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RESUMO DA COP 28: O SISTEMA FINANCEIRO EM EVIDÊNCIA PARA A CONSOLIDAÇÃO DA NOVA
ECONOMIA


GLOBAL STOCKTAKE CONCLUI QUE EXISTEM RECURSOS FINANCEIROS SUFICIENTES PARA
INVESTIMENTOS EM MITIGAÇÃO E ADAPTAÇÃO CLIMÁTICAS, ANALISAM FERNANDA DELGADO E
CÁCIA PIMENTEL

Opinião
14 de dezembro de 2023
Em Agendas da COP, Clima, Colunas e opinião, Internacional
A A
A A

Reset

Manifestação reivindica o fim da era dos combustíveis fósseis, durante a COP28
em Dubai (Foto: Kiara Worth/UNFCCC)




A COP28 dos Emirados Árabes já entra para a história como a Conferência das
Partes que apresentou diretrizes mais precisas para o enfrentamento das mudanças
climáticas. Ainda que sob fortes críticas, a última versão do Primeiro Balanço
Global do Acordo de Paris (First Global Stocktake) reafirma a solidez dos
recentes estudos científicos que concluem que a ação humana foi causa
determinante para o aquecimento médio global, que é da ordem de 1,1°C, e cujos
efeitos deletérios já podem ser sentidos em todas as regiões do planeta.

O relatório assinala que conservar, proteger e restaurar os ecossistemas
terrestres e marinhos é o caminho de sucesso prospectado para se alcançar o
objetivo de manter o aquecimento global em menos de 2°C.

 * Mundo está a caminho de aquecer 2,8°C

A ação humana traduz-se no crescimento populacional, na urbanização acelerada e
na intensificação das atividades econômicas com base em sistemas integrados de
infraestrutura, que exigem grande consumo energético, sobretudo de fontes
ofertadas pela indústria fóssil, amplificando a pressão sobre os recursos
naturais e elevando a urgência da adoção de práticas econômicas de menor
intensidade de carbono.

Hoje, os sistemas de infraestrutura respondem por 79% das emissões globais de
gases de efeito estufa. A nova economia, ou nova ordem econômica mundial verde,
que substitui processos produtivos de grande emissão de gases de efeito estufa,
exige pesados investimentos em tecnologias e infraestrutura sustentáveis, que
podem, em contrapartida, gerar um aumento de 4% ao ano do Produto Interno Bruto
(PIB) global até 2030.

Esses dados demonstram a importância de destinar olhares à infraestrutura
sustentável, a fim de torná-la uma realidade cada vez mais evidente. Dentre as
tecnologias e caminhos tecnológicos descarbonizadoras estão a eletrificação do
que for eletrificável, o uso do hidrogênio verde nos processos produtivos em
substituição aos vetores fósseis e o incremento da geração de energia eólica e
solar.

Segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA), a modernização desses
sistemas, por meio da adoção de fontes limpas e eficientes de energia e a
substituição gradual dos processos produtivos de alta intensidade de carbono
pode representar o cumprimento de 92% das metas dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS).

A IEA prevê que 70% da necessidade de infraestrutura necessária para a transição
energética está nos países em desenvolvimento. Contudo, a transição para
sistemas sustentáveis de infraestrutura enfrenta um obstáculo significativo: o
alto custo inicial.

A necessidade premente da adoção de novos processos produtivos ecoeficientes de
baixo carbono, que traga para baixo as emissões por quilo, tonelada ou barril
produzido, confronta-se não só com desafios financeiros substanciais, mas com
comprometimento de longo prazo.


FUNDOS E COMPROMISSOS CLIMÁTICOS

O Primeiro Balanço Global do Acordo de Paris enfrenta essas questões de forma
mais incisiva, embora contida, mas suficiente para validar os mecanismos e
instrumentos de descarbonização da economia desenvolvidos nas conferências desde
o Acordo de Paris.

