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VIRALIZAR A VERDADE: O DESAFIO DO SÉCULO XXI

Beatriz Pereira e André Moreno (Universidade Autónoma de Lisboa)

Julho 4, 2021
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VIRALIZAR A VERDADE:


O DESAFIO DO SÉCULO XXI

Beatriz Pereira e André Moreno (Universidade Autónoma de Lisboa)

SE, PELO DITADO, UMA MENTIRA REPETIDA MIL VEZES SE TORNA VERDADE, NAS
DEMOCRACIAS A MENTIRA É SINAL DE PERIGO. COM O PODER DE DENEGRIR E PÔR EM CAUSA
A VIDA DOS CIDADÃOS E SOCIEDADES, AS “FAKE NEWS” E A CONSEQUENTE DESINFORMAÇÃO
TÊM SIDO, CADA VEZ MAIS, UMA PRIORIDADE DA UNIÃO EUROPEIA, QUE TEM APOSTADO EM
FERRAMENTAS NA CONSTRUÇÃO DO MURO DA VERDADE.

Do relógio de 20,9 milhões de euros de Catarina Martins à criação da pandemia de
covid-19 por parte de Bill Gates. Das declarações polémicas de Barack Obama
sobre Donald Trump à ligação de Greta Thunberg a grandes empresas de energia. É
certo que todos os dias títulos como estes são disseminados de forma
alarmantemente rápida nas redes sociais e na Internet. E em comum partilham uma
mesma característica: todos são falsos.

Apelidada de “doença do século” pela Comissão Europeia e encarada como um dos
maiores perigos das sociedades democráticas, a desinformação e o termo “fake
news” (ou notícias falsas) têm-se massificado a uma velocidade incontrolável,
como sinónimo de informação falsa, imprecisa e enganadora, mas também de
manipulação, distorção de factos e mentira.

A verdade é que o fenómeno não é recente, mas a pandemia do novo coronavírus
propiciou o crescimento do conteúdo falso online a níveis mais críticos e de
ameaça iminente à democracia, quando o bem-estar e o conhecimento dos cidadãos
foi posto em causa.

Exemplo disso foram os mais de 18 milhões de conteúdos falsos sobre covid-19 que
as redes sociais Facebook e Instagram retiraram das plataformas até abril de
2021. Mortes de doentes infetados com covid-19 encobertas, implementação de
microchips na vacinação ou a ingestão de água com limão (e até desinfetante)
para tratar a doença foram alguns desses exemplos, em muitos casos proferidos ou
partilhados por líderes políticos como Jair Bolsonaro ou Donald Trump.

De facto, um dos acontecimentos que fez espoletar o termo “fake news” foi a
candidatura de Donald Trump em 2016 à Presidência dos Estados Unidos da América,
e consequente eleição para a Casa Branca.



As “fake news” são, no entanto, um termo ambíguo para descrever o problema da
falsa partilha de informação: uma notícia é, por si só, a difusão de factos e
conhecimentos reais e por isso não pode ser falsa. Mas a dificuldade
intensifica-se quando atualmente é tido como notícia (e, portanto, verdade),
todos os textos e informações que são disseminados na Internet e em particular
nas redes sociais.

A intermediação de quem credibiliza e confere os factos – o jornalista – deixou
de assumir a sua forma característica, alterando muitas vezes o seu trabalho
diário de contar a verdade para o trabalho de desfazer a mentira.

Fotografias, vídeos, textos, websites, sites de meios de comunicação, todos
podem ser deturpados de modo a falsificar a informação neles contida, seja por
motivações políticas e ideológicas, económicas, com o ganho através de “likes”,
publicidade e “pageviews” (sobretudo por efeito do chamado “clickbait”), mas
também para prejudicar ou denegrir alguém ou algo.

A era atual de grande desinformação, resultado do maior número de tecnologias e
redes sociais, levou a que o consumidor de informação se transforme também no
produtor de conteúdo. Mas a realidade é que o perigo inerente a esta nova forma
de fazer informação tem feito soar os alarmes nas democracias, que têm visto
movimentos populistas ganhar terreno por meio das falsas informações que são
divulgadas por políticos e apoiantes.

Fabrice Fries, presidente-executivo da Agence France-Presse (AFP), explica,
porém, que as ameaças à democracia são inúmeras. “As ameaças são claras: há a
banalização da mentira e, portanto, a desvalorização da verdade, que já não
desempenha o papel de «superego moral» que desempenhou no passado; o relativismo
generalizado, que coloca a informação de qualidade e as notícias falsas no mesmo
nível, tal como especialistas num assunto e portadores de um «ponto de vista» no
mesmo nível também; a radicalização dos extremos por plataformas e a divisão das
audiências, dificultando a qualidade do debate público. O maior perigo é que
acabamos por nos habituar à desinformação e já não nos surpreende que cada
evento seja objeto de uma reescrita de conspiração. Apesar de já haver alguma
mobilização, precisamos de um despertar coletivo”, refere Fabrice Fries.

