim. Distinguir-te-ia imediatamente no meio de qualquer multidão.
Caramba, como continuas linda! Se tivesse olhado mais do que um milissegundo
teria sucumbido e ter-me-iam faltado as forças para me manter de pé. Quase
petrifiquei e o meu coração, imediatamente antes de começar a bater de forma
desenfreada e descompassada, quase parou. Foi exactamente antes do arrepio que
me correu o corpo e das borboletas que senti na barriga. Praticamente ao mesmo
tempo que senti os meus olhos marearem-se de lágrimas. Caramba, como sempre
foste linda!
Passámos tão perto um do outro que consegui sentir o teu magnetismo. Aquela
atracção catastrófica que apenas as leis da física conseguem explicar. Só que
desta vez tinhas a força hercúlea de um buraco negro. Passámos tão perto que te
senti a sugar-me a alma. Mas sejamos francos, também já não havia mais nada para
te banqueteares para a além da imaterialidade do que fui.
Estou agora certo de que o que mais desejaria era ter continuado a olhar-te.
Gostaria de ter podido absorver todas as gotas ásperas do imenso amor que
resultou da colisão de dois corpos celestes sentenciados a encontrar-se quando,
no infinito, as suas órbitas se cruzam. Tivemos sorte. O tempo cósmico nem
sempre coincide com o tempo humano. Podíamos, na nossa vida, ter vagueado pelo
nosso sistema sem nunca nos termos aproximado o suficiente. E, se assim assim
fosse, nunca teria cheirado o doce sabor do teu perfume e nunca teria estado tão
próximo da tua beleza inebriante.

Publicada por Filipe de Arede Nunes à(s) 11/19/2019 11:41:00 da tarde 1
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SEGUNDA-FEIRA, NOVEMBRO 11, 2019


INDEX LIBRORUM PROHIBITORUM


E se por um acaso incompreensível a minha alma fosse um livro e tu,
acidentalmente, me encontrasses na rede labiríntica e aparentemente infinita de
uma biblioteca? Talvez, apenas por mera curiosidade, ou quem sabe, impelida por
uma inquietação inexplicável, talvez... bom, talvez me pegasses! Depois,
querendo, poderias folhear-me brandamente. Desejando, porventura, poderias
pousar os teus preclaros e doces olhos castanhos nas páginas aparentemente
proibidas e, corajosamente, ler os segredos cuidadosamente acautelados.
Ah! Quem me dera, quando ao longe passo por ti, poder cheirar o aroma aveludado
que a tua pele exala. Quem me dera poder fitar-te sem receio, poder sorrir-te
como se fôssemos cúmplices e poder tocar-te como se tivéssemos a vida toda pela
frente. Mas, infelizmente, acho que não fazes ideia de como cintilas no meio da
escuridão.

Publicada por Filipe de Arede Nunes à(s) 11/11/2019 11:42:00 da tarde Sem
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SEGUNDA-FEIRA, MARÇO 04, 2019


FÜR ELISE?




- Desististe de mim?

- De ti? Desisti de mim próprio.

- Não me respondeste! Diz-me! De mim, desististe?

- Tu? Tu não representas nada. És apenas o futuro que nunca aconteceu! Não és
mais do que a recordação de uma tarde de Primavera aparentemente perfeita.

- Porque desististe?

- Porque perdi a esperança.

- Não desististe de mim, pois não?

- Já te disse que sim.

- Mentes! Eu não fui uma tarde de Primavera, fui o Verão inteiro! Fui uma
detonação cósmica de sorrisos e beijos. Além do mais, nunca se perde a
esperança!

Publicada por Filipe de Arede Nunes à(s) 3/04/2019 08:30:00 da tarde Sem
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