 * O saldo da COP28 para combustíveis fósseis e mercados de carbono

O documento (.pdf) permite concluir que a chave para destravar a transição
energética e econômica e enfrentar as emergências climáticas é a atuação
preponderante do sistema financeiro.

O texto ressalta que os fundos climáticos provenientes dos compromissos firmados
por países, entidades privadas e filantropos, combinados com políticas públicas
eficiente e estabilidade regulatória conferida pelos estados, podem viabilizar
essa transição para um modelo mais equilibrado e harmonioso, assegurando um
futuro mais sustentável para as gerações vindouras.

Em resumo, respeitando as circunstâncias nacionalmente diferenciadas dos
signatários, os esforços para o enfrentamento do aquecimento climático
relacionados à transição energética deverão se concentrar em:

 * triplicar a capacidade de oferta de energias renováveis e duplicar a
   eficiência energética até 2030;
 * descomissionar usinas de carvão e acelerar os investimentos em sistemas
   energéticos de baixo carbono, permitindo a transição energética de forma
   equilibrada e segura;
 * acelerar a redução das emissões de metano; reduzir as emissões por meio da
   célere adoção de novas modais de transporte carbono zero ou de baixa emissão
   de carbono;
 * e, por fim, abandonar subsídios ineficientes à indústria fóssil que não sejam
   direcionados para a eliminação da pobreza energética.

Vale o destaque que os subsídios aos fósseis somaram sete trilhões de dólares em
todo mundo em 2022, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que carece,
por si só, de no mínimo, de reengenharia financeira para melhor distribuição dos
recursos.

Outros temas prioritários em destaque no documento referem-se à utilização
responsável dos recursos hídricos, produção de alimentos de modo sustentável e
regenerativo, medidas de erradicação da pobreza, investimentos em infraestrutura
e cuidados com comunidades tradicionais e vulneráveis.

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RECURSOS FINANCEIROS JÁ ESTÃO AÍ

O Balanço Global deixa claro que existem recursos financeiros suficientes para
suprir o investimento em projetos sustentáveis de mitigação e de adaptação
climáticas. No entanto, é urgente a necessidade de implementar novos arranjos
regulatórios e institucionais, como destacado no documento.

Organizações internacionais, entre elas o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional, bancos multilaterais, como o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), os Bancos Centrais, os Fundos públicos dos Governos
nacionais e as agências reguladoras desempenham, em conjunto, um papel crucial
na redução das barreiras e no direcionamento dos recursos para os projetos
climáticos e da transição energética.

Essas instituições não apenas oferecem linhas de crédito, mas também apoiam
iniciativas alinhadas com as necessidades específicas de cada localidade.

De fato, para garantir o sucesso dessas empreitadas, as políticas públicas
desempenham um papel crucial. Estabelecer um ambiente regulatório sólido é
fundamental para atrair investidores, proporcionando segurança jurídica e
estabilidade.

Além disso, outros mecanismos devem ser incentivados pelos países signatários,
como incentivos fiscais, promoção da autorregulação e adoção de protocolos de
boas práticas, além do reconhecimento para empresas que adotarem a
autorresponsabilidade corporativa e, proativamente, substituírem seus processos
produtivos de alta intensidade de carbono por práticas sustentáveis.

Este artigo expressa exclusivamente a posição das autoras e não necessariamente
da instituição para a qual trabalham ou estão vinculados.

--------------------------------------------------------------------------------

Fernanda Delgado é Diretora Executiva da ABIHV (Associação Brasileira da
Indústria do Hidrogênio Verde), professora na FGV e co-criadora dos projetos
“Sim, Elas Existem!” e “EmpodereC”.

Cácia Pimentel é Coordenadora Executiva do Centro Mackenzie de Políticas
Públicas e Políticas de Integridade e Pesquisadora Líder do Núcleo de Energia,
Sustentabilidade e Regulação; Doutora em Direito Político e Econômico; Visiting
Scholar na Columbia University; Mestre em Direito pela Cornell University.

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