> “Antes, quando consumíamos informação, tínhamos um jornal ou assistíamos e
> ouvíamos a informação transmitida. Chamávamos de «âncoras». Agora, quando nos
> enviam um link no WhatsApp ou quando estamos online não temos essas âncoras.”

Sem que a informação seja verificada, confirmada e reconhecida pelos
jornalistas, todos os textos da Internet, redigidos e partilhados por qualquer
pessoa, podem ser passíveis de ser “fake news”. Por norma, acentuam-se pelos
títulos sensacionalistas que apelam à emoção do público, com notícias sobre
corrupção, terrorismo, abusos ou escândalos mediáticos. E é esta mancha de
utilizadores de redes sociais que na grande maioria dos casos desinforma sem
saber.

Quem, genuinamente, acredita no que vê e lê, ao partilhar e interagir com
publicações infundadas, imprecisas ou erróneas, faz com que mais e mais pessoas
tenham contacto com o que é falso, gerando mais desinformação. E neste ponto não
importa a idade.

Paulo Pena, jornalista, fundador do Investigate Europe – uma cooperativa
europeia de jornalismo de investigação – e escritor do livro “Fábrica de
Mentiras: Viagem ao Mundo das Fake News”, explica que, apesar dos poucos estudos
existentes, a experiência leva-o a assistir à ocorrência do fenómeno da
desinformação em todas as faixas etárias.



Vídeo: Paulo Pena sobre a ocorrência do fenómeno da desinformação em todas as
faixas etárias

Mais do que a falsidade do conteúdo das informações que circulam na Internet,
agora a dificuldade passa pela rapidez da sua propagação. E para isso os
ingredientes essenciais para a criação de “fake news” são a sua propensão para
se tornarem virais, numa corrida para o maior número de interações.

Carmén García Herrería, jornalista na área da literacia mediática e estratégia
educativa na agência de fact-checking espanhola Maldita, refere que esta rapidez
vem da “democratização ao acesso à informação”, mas também do acesso e da
criação de desinformação: ninguém nos ensinou a consumir informação na era
digital.

Antes, quando consumíamos informação, tínhamos um jornal ou assistíamos e
ouvíamos a informação transmitida. Chamávamos de “âncoras”. Agora quando nos
enviam um link no WhatsApp ou quando estamos online, não temos essas âncoras que
nos dizem “este é um meio”, “esta é uma página da Web que não é um meio” ou
“isto é sátira”. “Foram essas âncoras que perdemos e claro, tudo se torna mais
rápido.”

Criar – ou copiar- textos e imagens, publicar e partilhar é metade do caminho. A
outra metade é feita pelos algoritmos. Através dos chamados “bots” (ou robôs
digitais) e softwares de construção de algoritmos que selecionam a informação
que é enviada e recebida conforme os gostos, interesses e hábitos digitais de
cada utilizador. As “fake news” navegam sem limites formando câmaras de eco para
os cidadãos, como afirma Paulo Pena.



Vídeo: Estamos a criar identidades muito vincadas sobre assuntos que nos
circundam de uma maneira quase obsessiva”, diz Paulo Pena


Na Europa, o tema das “fake news” e da desinformação tem ganhado cada vez mais
importância pelas consequências nefastas e perigosas que cria às sociedades
democráticas e consequentemente à capacidade de os cidadãos fazerem as suas
escolhas de uma forma informada.

Para Fernando Esteves, fundador do jornal português de “fact-checking”
Polígrafo, “o maior sintoma da decadência das democracias é o afastamento entre
os políticos e o povo, ou seja, entre as pessoas que são eleitas e quem os
elege. E as «fake news» podem fazer com que isso aconteça”.

A política é um dos temas na ordem do dia no que toca a notícias falsas. Do
Brexit às afirmações falsas difundidas por políticos (como exemplo, Kyriakos
Velopoulos, político nacionalista e figura da televisão na Grécia, que afirmou
que os migrantes que chegavam à Europa recebiam cupões grátis para bordéis), a
propagação das “fake news” é a realidade que tem feito desacreditar políticos,
governos e instituições e feito aumentar a desconfiança dos europeus.

Segundo o Digital News Report Portugal 2020, os portugueses são, entre os
europeus, os que manifestam uma maior preocupação relativamente ao que é real e
falso na Internet, com 76% dos inquiridos a revelarem preocupação com o que é
real e falso na Internet. Em Espanha foram 65% e em França 62%. No final da
tabela apresentam-se os holandeses (32%), os eslovacos (35%), os alemães e os
dinamarqueses (ambos com 37%).

O panorama acentua-se quando a preocupação com a desinformação surge associada a
governos, políticos ou partidos nacionais de cada país. Também de acordo com o
Eurobarómetro de abril de 2021, 82% dos europeus consideram a desinformação um
problema para a democracia, resultado de um ano repleto de notícias falsas sobre
a Covid-19.

Maria Rodrigues, de 22 anos, estudante de Comunicação em Lisboa, partilha a
mesma opinião. “No último ano, recebi dezenas de mensagens via WhatsApp com a
origem da Covid-19 ou curas milagrosas, mas tentava sempre verificar se aquilo
era verdadeiro ou falso. Mas sei que nem todos fazem este tipo de exercício”,
frisa. E acrescenta: “O meu avô acredita em tudo o que vê no Facebook. E mesmo
mais tarde, quando vê que afinal as notícias ou imagens eram falsas, ele
continua a acreditar na primeira versão.”


A DESORDEM QUE O FAKE IMPÔS

Rumores, informação falsa e teorias da conspiração não são notícia, mas
diariamente o acesso ilimitado a todo o tipo de informação facilita a que
conteúdo, de todo o tipo, possa circular na Internet quase sem regras.

“Deepfakes” são um desses exemplos. Por meio da manipulação de imagens e sons,
os protagonistas dos vídeos são alterados através de softwares para se
expressarem ou agirem de forma diferente da original. Barack Obama, Vladimir
Putin ou Kim Jong-un são alguns dos “reféns” destas novas tecnologias, que
transformaram a Internet num jogo em busca da perfeição e sofisticação da melhor
forma de mentir e enganar.


"DEEPFAKE" COM VLADIMIR PUTIN




"DEEPFAKE" COM KIM JONG-UN



O mesmo acontece com os sites de meios de comunicação que têm visto réplicas
espalhadas pelo mundo online. As mesmas cores, a mesma organização dos menus e o
mesmo tipo de letra. À primeira vista, o mesmo site. A diferença marca-se apenas
no conteúdo: um é falso, o outro não. Um difunde a mentira, o outro luta para a
combater.

Susana Alves, de 46 anos, é uma das inúmeras pessoas que reconhece a dificuldade
em identificar uma “deepfake” ou um site de informação falso, pela complexidade
e quase perfeição na sua execução. “Há algum tempo vi um vídeo de um político
que considerei que era totalmente verdadeiro. Aliás, nunca pus em questão a
probabilidade de a imagem ser falsa ou não. Estranhei apenas o discurso, mas
parecia tão real que acabei por acreditar. Mais tarde, vi a circular a
informação de que aquele era um vídeo falso. Aí percebi que estamos realmente a
confrontar-nos com notícias, imagens e vídeos falsos todos os dias e nem damos
conta”, explica Susana.

No sentido de desconstruir o fenómeno das “fake news” e da desinformação, a
dupla de investigadores Claire Wardle e Hossein Derakhshan propôs a existência
de um novo conceito, em 2017, com o fim de clarificar a complexidade de conteúdo
falso existente. É nas sete formas de desinformação, que designaram por
“Desordem Informacional”, que Claire e Hossein distinguiram aquilo que é
incorreto e fabricado com um objetivo definidamente maldoso do restante que é
partilhado e difundido, inconscientemente, com o propósito do entretenimento ou
com falta de contexto.

No relatório Information Disorder:Toward an interdisciplinary framework for
research and policy making do Council of Europe, os investigadores dividem estas
sete formas de desinformação dentro de três grandes tipos: “Dis-information”, ou
seja, informações falsas e criadas deliberadamente para prejudicar uma pessoa,
grupo social, organização ou país; a “Mis-information”, informações falsas, mas
não criadas com a intenção de causar danos; e “Mal-information”, informação com
base na realidade, usada para infligir dano a uma pessoa, organização ou país.

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Infogram

Infografia: Exemplos das sete formas de desinformação, segundo Wardle e
Derakhshan

Victoria Moreno Gil, investigadora de ética, responsabilidade e literacia dos
media e professora na Universidade Nebrija, em Espanha, explica que esta
desinformação, de qualquer uma das formas, nasceu sobretudo com “a troca dos
papéis tradicionais de «gatekeeper» (conceito jornalístico que define aquele que
controla e filtra a informação que é noticiada e acaba por chegar até ao
público). A chegada do jornalismo participativo tem mostrado que nem tudo é bom
nesta nova realidade, onde qualquer cidadão pode alcançar tantos leitores quanto
as grandes manchetes tradicionais, graças ao imediatismo inerente das redes
sociais”.


COMO O FACT-CHECKING GANHOU TERRENO NA LUTA

O primeiro auge das “fake news” aconteceu em 2016 na corrida de Donald Trump à
presidência dos Estados Unidos da América. Mas foi no início da pandemia de
Covid-19 que, em todo o mundo, os números de notícias falsas começaram a
disparar.

De acordo com as tendências de pesquisa da Google, nos últimos cinco anos a
semana de 15 a 21 de março de 2020 (logo após a Organização Mundial da Saúde
declarar oficialmente a “pandemia” de Covid-19) foi a que atingiu o pico na
procura do termo “fake news” em todo o mundo. O medo, a incerteza e o receio
relativamente a um futuro que era indefinido agravava-se com a circulação das
notícias inventadas, sem a certeza das fontes científicas.



Gráfico: Pesquisa do termo “fake news” nos últimos cinco anos. Fonte: Google

Vitor Tomé, professor e investigador nas áreas da literacia dos media e do
jornalismo, afirma que “a desinformação é um assunto sério porque põe em causa a
democracia e há pessoas a morrer por causa da circulação de notícias falsas”.

É também o que confirma o estudo publicado na revista American Journal of
Tropical Medicine and Hygiene, de 2020, que revela que mais de 800 pessoas já
morreram devido a desinformação sobre a Covid-19, sobretudo pelos rumores e
falsas curas a circular nas redes sociais.

Naturalmente, os números e as tendências que se vão manifestando quebram assim a
confiança dos cidadãos nas instituições, políticos e medias competentes, o que
tem levado a que ações para combater a desinformação sejam cada vez mais um
assunto de destaque nos vários meios.

> “Se o fact-checking fosse uma loja de hambúrgueres, o Donald Trump seria o
> néon à porta, porque foi ele que chamou à atenção para este fenómeno de
> jornalismo”

Através de políticas públicas, alterações das políticas de redes sociais e da
promoção da literacia mediática, a União Europeia tem levado a cabo ações e
iniciativas que têm permitido fazer alguns avanços no problema.

Por outro lado, as agências de “fact-checking”, espalhadas um pouco por todo o
mundo e em especial na Europa, têm auxiliado os consumidores de informação a
saber avaliar, de forma cuidada e crítica, o conteúdo que circula em meios
online através da revelação da sua veracidade.

O primeiro site independente do mundo que se dedicou exclusivamente à
verificação dos factos, o FactCheck.org, foi fundado em 2003 pelo jornalista
Brooks Jackson da CNN. Hoje, depois de um crescimento desmedido dos últimos
anos, já há 300 no mundo inteiro de acordo com a Duke Reporter’s Lab. “Se o
fact-checking fosse uma loja de hambúrgueres, o Donald Trump seria o néon à
porta, porque foi ele que chamou à atenção para este fenómeno de jornalismo”,
descreve Fernando Esteves, fundador do jornal Polígrafo.

A verdade é que, só na Europa, o número de agências de “fact-checking” passou de
46 em 2016 para 85 em 2020.

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Infogram

Infografia: Mapa europeu das agências de fact-checking


A The International Fact-Checking Network (IFCN) reúne mais de 90 organizações
que se dedicam à verificação dos factos. Jornais e televisões de todo o mundo
juntaram-se com um único objetivo: promover uma rede de boas práticas no combate
à desinformação através do “fact-checking”.

> “Costumo dizer aos meus jornalistas que somos uma espécie de cabo de vassoura
> que vem no fim para apanhar os destroços que aconteceram durante o dia”

Em Portugal, os jornais Polígrafo e a secção de “fake news” do Observador fazem
parte desta rede. Fundado em 2018, o Polígrafo nasce da necessidade de trazer
para Portugal um jornal que pudesse “desempenhar um papel importante num tempo
em que se iriam realizar várias eleições no país. Era criar um jornal que se
preocupasse, acima de tudo, em oxigenar a democracia, escrutinando aquilo que os
protagonistas que estão no espaço público vão dizendo ou escrevendo,
colocando-lhes exigência e obrigando-os a serem melhores”, explica Fernando
Esteves, fundador do jornal.

Com sete escalas de avaliação – do “Verdadeiro” ao “Pimenta na Língua” -, no
Polígrafo o reconhecimento detalhado dos factos, desde as fontes à
contextualização do tema, exige o tempo que, habitualmente, os jornais diários
não possuem. “Sempre decidi, desde o início, que o Polígrafo não está no
campeonato dos cliques ou no campeonato da rapidez. Nós queremos ser os últimos
a falar sobre os assuntos, porque queremos tratá-los de forma ponderada. Se
acontecer alguma coisa, não seremos os primeiros a falar sobre ela. Seremos
provavelmente os últimos. Costumo dizer aos meus jornalistas que somos uma
espécie de cabo de vassoura que vem no fim para apanhar os destroços que
aconteceram durante o dia”, acrescenta Fernando Esteves.

Em parceria com televisões de referência em Portugal, o Polígrafo e o Observador
têm alargado e exibido o trabalho das agências de verificação a novos públicos,
facilitando o acesso credível à veracidade das notícias. “Haver espaços de
verificação de factos, seja em órgãos de comunicação tradicionais ou online, é e
deve ser sempre uma necessidade.”

“Oferecer ao público a verdade parece irónico, mas é primordial para a
construção de sociedades bem informadas”, refere Maria Rodrigues, de 22 anos,
estudante de Comunicação. O mesmo crê Susana Alves, de 46 anos. “Nos últimos
tempos só se fala do tema «fake news». Então passei, claro, a estar mais atenta
ao que via na Internet, no Facebook sobretudo. Quando há algo que me parece
duvidoso, vejo se no Polígrafo referiram alguma coisa sobre aquele assunto. E
agora, com uma mentalidade mais atenta, os meus palpites estão quase sempre
certos. Se me parece falso, acabo por descobrir que era realmente falso”,
afirma.

O Polígrafo faz a avaliação pormenorizada dos factos, mas quem verifica o
Polígrafo? Fernando Esteves assume que “a resposta é dada pelo próprio Polígrafo
e pelo nosso trabalho. Um bom texto de fact-checking tem de ser «checkável» por
quem está a ler, daí que coloquemos bastantes links nos textos. Nós damos a
possibilidade dos nossos leitores fugirem para onde quiserem, porque fazemos
questão que as pessoas, à medida que vão lendo o texto, possam verificar aquilo
que lá esta. É mau em questão de negócio, porque estão menos tempo no site, mas
é esta a natureza do nosso trabalho. Quem nos «polígrafa» é o próprio leitor.
Além disso, somos auditados anualmente pela IFCN (International Fact-Checking
Network) que todos os anos contrata um perito internacional e independente para
analisar o nosso trabalho”.



Vídeo: Conferência TED Talk com Fernando Esteves, novembro 2019


Uma das agências sem fins lucrativos que integra também esta rede é a agência
Maldita, em Espanha, fundada em 2018. Carmén García Herrería, jornalista na
agência, destaca que na Maldita “o slogan é «Jornalismo para que não o enganem»,
porque é através da verificação, de jornalismo de dados, de pesquisa em
reportório de jornais, de ferramentas tecnológicas e educação que criamos
conteúdos que permitem aos cidadãos ter maior segurança sobre o que é real e o
que não é. Desenvolvemos formatos inovadores especialmente focados nas redes
sociais e na formação de uma comunidade comprometida com o projeto e que
colabore connosco”.

Com o ideal “catorze olhos são melhores do que dois”, na Maldita são a
viralidade e o perigo social que uma desinformação sustém que marcam a diferença
no conteúdo que é selecionado para verificação.


Equipa da agência Maldita, em Espanha

Segundo Vitória Moreno Gil, investigadora, “as principais plataformas de
verificação de factos que existem atualmente em Espanha estão profissionalizadas
e na sua maioria fazem parte do International Fact-Checking Network (o que, por
sua vez, garante padrões de qualidade). Além disso, todos têm uma boa reputação,
especialmente a Maldita.es, que se tornou uma referência a nível europeu e
praticamente mundial”.

Em Espanha, o “fact-checking” é uma das principais armas no combate às “fake
news”, contando já com seis agências de verificação de factos (Maldita.es,
Newtral e Verificat são três iniciativas independentes). Focam-se na
monitorização de discursos políticos e da transparência de instituições privadas
e públicas, com o propósito de reforçar a confiança dos cidadãos espanhóis no
governo e políticos, uma vez que quase metade dos espanhóis (49%) lhes atribui a
culpa pela desinformação no país (Digital News Report España 2020).

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Infogram

Infografia: Notícias falsas vs verdadeiras em Espanha, segundo o “I Estudio
sobre el impacto de las fake news en España”


Também em França o fact-checking ganha importância. É o país europeu com mais
agências de verificações de factos, 17, com 15 localizadas na capital francesa,
Paris. Numa afiliação com meios de comunicação social tradicionais, a maioria
das agências amplia o trabalho de televisões (TF1), rádios (Radio France) e
jornais de imprensa (Le Monde). A Agence France Press (AFP) é um dos casos.

Com o objetivo de quebrar a difusão de notícias falsas em França, a AFP criou a
sua própria secção de “fact-checking”, alargando-se numa rede líder neste campo
desde 2017 por todo o mundo. Fabrice Fries, presidente da AFP explica que “a
agência teve de fazer a sua parte na luta contra a desinformação e portanto, em
menos de três anos, montou uma equipa de 100 agências de «fact-checking» em
tempo integral, que cobrem 50 países e produzem verificações em 23 idiomas até o
momento”.

“No entanto, a luta deve ser coletiva, todos têm a sua parte. O «fact-checking»
é apenas uma parte da resposta, que já tem mostrado a sua eficácia. A AFP, por
exemplo, publicou 2.500 artigos de verificação apenas sobre a pandemia de
Covid-19: isso significa que há poucas notícias falsas, de qualquer área, que
escapem a este trabalho de verificação”.


Fabrice Fries, presidente da AFP, numa conferência sobre o papel global das
agências de notícias na era de notícias falsas. (Foto: Sarah Graham / FCC)

No processo de reconhecimento, Rémi Banet, jornalista e fact-checker na agência
AFP em França explica que há “o uso de diferentes métodos e ferramentas para
verificar as informações. Quando verificamos fotos e vídeos, por exemplo,
realizamos uma procura inversa das imagens, por motores de busca (Google,
Yandex) ou com ferramentas como o InVid-WeVerify, que foi co-desenvolvido pela
AFP, para encontrar a origem da imagem. Frequentemente, temos que localizar
geograficamente as imagens para verificar onde foram tiradas”.

Para além destas ferramentas os jornalistas, de forma individual e independente,
reúnem em contas próprias as páginas de redes sociais que fazem a distribuição
em massa do falso conteúdo. “Os jornalistas ao serviço da verificação da AFP
conduzem a sua própria monitorização: na minha parte, por exemplo, criei uma
lista no Twitter de várias centenas de contas que compartilham regularmente
informações falsas ou já compartilharam informações falsas. Caso contrário,
usamos a ferramenta CrowdTangle para criar listas de grupos do Facebook que
compartilham informações falsas”, frisa Rémi.

A verdade é que a verificação de factos se impõe apenas como a ponta do
icebergue no mundo da desinformação. “Somos apenas parte da resposta ao problema
das notícias falsas. Essa luta também deve envolver a literacia mediática. Nesse
sentido, tentamos explicar o máximo aos nossos leitores como verificamos
informações falsas (ferramentas, métodos), para que eles próprios possam
aprender a verificar as afirmações que veem na internet, por exemplo”, diz o
jornalista.

Paulo Pena, jornalista e fundador do Investigate Europe também defende que as
agências de “fact checking” não são, por si só, suficientes para resolver o
problema.



Vídeo: “O fact-checking, como mecanismo de combate às fake news, tem vários
problemas”, argumenta Paulo Pena


No controlo da disseminação de informação falsa, Vitória Moreno Gil acrescenta
que, acima de tudo, “a questão não tem tanto a ver com o número de plataformas
de verificação de factos, mas sim com a qualidade do seu trabalho. No entanto,
tem de ser ter em conta que as organizações de verificação não são por si mesmas
a solução para problema de desinformação. É necessário um trabalho conjunto
entre governos, académicos, instituições de ensino e meios de comunicação para
combater a disseminação de notícias falsas e a sua viralização nas redes sociais
e de mensagens instantâneas como o WhatsApp”.


A LEI QUE SEGURA A DESINFORMAÇÃO

“Se não se conseguir ter um bom antídoto na boa informação, as «fake news» podem
acabar por dominar o nosso debate público”, refere o jornalista Paulo Pena. A
mesma ideia é partilhada por jornalistas, investigadores e académicos da área,
que reconhecem a necessidade de promover o trabalho das instituições públicas e
o bloqueio à informação falsa por parte de plataformas como as redes sociais.

Na União Europeia, desde 2015 que o tema da desinformação online tem motivado
ações práticas para a proteção dos valores dos sistemas democráticos. Em 2018,
foi criado um Grupo de Peritos de Alto Nível para fazer o aconselhamento sobre
iniciativas políticas para o combate às “fake news” e à desinformação
disseminada em meios online, mas é a criação e promoção de planos, estudos e
iniciativas que tem garantido a diferença nos últimos anos.

Uma das iniciativas é o Observatório Europeu dos Media Digitais (EDMO). Miguel
Poiares Maduro, ex-ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional de Portugal e
presidente atual do EDMO, descreve o trabalho do consórcio.



Vídeo: Miguel Poiares Maduro sobre o trabalho do Observatório Europeu dos Media
Digitais


No EDMO estão presentes sete observatórios de investigação espalhados pela
Europa, com a criação em breve de um oitavo, o IBERFIER, um observatório ibérico
que desenvolverá o trabalho a partir de setembro de 2021.

Vitor Tomé, investigador, é um dos responsáveis do projeto financiado pela
Comissão Europeia que se diferenciará “a nível cultural, porque se vai centrar
nas línguas portuguesa e castelhana. É importante porque permite a investigação
do tema num projeto que se sabe quando começa e não se sabe se acaba”.

Em Portugal, o tema das “fake news“ foi discutido em 2019 quando foi debatido
pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), que sugeriu ao
Parlamento Português legislação que pudesse punir quem promove e cria correntes
de “fake news”. A verdade é que, em 2021, o Presidente da República, Marcelo
Rebelo de Sousa, promulgou a “Carta de Direitos Humanos na Era Digital”,
assegurando o cumprimento em Portugal do “Plano Europeu de Ação contra a
Desinformação”, em que qualquer cidadão tem o direito de fazer queixa à entidade
competente (no caso português, a ERC).

Já a nível legislativo, em França, a Lei da Liberdade de Imprensa consagra o
combate à criação e difusão de notícias falsas com multas que podem chegar aos
45.000 euros para os casos que sejam suscetíveis de perturbar a paz pública e
135.000 euros para os casos que sejam suscetíveis de perturbar a disciplina ou a
moral das Forças Armadas.

Por outro lado, em Espanha, em março de 2021, foi apresentado um novo plano de
combate ao cibercrime, que coloca as “fake news” nas dez principais ameaças uma
vez que, de acordo com o Digital News Report Espanha 2020, 65% dos entrevistados
espanhóis afirmam que se preocupam por não saber distinguir o que é verdadeiro
do que é falso na Internet.

Segundo o jornal El País, um documento disponibilizado em março de 2021 pelo
Ministério do Interior, enfatiza que a desinformação ganhou “importância
especial nos últimos tempos como um meio de minar a confiança nas instituições
do Estado, uma ameaça que impede o avanço de Espanha e da Europa. Nesse sentido,
o novo plano de combate ao cibercrime alerta para a possível utilização de
inteligência artificial”.


Cerimónia de apresentação da iniciativa de apoio à leitura “PSuperior”,
promovida pelo Jornal Público, novembro 2019 (Foto: Miguel Figueiredo Lopes/
Presidência da República)

Para além do que tem sido feito ao nível da legislação também as redes sociais e
plataformas da Internet têm, com o apoio de instituições e da União Europeia,
desenvolvido guias para combater as “fake news”.

O Código de Conduta da Comissão Europeia, apresentado em 2018 como forma de
monitorização e transparência nas práticas contra a desinformação, engloba um
acordo com as plataformas online Facebook, Google, Twitter e Mozilla. Também se
aliaram anunciantes e partes da indústria de publicidade, em outubro de 2018,
para a implementação de ações que impedissem a circulação de notícias falsas nas
suas plataformas (como o bloqueio de contas falsas ou o controlo de propaganda
política). Miguel Poiares Maduro refere que “a adesão das plataformas é
voluntária, mas há uma série de compromissos que têm de assumir. Ao nível da
transparência, tornar transparente as fontes de onde vem a informação ou se até
se o conteúdo se trata de propaganda política”.

Em maio de 2019, a Microsoft juntou-se ao plano, tal como a rede social TikTok,
em junho de 2020. A Google, por sua vez, tem vindo a trabalhar há vários anos
com o objetivo de reduzir o número de “fake news” nos resultados de pesquisa. A
revisão dos algoritmos e a contextualização da informação através de fontes
reconhecidas são algumas dessas medidas, que ganharam ainda mais destaque em
2021, quando a gigante da Internet anunciou o investimento de 25 milhões de
euros para o novo Fundo Europeu para os Media e Informação criado pela Fundação
Gulbenkian e o Instituto Universitário de Florença. Este projeto visa, acima de
tudo, controlar a desinformação e impulsionar projetos de literacia mediática e
de verificação de factos.

Por outro lado, o Twitter, já conhecido por bloquear, suspender ou apagar os
tweets de Donald Trump (em janeiro deste ano a sua conta foi eliminada),
introduziu um novo sistema de verificação de dados em 2020, que permitiu à
plataforma sinalizar os tweets como conteúdo enganoso.

> After close review of recent Tweets from the @realDonaldTrump account and the
> context around them we have permanently suspended the account due to the risk
> of further incitement of violence.https://t.co/CBpE1I6j8Y
> 
> — Twitter Safety (@TwitterSafety) January 8, 2021

O Facebook adotou a mesma prática, com o aviso sobre a falsidade do conteúdo.
Nas contas da rede social em alguns países da Europa está também disponível um
“botão do contexto” que apela ao ao sentido crítico dos utilizadores sobre a
credibilidade de um artigo. Clicando nesse botão, são reveladas a fonte e outras
informações úteis para entender a origem da publicação.

Apesar dos esforços contínuos das plataformas nos últimos anos, o controlo por
parte das redes sociais aumentou sobretudo durante a infodemia da Covid-19
(termo utilizado pela Organização Mundial da Saúde para descrever a “pandemia”
de informação falsa que circulava sobre o novo coronavírus), levando o próprio
Facebook a avisar os utilizadores se tiveram contacto com “fake news” sobre a
pandemia.




LITERACIA MEDIÁTICA: A MELHOR SOLUÇÃO?

Apesar dos esforços das políticas públicas e redes sociais, a possível – e
melhor – solução a longo prazo, segundo jornalistas e investigadores, passa por
investir em educação para os media, a chamada “literacia mediática”.

A literacia mediática, enquanto capacidade de compreensão e conhecimento das
mensagens dos medias, nas suas inúmeras formas, é considerada uma das vias mais
eficazes no combate à desinformação. Fomenta a formação de um pensamento crítico
dos cidadãos em relação àquilo que circula em ambientes digitais. O investigador
Vitor Tomé explica o conceito.



Vídeo: Vitor Tomé sobre o conceito de literacia mediática


No relatório “A Multi-Dimensional Approach To Disinformation- Report Of The
Independent High Level Group On Fake News And Online Disinformation”, produzido
em 2018 para a Comissão Europeia, a literacia é considerada um dos grandes
pilares em que assenta a abordagem multidimensional da problemática da
desinformação.

Na Europa, promover a capacidade de discernir o que é verdadeiro e falso,
através da literacia, tem manifestado grandes diferenças entre países. Quem o
refere é José Ignacio Aguaded Gomez, professor e diretor da rede AlfaMed, uma
rede interuniversitária euroamericana de investigação sobre competências
mediáticas para a cidadania.

Reprodutor de áudio
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Áudio: José Ignacio Aguaded Gomez sobre a diferença do grau de literacia nos
países europeus

De facto, o que confirma as diferenças no nível da literacia mediática é o
relatório Media Literacy Index de março de 2021, da Open Society Institute –
Sofia. Este documento utiliza indicadores como o nível de educação, a liberdade
de informação, o estado dos media, a confiança na sociedade e o uso de
ferramentas de participação cívica para definir os vários níveis de literacia
mediática. O relatório faz ainda agrupamentos de países que apresentam práticas
similares.

User Dashboard
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Gráfico: Níveis de literacia mediática na Europa, segundo o relatório Media
Literacy Index de março de 2021


A justificação sobre o que marca a diferença entre os vários países do
continente europeu relativamente ao nível de literacia mediática passa por
vários fatores. Quem o explica é o investigador da área Vítor Tomé.



Vídeo: “Quanto mais conhecimento académico as pessoas têm, mais consomem media e
mais percebem acerca desse consumo”, resume Vítor Tomé


Na União Europeia, é o programa Audiovisual Media Services Directive (AVMSD) que
tem reforçado o papel da importância da literacia dos media nos estados-membros,
que, individualmente, também elaboram estratégias para promover esta educação.


Comissão Europeia apresenta Plano de Ação para combater a desinformação.
Dezembro de 2018

No caso de França, a preocupação em preparar a sociedade para a literacia
mediática é um dos maiores desafios. A promoção da literacia mediática no país
tem o foco essencialmente nos jovens e nas crianças, que apesar de não terem a
obrigatoriedade da disciplina de Educação para os Media nas escolas têm
professores que fazem facultativamente esse trabalho.

O Centro de Educação para a Media e a Informação (CLEMI), criado pelo Ministério
da Educação francês em 1983, é um dos responsáveis pela educação para os media e
a informação em todo o sistema educacional francês. Tem como missão promover a
compreensão e sentido crítico dos jovens no que diz respeito ao uso dos media,
em várias cidades de França.

> “(Em Portugal) o nível do qual partimos é um nível muito baixo, porque há no
> país um contexto quase único na Europa. Tivemos uma ditadura quase meio século
> que deixou todas as literacias muito baixas. A literacia mediática também.”

Lado a lado com a vertente educacional, há várias outras instituições
independentes que tentam travar a propagação de desinformação e tentam preparar
a sociedade para a literacia mediática. Um desses exemplos é o observatório
francês “De Facto”, financiado pela Comissão Europeia e pertencente ao
Observatório Europeu dos Media Digitais.

Já em Espanha, Victoria Moreno Gil alerta que “há poucos motivos para se ser
otimista, embora haja certas iniciativas muito interessantes que permanecem
ativas, essencialmente na Catalunha (a comunidade autónoma pioneira em Espanha
em termos de educação para os media), que deixam um raio de esperança”.

Para o fundador da rede AlfaMed, José Ignácio Aguaded Gomez, são as
investigações sobre o tema que podem ajudar a solucionar o problema da
desinformação.

Reprodutor de áudio
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Áudio: José Ignacio Aguaded Gomez sobre o papel das investigações na luta contra
a desinformação

Já para o presidente do Observatório Europeu dos Media Digitais, Miguel Poiares
Maduro, a resposta poderá vir sobretudo das plataformas.



Vídeo: “Eu acho que os algoritmos deviam ser mais responsabilizados”, defende
Miguel Poiares Maduro


Em Portugal, a literacia mediática tem sido cada vez mais um assunto em cima da
mesa, mas “o nível do qual partimos é um nível muito baixo, porque há no país um
contexto quase único na Europa. Tivemos uma ditadura quase meio século que
deixou todas as literacias muito baixas. A literacia mediática também”, refere o
investigador Paulo Pena.

Centros de investigação, como o MILOBs- Observatório sobre Média, Informação e
Literacia ou o Piccle- Plano de Intervenção Cidadãos Competentes em Leitura e
Escrita e ações de jornais como o Público (o jornal lançou um projeto que
pretende promover a literacia mediática nos jovens, o PSuperior), têm
“posicionado Portugal num bom nível”.

Em comparação com alguns países da Europa, estamos num nível avançado”, diz
Vitor Tomé. Contudo, o investigador sublinha que “a literacia dos media é muito
mais que combater a desinformação”. Neste momento, a solução mais viável é,
segundo os especialistas da área da literacia, a formação que é dada a crianças
e jovens feita por professores e educadores nas escolas, tal como refere José
Ignácio Aguaded.

Reprodutor de áudio
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Áudio: “É importante começar a literacia mediática nas crianças mais pequenas”,
sublinha José Ignácio Aguaded

Mas para combater a desinformação é necessário que o mal seja, desde logo,
controlado pela sua raíz. Além de revisões sobre as práticas das plataformas,
como permitir uma conta associada a um email por cada utilizador, por exemplo,
no Facebook, Paulo Pena alerta que “este é o melhor momento para o jornalismo se
repensar, porque a boa informação é e será sempre a que combate a má
informação”.

Instituições, plataformas, governos, jornalistas, cidadãos: todos têm um papel
para controlar o desenrolar desta (falsa) história, porque para evitar a
contaminação da “doença do século”, é necessário vacinar-se com a (verdadeira)
informação.

Imagem de capa: Centro Multimédia do Parlamento Europeu
Artigo editado por João Santos Duarte


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